Díli, 27 fev 2020 (Lusa) - As
dietas são pobres e pouco diversificadas em Timor-Leste, especialmente para
grupos vulneráveis, como mães e crianças, com a grande maioria da população a
não conseguir pagar alimentação adequadamente nutritiva, segundo um novo
estudo.
De acordo com o estudo, concluído
em dezembro e apresentado esta semana, a quase totalidade das famílias consegue
uma dieta básica, mas apenas entre 15 e 37% destas são capazes de pagar a dieta
mais nutritiva.
O relatório "Preencher a
lacuna de nutrientes em Timor-Leste" foi produzido em conjunto pelo
Programa Alimentar Mundial (PAM) e pela organização não-governamental timorense
Conselho Nacional de Segurança e Soberania de Alimentos e de Nutrição em
Timor-Leste (KONSSANTIL, em tétum).
Para o estudo, equipas de
pesquisadores analisaram os custos médios da dieta base e da dieta nutritiva em
vários municípios de Timor-Leste, deixando várias recomendações ao Governo
sobre como melhorar a alimentação da população.
No estudo considera-se que
"quase todas as famílias conseguem satisfazer as suas necessidades
energéticas", mas garantir uma "dieta nutritiva que satisfaça as
necessidades de energia, proteína e micronutrientes é incomportável para a
maioria das famílias".
Para analisar a situação do país,
no documento estabelece-se um padrão de "Custo da Dieta" e
considera-se que uma dieta que satisfaça minimamente os requisitos energéticos
de um agregado familiar com cinco pessoas custa entre 32 e 60 dólares por mês
(entre 29 e 55 euros).
Satisfazer as necessidades
nutricionais completas, porém, teria um custo muito mais elevado de entre 158 e
211 dólares por mês (entre 145 e 193 euros), valor elevado tendo em conta que o
salário mínimo do país ronda os 115 dólares (105 euros).
A análise teve em conta entre 98
e 128 alimentos disponíveis localmente nos municípios estudados, com os preços
da carne, do peixe e dos ovos a serem geralmente duas a quatro vezes mais caros
do que os dos cereais, leguminosas e vegetais.
As dietas são geralmente
centradas em alimentos base, como o arroz, com reduzida inclusão de vegetais e
alimentos de origem animal pelo que, considera-se no estudo, são necessárias
"intervenções que abordem a disponibilidade e o acesso a nutrientes e
alimentos nutritivos, bem como o poder de compra para fazer face ao fraco
acesso à dieta".
Mulheres grávidas e lactantes,
adolescentes e bebés e crianças pequenas correm "risco particular de
desnutrição em Timor-Leste devido às elevadas necessidades de nutrientes e à
baixa ingestão de nutrientes".
O custo destes nutrientes,
considera, poderia ser reduzido com suplementos de comprimidos, especialmente
em questões como ferro, ácido fólico e multivitaminas, sublinha-se.
Entre as recomendações, no estudo
defende-se um aumento do orçamento para a merenda escolar, o que ajudaria a
reduzir os gastos das famílias com a dieta mais nutritiva, garantindo melhor
alimentação para crianças e jovens.
"É possível aumentar a
percentagem de agregados familiares que seriam capazes de pagar uma dieta
nutritiva se for implementado um pacote de intervenções bem concebidas de
vários setores (educação, saúde, proteção social e agricultura)",
conclui-se.
"Estes resultados mostram
que a responsabilidade pela melhoria da nutrição não depende apenas de um setor
do Governo, mas é algo que só pode ser melhorado se todos os setores atuarem em
conjunto, de forma coordenada e complementar", sustenta-se.
Entre outros aspetos, no estudo
nota-se que "mulheres são particularmente afetadas pela má nutrição"
e que "melhorar a nutrição de bebés e crianças pequenas exigiria pequenos
investimentos a curto prazo" com benefícios duradouros.
No estudo aponta-se que
melhorar "a quantidade e a qualidade nutricional dos alimentos
produzidos" pelo setor agrícola, ainda predominantemente de subsistência,
"poderia melhorar o acesso a dietas nutritivas para todos" os
timorenses.
ASP // JMC
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