Primeiro-ministro Taur
Matan Ruak foi usado
Díli, 22 fev 2020 (Lusa) - O
secretário-geral da Fretilin, maior partido no parlamento timorense, considerou
hoje que a nova coligação anunciada hoje pelo ex-Presidente Xanana Gusmão
"não tem qualquer futuro" e acusou o seu líder de ter "usado"
o atual primeiro-ministro Taur Matan Ruak.
"Como é que numa coligação
de três partidos - CNRT, PLP e KHUNTO - o sacrificado foi só um deles? E
fundamentalmente o seu líder que é Taur Matan Ruak?", disse Mari Alkatiri
em declarações à Lusa, referindo-se à coligação do atual executivo.
"Taur Matan Ruak foi vítima
porque Xanana nunca aceita, na sua aliança, alguém que lhe diga não. Não vejo
futuro nenhum para esta nova coligação", referiu ainda.
Xanana Gusmão anunciou hoje uma
nova maioria parlamentar liderada por 34 dos 65 deputados do parlamento. A
coligação é liderada pelos 21 deputados do seu partido, o Congresso Nacional da
Reconstrução Timorense (CNRT), a força que liderava a Aliança de Mudança para o
Progresso (AMP), a coligação que apoiou o atual Governo.
Da AMP permanece o Kmanek Haburas
Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) -- cinco deputados --, entrando os cinco
deputados do Partido Democrático (PD) e os três dos partidos mais pequenos no
parlamento, Partido Unidade e Desenvolvimento Democrático (um deputado), Frente
Mudança (um) e União Democrática Timorense (um).
A nova coligação integra 34 dos
65 lugares do parlamento timorense, exatamente o mesmo número de deputados da
anterior.
Recorde-se que a rotura da AMP
ocorreu depois dos votos contra e abstenção dos deputados do CNRT que levaram
ao chumbo do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2020.
Depois desse voto contra a
proposta do governo, Taur Matan Ruak disse que a AMP "já não existe",
opinião ecoada numa entrevista televisiva concedida mais tarde por Xanana Gusmão
que mantém que a crise política se deveu à decisão do Presidente da República,
Francisco Guterres Lu-Olo (que é ainda presidente da Fretilin) se recusar a dar
posse a doze membros do Governo, quase todos do CNRT.
Mari Alkatiri diz que Xanana
Gusmão apenas está a usar esse argumento como "bode expiatório para os
seus fracassos", escusando-se a comentar sobre se o chefe de Estado
aceitará ou não esta nova maioria.
O líder da Frente Revolucionária
de Timor-Leste Independente (Fretilin) considerou que a nova aliança anunciada
hoje -- que marca o corte do CNRT com o PLP do atual primeiro-ministro -- é
"absolutamente mais fraca na sua base política".
"É pior que a AMP, porque
antes o inimigo era Mari Alkatiri, agora engrossaram as fileiras dos inimigos,
reduzindo as dos amigos. Xanana usa todos como instrumentos, como objeto de
negócio, como base para se afirmar", considerou.
"Mas, se o VIII Governo fez
menos ou mais, isso não é o mais importante. O mais importante é o comando de
Xanana Gusmão durante 12 anos, com 12 mil milhões gastos e 12 municípios na
miséria", acusou.
Alkatiri deixou ainda acusações a
Xanana Gusmão e ao seu partido de ter praticado coação para conseguir a aliança
hoje anunciada.
"A anterior coligação tinha
duas figuras históricas que iam fazer frente à Fretilin. Esta coligação tem só
uma figura histórica desgastada e desesperada, que é o Xanana Gusmão, e que
anda a construir coligações artificiais na base de coação e de corrupção",
acusou Mari Alkatiri.
"Eu digo isso, e se tiver
que o provar, eu provo", afirmou.
Se, até aqui, a Fretilin tinha
que fazer oposição "a duas figuras históricas" -- Xanana Gusmão e
Taur Matan Ruak -, disse, agora terá ao lado dos seus 23 deputados "Taur
Matan Ruak e mais oito deputados".
"A minha função é fazer uma oposição
cerrada no parlamento e fora dele, denunciar toda esta manipulação, toda esta
destruição do tecido social, esta corrupção mental e económica. Esta é a minha
função", considerou.
Alkatiri deixou igualmente
críticas a José Ramos-Horta, um dos arquitetos da coligação, que ajudou a
iniciar os diálogos entre as forças políticas, afirmando que o ex-Presidente
"tem sempre uma agenda pessoal a sobrepor-se à agenda nacional e
geral".
ASP // JPF
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