quarta-feira, 4 de março de 2020

Angola | Combater a nossa pobreza


Jornal de Angola | editorial

O anúncio do Programa Integrado de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza, com uma verba mensal de 25 milhões de kwanzas para os municípios implementarem, de acordo com a ministra de Estado para a Área Social, constitui um passo certo nesta altura. Sabemos todos que os níveis de pobreza nas comunidades aumentaram significativamente ao ponto de numerosas famílias, hoje, lutarem para assegurarem, pelo menos uma única refeição ao dia.

 Trata-se de uma situação que, mais do que causar vexame, deve mover-nos a todos no sentido da acção, da busca das melhores soluções, com o devido acompanhamento, correcções e controlo.

O Governo pretende contar com todos, para a efectivação do referido programa, nomeadamente os operadores privados, as organizações da sociedade civil, apenas para mencionar estas entidades. Na verdade, é incontornável o envolvimento das comunidades a todos os níveis para o sucesso do programa porque, como é fácil de compreender, são elas que melhor conhecem as dificuldades e problemas que vivem. Não vale a pena implementar projectos que, à partida possam parecer proveitos para as comunidades, mas que depois se mostram inadequados, inoportunos e muitas vezes desnecessários. Para o sucesso desse programa ambicioso e condicionando ou não a sua materialização, não há dúvidas de que vai ser sempre melhor ouvir as comunidades para se familiarizar com as suas aspirações e expectativas.

É bom que a agenda para combater a pobreza reflicta, sobretudo, o que as comunidades realmente pretendem e entendem como as melhores soluções para os problemas que enfrentam. Os valores culturais, as tradições e determinadas práticas, desde que não colidam com as leis e não firam a dignidade das pessoas, devem servir de guia ou referência na hora de implementar os projectos.

Somos de opinião de que diálogo, concertação e coordenação sirvam como estratégias de actuação para facilitar, inclusive, a aceitação de práticas vitais para retirar comunidades inteiras do ciclo da pobreza em que se encontram. Vale a pena insistir neste ponto porque, como sabemos, muitas vezes, a pobreza é também ou influenciada ou mesmo determinada por factores culturais.

Quando as famílias entendem que os filhos, em idade escolar, são mais úteis no trabalho da lavoura e nem concebem, como eventual mal menor, a possível conciliação entre o campo num período e a escola noutro, estarão apenas a contribuir para a reprodução do ciclo da pobreza. Quando as famílias relegam às meninas um papel diferente da dos rapazes, convivendo e aceitando, consciente ou inconscientemente, práticas como o casamento precoce das raparigas, estão apenas a reproduzir, directa ou indirectamente, o ciclo do empobrecimento.

Há práticas, nas zonas urbanas, que acabam por agravar a pobreza e que precisam de ser erradicadas, sob pena de o combate contra aquele fenómeno social subsistir como uma espécie de sina das famílias. Muitas vezes a pobreza resulta mais do mau uso do pouco que se tem do que da falta do muito que não existe. Um exemplo muito simples sobre o que se disse acima tem a ver com o desperdício alimentar que, mesmo nas comunidades pobres, tem sido uma realidade inclusive em tempos de crise. Outra realidade tem a ver com o consumo de bebidas alcoólicas que, igualmente nas colectividades mais carenciadas, não reduz em tempos de crise e que dificulta, de alguma maneira, o combate à pobreza.

Esperemos que essa iniciativa do Executivo resulte, com o envolvimento das comunidades, enquanto destinatárias do referido programa.

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