Temos de estar bem conscientes de
que os piores tempos estão a começar. Uma semana não é nada.
David Pontes | Público | editorial
A esmagadora maioria dos
portugueses parte hoje, pelo menos, para a sua segunda semana de quarentena
voluntária. É preciso sublinhar a “esmagadora maioria”, porque é essa a
dimensão da soma do gesto individual de cada um, que se amplia para ser num
motivo de orgulho nacional.
Não há razão para sermos
modestos. O silêncio das ruas fala por todos nós. Diz-nos como um país
agiu, sem que fosse necessário estado de emergência, e se soube confinar,
respeitando o apelo das autoridades e a evidência, até agora, irrefutável, que
o afastamento físico é a melhor arma que dispomos para evitar que o vírus se multiplique de
pessoa para pessoa.
Não são uns tantos
transeuntes na marginal ao sol, um ou outro estabelecimento que não
respeita as regras de distanciamento, que tiram dimensão ao que foi conseguido
até agora. Não só por pessoas singulares, mas também
por empresas, por estabelecimentos, por
autarquias, por grupos
de cidadãos que souberam improvisar e criar defesas necessárias para
poder prosseguir a vida. Na linha da frente vão continuar a estar os
profissionais da saúde, mas sem esta retaguarda o seu esforço seria certamente
muito mais complicado e ainda estaríamos longe de ter algumas razões para,
mesmo com cautela, sorrir
um pouco.
Ao mesmo tempo, implacável, o
calendário vai continuar a acrescentar dias, aos dias de paralisação económica
que o país, genericamente, está a sofrer. Quanto mais se prolongar a
quarentena, mais depauperados vamos estar para levantar a cabeça depois da
ameaça da epidemia se atenuar. Anunciam-se tempos muitos difíceis,
particularmente para os sectores mais desprotegidos da sociedade, mas isso não
nos pode fazer baixar a guarda.
Temos de acreditar que vai ficar
tudo bem. Mas a realidade, é que antes de ficar tudo bem, há muita gente que
vai passar mal. A nossa capacidade como comunidade vai continuar a ser testada
duramente, mesmo depois de passar o pior da crise do coronavírus. Aquilo que conseguimos
até agora tem de se repetir e repetir, temos de evocar o que já conseguimos
para continuar a fazer da esperança uma arma que nos faz dizer “vai ficar tudo
bem”, não como um lamento, mas como um desafio.
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