Díli, 27 abr 2020 (Lusa) -- A
nova aliança de maioria parlamentar timorense acordou no sábado votar hoje
contra a extensão do estado de emergência devido à covid-19, mas um dos
partidos, o KHUNTO, recebeu depois instruções contrárias do seu líder, segundo um
porta-voz.
"No sábado a aliança esteve
reunida e analisámos a questão do estado de emergência e concordámos, todos, em
não continuar o estado de emergência. Mas hoje vieram ordens em contrário do
KHUNTO", disse à Lusa António da Conceição.
Conceição, deputado do Partido
Democrático (PD) -- um dos seis que integram a aliança liderada pelo CNRT de
Xanana Gusmão -- e que tem sido porta-voz da aliança, referiu-se ao que diz
terem sido instruções dadas por José Naimori, líder do Kmanek Haburas Unidade
Nacional Timor Oan (KHUNTO).
"O que sucedeu é que houve
instruções do conselheiro máximo do KHUNTO, Naimori, para os seus membros
votarem a favor do estado de emergência, o que não veio coincidir com aquilo
que acertamos dentro da aliança", disse.
Conceição explicou que o assunto
foi discutido pelos líderes dos vários partidos num encontro no fim de semana
liderado por Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução
Timorense (CNRT).
"A aliança não considerava
que se devia renovar o estado de emergência porque até agora ainda não se
verificou nenhum caso local, são casos importados, e o Governo está a controlar
esta situação", disse.
"Além disso, por causa do
estado de emergência, e em termos da economia, quem não tem emprego está a
encarar dificuldades, pelo que defendíamos outras medidas", sublinhou,
notando que "tudo isso não convenceu o KHUNTO".
A Lusa tentou, sem sucesso até ao
momento, ouvir dirigentes do KHUNTO.
António da Conceição falava
depois de o parlamento nacional aprovar hoje o prolongamento do estado de
emergência por 30 dias como resposta à covid-19, com 37 votos a favor, 23 votos
contra e quatro abstenções.
A autorização foi aprovada com os
votos favoráveis da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente
(Fretilin), do Partido Libertação Popular (PLP) e do Kmanek Haburas Unidade
Nacional Timor Oan (KHUNTO).
O Partido Democrático (PD)
dividiu-se, com o líder do partido, Mariano Sabino a votar a favor e os
restantes três deputados (um estava ausente) a absterem-se, enquanto o único
deputado do Partido de Unidade Desenvolvimento Democrático (PUDD) absteve-se.
A votação mostrou uma fratura na
nova maioria de aliança parlamentar, com o KHUNTO, PD e PUDD a adotarem uma
postura diferente do CNRT que ficou apenas com a deputada da Frente Mudança e o
deputado da União Democrática Timorense (UDT) no bloco do não.
Recorde-se que o CNRT, KHUNTO,
PD, PUDD, UDT e FM integram uma nova aliança de maioria parlamentar que se
mostrou agora dividida na apreciação da autorização.
Questionado sobre se a votação de
hoje traduzia uma rotura na nova aliança, Conceição disse que o voto evidenciou
"um afastamento do KHUNTO em relação à coligação".
Conceição disse, no entanto, que
o seu partido tem recebido informações de que o Governo poderá ser alvo de uma
remodelação que veria a saída dos membros do executivo do CNRT, mantendo-se os
membros do KHUNTO "e entrando, possivelmente "membros da
Fretilin".
Questionado sobre o porquê da
divisão na sua própria bancada, Conceição disse que a decisão tem a ver com uma
proposta do PD ao primeiro-ministro para que envolva os líderes históricos
timorenses no combate à covid-19.
Essa proposta, que foi hoje
entregue a Taur Matan Ruak, defendia que o primeiro-ministro continuasse
"a exercer as suas funções no que toca aos atos governativos", sendo
Xanana Gusmão chamado ao papel de "coordenador para atividades da
covid-19", o ex-Presidente José Ramos-Horta fosse envolvido na
campanha internacional para conseguir cooperação e o secretário-geral da
Fretilin, Mari Alkatiri, "se juntasse ao Governo para apoiar em planos de
transição e prioridades" para o período depois da emergência sanitária.
"Depois dos votos do KHUNTO
vimos ainda que o PD se associasse ao CNRT continuaríamos a não ter maioria
para impedir o estado de emergência", explicou.
"Decidimos que Mariano
Sabino votaria a favor para poder manter o diálogo com o primeiro-ministro e
que os restantes nos absteríamos para mostrar que continuamos com a nossa
posição ligada à aliança", explicou.
Xanana Gusmão, disse António da
Conceição, mostrou-se "muito cooperativo em relação à sua participação na
coordenação das atividades da covid-19 porque, como cidadão, continua a querer
participar no apoio à população".
Timor-Leste tem atualmente 22
casos ativos de covid-19.
A nível global, segundo um
balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de
204 mil mortos e infetou mais de 2,9 milhões de pessoas em 193 países e
territórios.
Perto de 800 mil doentes foram
considerados curados.
ASP // VM
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