terça-feira, 28 de abril de 2020

Capitalismo na UCI a sobreviver com ventiladores...


Strategic Culture Foundation

A pandemia de Covid-19 está a desencadear salvamentos (bailouts) obscenos de indústrias e companhias ocidentais, bem como bóias de salvação para magnatas bilionários.

É grotesco que milhões de trabalhadores sejam postos em lay off por corporações que estão a receber fundos dos contribuintes. Muitas dessas corporações acumularam triliões de dólares em paraísos fiscais e contribuíram com zero para o tesouro público. Mas estão a ser salvas devido às paralisações na economia decorrentes da crise do Covid-19.

Por que os bancos e as corporações não estão a ser forçados pelos governos a pagar aos seus trabalhadores em licença médica ou em confinamento? É porque governos são comprados e pagos por servidores dos um por cento do topo. Alguns líderes políticos são a personificação dos um por cento, como Donald Trump e membros do Congresso dos EUA.

Assiste-se agora à maior orgia de dinheiro fácil nos EUA, onde o governo Trump e o Congresso aprovaram a emissão de triliões de dólares para escorar corporações e bancos. Enquanto isso, são lançadas migalhas a milhões de trabalhadores e suas famílias.

Em apenas cinco semanas, o desemprego atingiu estarrecedores 26,4 milhões de pessoas nos EUA – e isso é o número oficial. O nível real sem dúvida é muito mais alto. É relatado que as perdas de empregos liquidaram todos os acréscimos que haviam sido obtidos na última década desde a crise financeira de 2008. Na crise actual, o governo dos EUA organizou salvamentos de triliões de dólares para bancos e indústrias como fizera em 2008-2009. Não durariam senão até à farra seguinte.

Na verdade, isto era um padrão familiar no século passado, em que a economia era continuamente salva da ruína pelo governo a expensas de trabalhadores comuns, pequenas empresas e contribuintes. O resgate recorrente é a prova de que o sistema de capital privado e dos supostos mercados livres são um mito.

O sistema tipicamente privatiza o lucro para uma elite e socializa as perdas para a massa do povo. Tem sido sempre uma versão do "socialismo para os ricos".

No passado distante, o salvamento do capitalismo em colapso foi conduzido com um certo grau de democratização e progresso social. Na era do New Deal de Roosevelt, na década de 1930, pelo menos a intervenção do governo fez um longo caminho para reintegrar os trabalhadores e seus direitos, apesar da feroz oposição dos capitalistas. Ao longo das últimas décadas, no entanto, o resgate do capitalismo teve uma ênfase cada vez maior em aplicar dinheiro e empréstimos em corporações e investidores enquanto trabalhadores comuns são marginalizados. Este processo de desfalque atingiu novas alturas no crash de 2008. Agora, sob o comando de Trump, a pilhagem tornou-se lendária. Deveria ser sublinhado no entanto que a corrupção tem o endosso bipartidário tanto de republicanos como de democratas. Eles são realmente um só partido ao serviço do big business.

Como Eric Zuesse comentou esta semana numa análise pormenorizada aqui publicada, o "salvamento feito de cima para baixo" do Covid-19 nos EUA resultará em ainda mais desigualdade social e, finalmente, mais disfunções na economia americana daqui para frente. "O resultado portanto será colapso económico e talvez mesmo revolução", assinala Zuesse.

É indiscutível que o capitalismo é um sistema fracassado tanto nos EUA como na Europa. A pandemia do Covid-19 e o seu impacto social desastroso de doenças e mortes mostra que uma tal economia não pode organizar sociedades baseadas na satisfação das necessidades humanas. Ela ao invés funciona para enriquecer continuamente os que já são ricos enquanto cria um número cada vez maior de pobres e destituídos. Esta polarização crónica da riqueza foi apontada por muitos críticos do capitalismo, incluindo Karl Marx, e mais contemporaneamente por economistas progressistas como Richard Wolff e Thomas Picketty.

É justo descrever o capitalismo corporativo (ou socialismo para os ricos) como uma patologia que produz muitas outras patologias, incluindo privações, crime, insegurança, danos ecológicos, militarismo, imperialismo e, finalmente, guerra. Ironicamente, um vírus está a revelar este sistema patológico. E está, inevitavelmente, a forçar o surgimento de uma cura.

É hora de abolir este sistema parasitário e implementar algo mais civilizado, eficaz, sustentável e democrático. Esta é a tarefa de pessoas organizadas que combatem pelos seus interesses. A ilusão de salvar um sistema fracassado e doente deve ser sacudida de uma vez por todas.

24/Abril/2020

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/...

Este editorial encontra-se em https://resistir.info/

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