Depois do ataque a um estaleiro
na província de Manica, "Junta Militar" ameaça sabotar mais
investimentos nacionais e estrangeiros caso o Governo não resolva os problemas
dos guerrilheiros dissidentes da RENAMO.
O líder da autoproclamada
"Junta Militar" da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Mariano
Nhongo, reivindicou o ataque de segunda-feira (06.04) a um estaleiro
de madeira na província de Manica. Um cidadão tailandês foi morto no ataque
e sete veículos foram incendiados, segundo a polícia.
Mariano Nhongo promete continuar
com os ataques se o Executivo não avançar já com o processo de Desarmamento,
Desmobilização e Reintegração (DDR), estagnado há meses. Os alvos, segundo o
líder do grupo dissidente, seriam investimentos nacionais e estrangeiros:
"O Governo deve resolver o problema da Resistência Nacional Moçambicana. Sem isso, em Moçambique, há-de haver problemas, irmão, nós aqui não temos
cadeiras, nada, toda a madeira está a ir para a China a fazer o quê? Este país
não é de chineses".
Em declarações à imprensa, ao
telefone, Mariano Nhongo disse que Moçambique não pode continuar pobre
enquanto há muitos recursos naturais a serem explorados por estrangeiros, sem
beneficiar as comunidades locais.
"Todos os empresários
internacionais, alguns estão no mato a explorar pedras, madeira e a mandar para
os países deles, [para a] China. Nós repudiamos isso. Não gostamos dessas
brincadeiras", afirmou o líder da "Junta Militar".
Esta terça-feira, a polícia
confirmou o ataque em Matarara, atribuindo-o a "homens armados da
RENAMO". O caso está a ser investigado, de acordo com o porta-voz do
comando provincial de Manica, Mário Arnança: "A polícia ativou todas
linhas operativas ao seu dispor e estão a desdobrar-se no terreno".
Troca de acusações
A autoproclamada "Junta
Militar" exige a renúncia do presidente da RENAMO, Ossufo Momade, e
contesta o acordo de paz assinado em agosto por Momade e pelo Presidente
moçambicano, Filipe Nyusi.
O grupo rejeita ainda que
guerrilheiros da RENAMO possam apoiar o Exército no combate aos insurgentes na
província de Cabo Delgado - um alegado acordo entre a RENAMO e o Governo
moçambicano denunciado por Mariano Nhongo e já desmentido pelo maior partido da
oposição.
"Nós não temos nenhum acordo
com o Governo para apoiar as operações do exército em Cabo Delgado. Isso não
passa de um 'bluff' e uma tentativa de manipulação", disse o porta-voz da
RENAMO, José Manteigas, em declarações à agência Lusa, na semana passada, reiterando
que Mariano Nhongo já não faz parte da RENAMO.
"Querem levar-nos para as
bases para Cabo Delgado, isso não vai acontecer. O Governo deve seguir aquilo
que tinha negociado com Dhlakama, é naquilo que nós estamos", voltou a
frisar Nhongo, esta terça-feira.
Os ataques que ocorrem no centro
de Moçambique desde meados de 2019 já levaram à morte de mais de duas dezenas
de pessoas. Em fevereiro, o Conselho Cristão de Moçambique manifestou-se
disponível para mediar a crise interna na RENAMO, mas Mariano
Nhongo rejeitou esta hipótese, acusando o Governo de ignorar as suas
exigências.
A RENAMO, por sua vez, tem vindo
a defender que "a questão Nhongo é uma questão do Estado". Em
entrevista à DW África, em janeiro, Ossufo
Momade recusou-se terminantemente a dialogar com o líder da "Junta
Militar", deixando claro que Mariano Nhongo não representa nada no
partido.
Arcénio Sebastião (Beira) |
Deutsche Welle
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