A
China organizou um grande exercício militar e, dias depois, os EUA lançaram o
seu e, pela primeira vez em seis anos, destacaram dois porta-aviões. Tensão ao
rubro entre as duas superpotências.
Pequim
não gostou de saber que dois porta-aviões americanos iam navegar as águas do
Mar do Sul da China pouco depois de serem atravessadas pela sua Marinha e
garantiu estar pronta a enfrentar o desafio dos Estados Unidos. Esta medição de
forças acontece num momento de tensão entre as duas potências rivais na
região Ásia-Pacífico, multiplicando as possibilidades de deflagração.
“Os
EUA destacaram intencionalmente militares para exercícios de grande escala no
Mar do Sul da China, para mostrar a sua força”, disse esta segunda-feira o
porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian.
“Eles têm segundas intenções. Os EUA estão a criar divisão entre as nações da
região e a militarizar o Mar do Sul da China”.
A
China organiza todos os anos exercícios militares marítimos na região, que
servem sobretudo para mostrar o crescente poder marítimo chinês numa região em
que os
números de compra de armamento têm aumentado de ano para ano (representou
28% do total mundial em 2018) e há
inúmeras disputas territoriais.
O
mais recente exercício decorreu entre a passada quarta-feira e domingo nas
imediações das Ilhas Paracel, disputadas pela China, Taiwan e Vietname, sem
que Pequim avançasse mais pormenores para além de terem sido “intensivos”. Mas
sabe-se que os exercícios anteriores tiveram um inimigo imaginário munido de
vários porta-aviões.
Por
sua vez, o exercício militar americano acontece dias depois e tem o objectivo
de “mostrar um sinal claro” aos parceiros
e aliados de que os EUA estão “empenhados na estabilidade e segurança” da
região da Ásia-Pacífico, disse em entrevista o almirante George Wikoff,
comandante do grupo de ataque liderado pelo porta-aviões USS Ronald Reagan,
citado pelo South China Morning Post.
Uma
assertividade americana dedicada à permanente presença militar
da China na região, que tem levantado receios entre os aliados dos EUA, disse
o almirante. E foi também por isso que o porta-aviões USS Nimitz realizou
em Junho exercícios no Mar das Filipinas.
O
Pentágono, ao anunciar o exercício, salientou que o objectivo era “defender o
direito de todas as nações a voar, navegar e operar onde quer que a lei
internacional o permita”, numa clara
crítica à posição soberanista chinesa sobre o Mar do Sul da China. Pela
primeira vez em seis anos, foram destacados dois grupos liderados por
porta-aviões, o USS Ronald Reagan e o USS Nimitz, com
um total de 12 mil marinheiros. Também houve bombardeiros envolvidos no
exercício militar, descolando de bases aéreas americanas nas proximidades.
Sublinhar
diferenças
“As
diferentes escalas de poder de combate demonstradas pela Marinha chinesa e a
Marinha dos EUA será visível. Isso envia sinais militares e geopolíticos à
China e à região”, disse à CNN Carl Schuster, antigo director de operações do
Comando de Informações Conjunto do Pacífico.
Não
é de agora que os analistas dizem ser provável a eclosão de um conflito entre
Washington e Pequim no Pacífico, dada a disputa de influência directa e a
existência de inúmeros diferendos territoriais entre a China e os aliados dos
EUA.
Navios
de guerra americanos e chineses já estiveram relativamente próximos e não se
registou nenhum incidente. “Eles viram-nos e nós vimo-los”, disse à Reuters o
almirante James Kirk, do USS Nimitz. “Qualquer presença de
porta-aviões americanos na região é permitida pelo Exército de Libertação
Popular”, escreveu no Twitter o Global Times, jornal do Partido Comunista
Chinês.
“A
China já experimentou ameaças vindas dos EUA com o destacamento de vários
porta-aviões”, escreveu Wang Yunfei, oficial da Marinha chinesa reformado, num
artigo publicado no site da Phoenix Television, um canal com capital
do Estado chinês. “A determinação da China para salvaguardar a sua integridade
territorial, soberania e interesses marítimos não vai enfraquecer depois desta
ameaça dos EUA. Os militares chineses estão preparados para lidar com ela com calma”.
Há
anos que a tensão entre os EUA e a China na Ásia-Pacífico é patente. Os
Estados Unidos têm realizado
cada vez mais operações aéreas e marítimas, para reafirmar a liberdade de
navegação, próximas de territórios disputados pela China, e levado a cabo
operações marítimas com os seus aliados, como o Japão e Singapura. E, por sua
vez, Pequim endurece
a sua presença militar na região e investe na sua Marinha, já superior em
número à americana mas inferior em qualidade.
Ricardo Cabral Fernandes |
Publico
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