Francisco
Louçã considera ser difícil antecipar o que vai resultar do Conselho Europeu e
releva o poder de veto dos 27 quanto à resposta à crise pandémica. "É
preciso um acordo entre todos".
Frisando
ser "muito difícil" saber o desfecho da reunião dos 27
Estados-membros em Bruxelas, Francisco Louçã apontou a "força
de Merkel" como uma condição política favorável ao acordo. A
chanceler alemã "está a um ano de eleições, 15.º ano de mandato, e se
teve uma queda de popularidade em 2015 quando abriu as portas à entrada de
refugiados, hoje está no pico da sua força eleitoral", destacou no seu
habitual espaço de comentário na SIC.
A
condição desfavorável, porém, "é que Merkel com Macron foram
derrotados duas vezes em duas questões decisivas". Uma deles, lembrou o
economista, foi a escolha do presidente da Comissão Europeia e a outra a
escolha do Eurogrupo.
Agora,
contudo, "não se trata de uma votação, cada país tem muito mais poder, não
é poder de voto, é um poder de veto", destacou, frisando que "é
preciso um acordo entre todos".
As
dificuldades em chegar a um acordo poderiam vir de Orbán, dado que a
Hungria tem sido pressionada "para que haja o cumprimento das regras
essenciais da democracia". Sobre a visita do primeiro-ministro português
a Orbán, Louçã considerou uma "imprudência
surpreendente" António Costa ter sugerido que "o problema das
condições políticas já não existiria".
No
entender do antigo dirigente do Bloco, António Costa teceu essas considerações
por se encontrar "muito pressionado", tal como Itália e Espanha, para
"conseguir um acordo", tendo em conta "a dimensão catastrófica
dos efeitos sociais e económicos que se vão arrastar ao longo do tempo onde
houve mais incidência de pandemia".
O
primeiro-ministro "sabe que vem uma vaga de desemprego, procura que haja
uma resposta tão breve quanto possível e tentou aplainar algumas dificuldades
como aquela que poderia ser suscitada por um veto de Orbán",
observou Louçã, considerando, no entanto, que "a questão estava
mais ou menos resolvida na UE", embora com "cinismo absoluto".
Ou seja, "a UE finge que impõe condições políticas a Orbán mas
essas condições são impraticáveis, não conseguem ser mobilizadas. Orbán sabe
que é um fingimento, protesta, mas, na verdade, sabe que não
acontece rigorosamente nada", analisou.
Em
suma, na ótica de Louçã, a pressão de António Costa para tentar
encontrar uma solução "levou-o a querer manifestar alguma simpatia pela
posição da Hungria e a meter-se numa grande alhada em Portugal", tentando
depois "justificar-se".
Todavia,
a maior resistência a um acordo a UE não vem da Hungria. "Por razões
económicas, vem da Holanda e de outros dois países: Suécia e Dinamarca",
defendeu Louçã, explicando que, embora a solução apresentada seja de um
montante presumivelmente de metade do que seria necessário, é
"significativo": 750 mil milhões, dos quais 500 mil milhões em
subsídios, sendo que a dívida será contraída, de forma inédita, pela Comissão
Europeia.
Os
líderes da União Europeia retomaram esta noite de sexta-feira os trabalhos
formais do Conselho Europeu que decorre em Bruxelas, em busca de um acordo
sobre o plano de relançamento europeu, após uma interrupção para contactos
bilaterais.
O
presidente do Conselho manteve designadamente encontros bilaterais com os
primeiros-ministros holandês, Mark Rutte, e húngaro, Viktor Orbán,
para tentar superar aqueles que constituem os principais obstáculos a um
compromisso entre os 27 em torno das propostas de um Fundo de Resolução e do Quadro
Financeiro Plurianual para os próximos sete anos.
Fontes
europeias indicaram que, nesta fase das negociações, as duas questões que
se afiguram mais complicadas de ultrapassar são a exigência da
Holanda quanto a um direito de veto à decisão de desembolsos dos apoios aos
Estados-membros - rejeitada pelos restantes 26 -, assim como a
condicionalidade das ajudas ao respeito pelo Estado de direito, que tem a
oposição de Hungria e Polónia, dois países que têm abertos contra si
procedimentos por supostas violações nesta matéria.
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ao Minuto | Imagem: © Global Imagens
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