sexta-feira, 31 de julho de 2020

Vigaro cá, vigaro lá… Realidade lusa deprimente

Cristina Figueiredo, no Curto do Expresso, salienta que “vão conhecer-se os dados do Instituto Nacional de Estatística sobre o impacto da pandemia na atividade económica do segundo trimestre (o do confinamento)”. Eis que já se sabe o impacto daquele referido trimestre. Foi brutal. Veja no Expresso, sob o título Economia portuguesa dá um trambolhão e cai 16,5% no segundo trimestre de 2020 

Também tu, bruto covid, dás pretexto para que nos ponham a pão e água? Não basta a Portugal a corrupção, os corruptos, os corruptores? Não nos basta o BES-Novo Banco e a “negociata” que envolve aquele banco-bom que tem sido e é tão mau? Não nos basta o regresso do fascismo por via da figura de proa Ventura? Tanta desgraça e azar não nos Chega? A nós, portuguesinhos formados nas artes do desenrascanço, que tratamos por tu a fome, a miséria, o trabalho escravo, as casa degradadas em que temos de sobreviver? Não basta saber e sentir na pele no estômago e nas carteiras (que nem temos) que em todas as horas, todos os dias, somos roubados… Promiscuidade entre políticos influentes e preponderantes… Enfim, o rol é imenso. E a ausência de vergonha aliada à indiferença de péssimos ordenados, abusos e permanentes carências sociais completam e são causa maior que nos leva a identificar as elites como os senhores que usam e abusam da corrupção, do conluio e do nepotismo… Dizer mais para quê, todos sabemos que assim é. Por mais que digam que não, por mais que mintam, assim é de facto. É o pão nossos de cada dia. 

“Isto está mau”, dirão. Agora é a crise filha do covid e o que está para resolver do transato – com mão de Passos, Cavaco e suas trupes… E depois?

Certo é que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Esse é o indicador infalível, que nos faz visualizar as elites como negreiros deste século dito da modernidade. Certo é que nunca vimos tanto aldrabão, tanto vigarista.

Adiante, siga para o Curto. Antes fazemos a referência a Lena d'Água & Banda Atlântida e o som... sobre vígaristas... lusos e outros. E a UE? Oh, a UE... Tem muito que se lhe diga. O esquema está montado, os cidadãos são meras peças de um xadrez que tem por objeto vantagens para os das elites, enganos, ilusões e desprezo para a maioria dos restantes cidadãos... Lambe botas e/ou escravos da modernidade.

O cenário, a realidade, é deprimente.

Bom dia, apesar de tanta vigarice. Saúde (cousa em que do setor já se vê tristemente a miséria de um SNS decadente e permanentemente atacado por mafiosos da chamada iniciativa privada em conluio com certos e incertos políticos). Pois.

MM | PG

 

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Nunca o Produto Interno foi tão Bruto

Cristina Figueiredo | Expresso

Os números estão prestes a sair. Daqui por uma hora, mais coisa menos coisa, vão conhecer-se os dados do Instituto Nacional de Estatística sobre o impacto da pandemia na atividade económica do segundo trimestre (o do confinamento), traduzido de forma seca, sem margem para eufemismos, nos algarismos que quantificam o PIB. A Comissão Europeia prevê uma contração de14,1%, mas uma análise do ISEG admite que possa mesmo chegar aos 20%. Seja qual for o valor, será uma queda recorde, a estilhaçar por completo as estimativas anuais do Governo - que apontavam, há dois meses, para uma queda de 6,9%, embora em junho o Banco de Portugal já referisse 9,5%, no início de julho a Comissão Europeia falasse em 9,8% e no último domingo, o sempre bem informado Marques Mendes antecipasse pelo menos 9%. E até António Costa, numa entrevista publicada ontem na revista Visão mas gravada há uma semana, perguntado se "acredita mesmo que o PIB só vai cair 6,9% este ano", desta vez modera o habitual otimismo: "Nós próprios temos vindo a evoluir nas nossas previsões. À escala mundial todas as previsões têm vindo a ser revistas em baixa e, salvo algum milagre, não seremos seguramente a exceção"-

Com efeito, e isto não é consolo para ninguém, não seremos. Nos EUA, os números (uma contração trimestral de 9,5% que, extrapolada para valores anuais, significa uma queda de quase 33%) não eram tão maus desde a Segunda Guerra Mundial: "Números do PIB revelam declínio recorde da economia americana", intitula em manchete o New York Times, acrescentando que "o colapso económico fez desaparecer cinco anos de crescimento, sem que haja recuperação à vista". Em Espanha a queda foi de 18,5%(!). E na Alemanha mais de 10%.

O impacto da Covid na economia é o tema desta manhã do programa Opinião Pública, na SIC Notícias, a partir das 11h.

OUTRAS NOTÍCIAS CÁ DENTRO...

Não fosse o PIB concentrar (compreensivelmente) todas as atenções e esta seria a notícia do dia: a auditoria à gestão do Novo Banco, que ainda na semana passada António Costa prometeu que seria conhecida até ao fim do mês, continua por concluir. A informação chegou às redações ao final do dia de ontem, através de um comunicado do ministério das Finanças que faz saber também que "no contexto deste atraso, o Governo considera que, até à conclusão da referida auditoria, não deverão ser realizadas outras operações de venda de carteiras de ativos improdutivos por parte do Novo Banco". Apetece lembrar aquele ditado bem português: "Depois de casa roubada...". Mas politicamente talvez seja mais correto aplicar aqueloutro: "Mais vale tarde que nunca".

"Cada cavadela, sua minhoca". Não é um provérbio mas uma expressão popular que serve como uma luva ao percurso, que já começa a ser longo, de frases infelizes da ministra da Cultura. Esta semana foi mais uma: questionada (pela SIC) sobre o número de artistas em dificuldades que estão a receber ajuda alimentar, Graça Fonseca escusou-se a responder com o argumento de que só estava ali para falar da aquisição pelo Estado de uma coleção de obras de arte contemporânea. E pôs ponto final à conferência de imprensa com esta delicadeza: "Muito obrigada e vamos beber o drink de fim de tarde". Hoje a ministra vai ao Primeiro Jornal da SIC. Aguardamos com expectativa.

Tardou mas chegou: a mesma Graça Fonseca emitiu ontem, quinta-feira, um comunicado a lamentar a morte de Bruno Candé, o ator de 39 anos assassinado no passado sábado por um septuagenário com uma arma ilegal aparentemente trazida do Ultramar. Um crime hediondo seja qual for a "motivação", mas que volta a tocar numa ferida longe de curada: há ou não racismo na sociedade portuguesa? Hoje ao final da tarde, em Lisboa e em Coimbra, realizam-se duas manifestações de homenagem ao artista. Amanhã é a vez de Porto e Braga. Domingo, em Lisboa, André Ventura (já preparado para quatro longos meses de campanha para as presidenciais de janeiro, como lhe conta o Expresso aqui) promete uma espécie de "contramanifestação".

Ontem ao final do dia soube-se que o Supremo Tribunal Administrativo indeferiu a providência cautelar pedida pela Associação Comercial do Porto para impedir a injeção de capital do Estado na TAP. Isto pouco depois de ser conhecido o novo presidente (interino) da companhia de aviação: Ramiro Moreira substitui Antonoaldo Neves.

Benfica e Porto disputam o final da Taça de Portugal. É só amanhã, mas hoje há treinos e conferências de imprensa para seguir. E por falar em Benfica, há mais um candidato à presidência do clube: é o reincidente Rui Gomes da Silva, que ontem se apresentou "contra o Benfica dos negócios obscuros, dos processos judiciais e da falta de resultados".

... E LÁ FORA

Um quarto do Bangladesh está debaixo de água, devido às chuvas torrenciais. Há milhões de pessoas desalojadas e sem nada (do já muito pouco que tinham - o Bangladesh é dos países mais pobres do mundo). Escreve-se no New York Times esta frase que obriga, tem de obrigar, a pensar: as pessoas menos responsáveis pelas alterações climáticas são as que mais sofrem as suas consequências.

Depois da Covid-19, Jair Bolsonaro está com uma infeção pulmonar, soube-se já esta manhã. A sua mulher, foi confirmado ontem, também testou positivo para a doença.

Ainda a doença que nos invade os dias: as restrições voltam a apertar no Reino Unido, em Madrid entrou em vigor uma multa de 100 euros para quem não usar máscara na rua e a OMS diz que é preciso convencer os jovens de que “não são invencíveis”, podem infetar-se e morrer (e infetar e matar).

Trump sugeriu adiar as eleições presidenciais norte-americanas previstas para novembro, alegando que se arriscam, na sua opinião, a ser "as mais imprecisas e fraudulentas da história", por causa do anormal número de votos por correio que se estima receber (consequência da pandemia). "Pequeno" problema: a data das eleições está inscrita na Constituição. Os dias não estão fáceis para o Partido Republicano. Ontem morreu Herman Cain, apoiante de Trump e idêntico "descrente" dos perigos do coronavírus. De Covid-19.

Entretanto, a Europa ficou de fora da compra massiva de doses da vacina (quando a houver). Estados Unidos, Reino Unido, China o Brasil foram mais lestos e entre todos asseguraram mais de dois mil milhões de doses, escreve o diário espanhol El Mundo

FRASES

"Procurar o Bloco Central é a mesma coisa que andar à procura de gambozinos", António Costa, primeiro-ministro

“Se o Chega evoluir para uma posição mais moderada penso que as coisas se podem entender”, Rui Rio, presidente do PSD

"O Chega também só aceitará conversar com um PSD que aceite ser oposição à séria e não a dama de honor do governo socialista", André Ventura, líder do Chega

"Hitler também invocou razões sanitárias", Alberto João Jardim, criticando a obrigatoriedade do uso de máscara nas ruas da Madeira

"Temos de derrotar este ´vacinonacionalismo' e temos que criar um verdadeiro compromisso mundial por um bem público global, por uma vacina dos povos", António Guterres, secretário-geral da ONU

O QUE ANDO A LER...

Num dos últimos Curtos fiz referência a uma entrevista do filósofo basco Daniel Innerarity, dada a pretexto da publicação do livro "Pandemocracia, uma filosofia da crise do coronavírus". Foi o cartão de visita para me abalançar à leitura da obra. Diz ele: "Desde o ponto de vista das pessoas, fala-se que as mais afetadas pela crise do coronavírus serão as mais vulneráveis, mas do ponto de vista ideológico, o mais afetado vai ser o populismo. Há três coisas que os líderes populistas detestam e que este tipo de crise revaloriza: o saber especializado, as instituições e a comunidade global". Haja esperança.

Na semana passada, outro filósofo (e jornalista), o francês Bernard Henry Levy, deu uma entrevista à revista do Expresso sobre o livro que acabou de publicar sobre tema idêntico: "Este vírus que nos enlouquece". Lá chegarei ao livro, por enquanto atenho-me à interessante conversa conduzida pelo Pedro Mexia, e a esta reflexão "fora da caixa": "Não é ao Estado que compete organizar a solidão. Se eu quiser a solidão, escolho os momentos em que quero estar sozinho, isso não compete ao Estado. Caso contrário vivemos numa ditadura".

...E A VER

Durante 10 anos (sim, leu bem) uma equipa do New York Times acompanhou o percurso de um soldado americano, pai (solteiro) de dois rapazes e o resultado dessa perseverante investigação, que começou sem saber se algum dia teria alguma história (e que história seria essa) para contar, pode ser lido e visto em versão resumida aqui ou no documentário estreado há dias na Netflix (trailer aqui). "Father soldier son" é um trabalho admirável, uma literalmente GRANDE reportagem sobre a guerra e os traumas que ela provoca não só em quem parte para a linha da frente mas em quem fica na retaguarda na expectativa do regresso daquele. O tema pode ser velho e gasto mas esta abordagem é única: o fio do tempo não foi concebido por nenhum argumentista e o guião é a realidade dos factos, aqui acompanhados ao longo de uma década. Fui até lá depois de ler a chamada de atenção que lhe fez, num post do facebook, o João Santos Duarte, ex-jornalista do Expresso, atualmente a residir na Turquia, onde é correspondente da TSF. O João é ele próprio autor de belíssimos trabalhos multimédia (muitos publicados no Expresso), que podem (e merecem) ser vistos nesta página: pt.joaosantosduarte.com.

Vou, finalmente, matar saudades do teatro. Estreou ontem e está em cena até 15 de agosto (sempre às 21h30), nas belas ruínas do convento do Carmo, em Lisboa, a peça "Rei João", de William Shakespeare. É uma das obras menores do génio britânico e, ao que parece, nunca encenada por cá. Segundo a sinopse, "propõe uma bela paródia dos corredores e bastidores do poder, regidos pelo único valor do proveito próprio" - um assunto que nunca perde atualidade, por mais séculos que passem. A encenação é de António Pires, a tradução e versão para palco de Luísa Costa Gomes.

E o Curto fica por aqui, neste último dia de julho em que, se fosse vivo, Mário Castrim, um dos grandes do jornalismo português, faria 100 anos. Amanhã, há Expresso nas bancas.Tenha um dia bom.

Gostou do Expresso Curto de hoje?

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