Com origem num golpe de estado, primeiro-ministro e presidente da república ditam "mudanças" |
Sociedade guineense e professores
reagem negativamente à decisão. Cidadãos questionam se país está preparado para
implementar a medida. Mas Executivo promete avançar e diz que tudo foi feito
com base nas leis.
Está instalada a polémica na
Guiné-Bissau, depois de o Governo ter decidido introduzir o ensino da língua
árabe nas escolas do país. Os argumentos usados para justificar a decisão
geraram um coro de críticas contra o ministro da Educação, Arceni Baldé.
Num vídeo posto a circular nas
redes sociais, o titular da pasta da Educação, ao justificar a iniciativa,
afirmou que um dos objetivos da implementação do ensino da língua árabe nas
escolas guineenses coincide com o seu desejo de "colocar os alunos
muçulmanos ao mesmo nível dos alunos das outras confissões religiosas."
O Movimento dos Cidadãos
Conscientes e Inconformados (MCCI), na voz do seu presidente, vê nas palavras
no ministro indícios de discriminação.
Para Sana Canté,
é preciso "condenar e denunciar a instrumentalização das
instituições do Estado para fomentar o tribalismo e a discriminação religiosa,
em particular, a tentativa de forçar a implementação do ensino árabe no
sistema educativo, de forma abusiva e ilegal, no mero ato de adotar a religião
muçulmana de poderes de domínio contra outras confissões religiosas."
Perante a contestação da
sociedade, o Ministério da Educação reagiu, em nota lida pelo seu porta-voz,
Amadu Uri Djaló: "A introdução da língua árabe no sistema de ensino
guineense não foi uma decisão exclusiva e unilateral do ministro da Educação Nacional
e Ensino Superior, doutor Arceni Abdulai Jibrilo Baldé. Foi, sim, uma decisão
do Governo da República da Guiné-Bissau, chefiado pelo engenheiro Nuno Gomes
Nabiam, que não é muçulmano, e os 22 membros dos seus membros não
são [muçulmanos]".
Estará o país preparado?
Os trabalhos já estão em curso
para a implementação da língua árabe nas escolas. O centro de formação de
professores "Tchico Té", em Bissau, abriu as inscrições para um curso
de bacharelato na língua. No entanto, oficialmente, ainda não há explicações
sobre de onde virão os professores de árabe ou como serão selecionados.
À DW África, Miguel Gama,
professor de língua portuguesa no "Tchico Té", levanta várias
questões: "Que trabalhos foram feitos para chegar a essa conclusão de que
é preciso, realmente, introduzir essa língua [árabe]? Vi também que vai começar
a formação de professores, ainda neste ano letivo, em língua árabe. As escolas
de formação de professores estão preparadas para isso? Os conselhos pedagógicos
dessas escolas fizeram trabalho de base? O que terá dito o INDE [Instituto de
Desenvolvimento da Educação] à volta disso? Teve a sua opinião ou estamos
perante uma decisão política?"
Miguel Gama não acredita que
essas "instituições académicas tenham dito algo sobre a
questão".
Medida impopular
Nas ruas, vários cidadãos ouvidos
pela DW África mostraram-se contra a decisão governamental.
"Acho que é muito cedo para
fazer isso. Mesmo que o Ministério [da Educação] tenha essa intenção, há
que haver preparação para tal, já que o ensino é um processo", disse o
cidadão Sabino Mendes.
A cidadã Juaira
Pereira estranha a decisão do Governo: "A língua árabe é muito
distante para nós, é uma coisa nova para nós. Eu estudava a língua e sei que é
muito difícil", afirma.
Francelino na Fia, outro
entrevistado pela DW África, também discorda do Governo. "A
introdução da língua árabe? Eu não sei como vai ser administrada, mas considero
que é uma decisão um pouco precipitada, devia ser com uma preparação
prévia", pondera.
Mas, como sublinha o porta-voz do
Ministério da Educação, Amadu Uri Djaló, a decisão é para cumprir e é
legal: "Esta medida consta do programa do Governo, que foi adotado
pelo Conselho de Ministros e submetido e aprovado na Assembleia Nacional
Popular (ANP), órgão legislativo máximo da República e fiscalizador de ação
governativa", pontua.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
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