Vários membros da oposição da
Guiné Equatorial criticaram hoje a recondução de Francisco Pascual Obama Asue
para o cargo de primeiro-ministro do país, assim como a composição do novo
executivo, que mantém alguns nomes da constituição anterior.
Em declarações à Lusa, Andrés
Esono, líder do partido Convergência para a Democracia Social (CPDS), fez uma
avaliação "negativa", considerando que "nada irá mudar na Guiné
Equatorial com este novo executivo", aprovado pelo Presidente Teodoro
Obiang Nguema.
"Há que ter em conta que
Obiang dissolveu o Governo anterior para nomear um novo com o objetivo de
enfrentar a crise económica e lutar contra a corrupção, uma vez que, na sua
opinião, o executivo dissolvido não foi capaz de conseguir os objetivos estabelecidos.
No entanto, longe de um Governo austero e com caras novas que apresentassem
ideias novas e inovadoras, formou um executivo com as mesmas pessoas",
afirmou Andrés Esono.
Um decreto presidencial divulgado
na terça-feira registava que Teodoro Obiang tinha reconduzido como
primeiro-ministro, "encarregado da coordenação administrativa",
Francisco-Pascoal Obama Asue, depois de este e o seu executivo terem
apresentado uma "demissão em bloco" no dia 14, considerando que
"não cumpriu os objetivos programáticos, o que sem dúvida causou a
situação de crise".
A composição do novo executivo
foi anunciada na quinta-feira, mantendo muitas das tutelas do Governo anterior.
Andrés Esono assinalou que
"aqueles que já o conhecem, sabem que ele [Obiang] nunca assinou os governos
tendo em mente os interesses do povo, mas sim em seu próprio benefício, da sua
família, ou dos que são fiéis à sua linha política".
A Obiang, a CPDS tinha exigido a
formação de " um Governo de emergência capaz de empreender reformas
políticas e legislativas, bem como de gestão económica e administrativa".
O advogado e ativista Lucas Olo
Fernandes, coordenador do Observatório Aprofort, promovido pela organização
não-governamental Transparência e Integridade (TI), afirmou que "a melodia
muda, mas a orquestra é a mesma".
"Trata-se, na minha opinião,
mais de um golpe do que de uma mudança. Na Saúde e na Informação, são
alterações sem importância. O mais relevante poderia ser no Trabalho, que era
detido por um antigo candidato à presidência pelo CPDS, Celestino Bakale, agora
do governante PDGE [partido de Obiang]. Agora é dirigido por Alfredo Mitogo,
que é de um partido satélite do PDGE", disse Lucas Olo.
O dirigente do Aprofort considera
que a situação social no país "vai ser complicada nos próximos meses"
e acredita que "surgirão movimentos sociais com mais apoios de muitos que
vão passar por dificuldades devido à situação económica".
Nesse sentido, Lucas Olo
Fernandes espera que "a repressão não aumente contra cidadãos e
políticos" no país africano.
O líder do Cidadãos para a
Inovação (CI), Gabriel Nsé Obiang, disse em declarações à agência Efe que
"a repetição de ministros do Governo anterior em pastas-chave reafirma que
nada mudou, que foi simplesmente um desvio político".
"O problema na Guiné
Equatorial não está na mudança de governos, mas no próprio sistema político,
que já está desatualizado. A solução é colocar o poder nas mãos do povo e
convocar eleições gerais", acrescentou Nsé, sublinhando que "a
oposição exigiu um Governo de concentração ou de unidade nacional e Obiang não
o aceitou".
Na tomada de posse de Obama Asue,
Obiang sublinhou que "razões económicas" justificaram a dissolução do
Governo anterior e que o novo executivo deve "procurar soluções
específicas e viáveis para resolver os atuais problemas enfrentados pelos
países do mundo e os problemas económicos".
O líder equato-guineense deu
várias recomendações ao chefe do executivo durante a cerimónia, incluindo o
controlo dos recursos do Estado, a luta contra a corrupção e Obama Asue fez
questão de sublinhar que apenas é "capataz".
"Tenho um chefe de Governo
que marca o ritmo. A única coisa que tenho de fazer é igualar o ritmo que o meu
chefe de Governo me fixa", afirmou ainda.
Desde a sua independência de
Espanha, em 1968, a
Guiné Equatorial tem sido considerada pelos grupos de direitos humanos como um
dos países mais repressivos do mundo, devido a alegações de detenção e tortura
de dissidentes e de fraude eleitoral.
Obiang, que tem liderado o país
desde 1979, quando derrubou o seu tio Francisco Macias num golpe de Estado, é o
Presidente em funções há mais tempo em todo o mundo.
A Guiné Equatorial integra a
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) desde 2014.
RTP | Lusa
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