domingo, 23 de agosto de 2020

Oposição da Guiné Equatorial critica composição pouco alterada de novo executivo


Vários membros da oposição da Guiné Equatorial criticaram hoje a recondução de Francisco Pascual Obama Asue para o cargo de primeiro-ministro do país, assim como a composição do novo executivo, que mantém alguns nomes da constituição anterior.

Em declarações à Lusa, Andrés Esono, líder do partido Convergência para a Democracia Social (CPDS), fez uma avaliação "negativa", considerando que "nada irá mudar na Guiné Equatorial com este novo executivo", aprovado pelo Presidente Teodoro Obiang Nguema.

"Há que ter em conta que Obiang dissolveu o Governo anterior para nomear um novo com o objetivo de enfrentar a crise económica e lutar contra a corrupção, uma vez que, na sua opinião, o executivo dissolvido não foi capaz de conseguir os objetivos estabelecidos. No entanto, longe de um Governo austero e com caras novas que apresentassem ideias novas e inovadoras, formou um executivo com as mesmas pessoas", afirmou Andrés Esono.

Um decreto presidencial divulgado na terça-feira registava que Teodoro Obiang tinha reconduzido como primeiro-ministro, "encarregado da coordenação administrativa", Francisco-Pascoal Obama Asue, depois de este e o seu executivo terem apresentado uma "demissão em bloco" no dia 14, considerando que "não cumpriu os objetivos programáticos, o que sem dúvida causou a situação de crise".


A composição do novo executivo foi anunciada na quinta-feira, mantendo muitas das tutelas do Governo anterior.

Andrés Esono assinalou que "aqueles que já o conhecem, sabem que ele [Obiang] nunca assinou os governos tendo em mente os interesses do povo, mas sim em seu próprio benefício, da sua família, ou dos que são fiéis à sua linha política".

A Obiang, a CPDS tinha exigido a formação de " um Governo de emergência capaz de empreender reformas políticas e legislativas, bem como de gestão económica e administrativa".

O advogado e ativista Lucas Olo Fernandes, coordenador do Observatório Aprofort, promovido pela organização não-governamental Transparência e Integridade (TI), afirmou que "a melodia muda, mas a orquestra é a mesma".

"Trata-se, na minha opinião, mais de um golpe do que de uma mudança. Na Saúde e na Informação, são alterações sem importância. O mais relevante poderia ser no Trabalho, que era detido por um antigo candidato à presidência pelo CPDS, Celestino Bakale, agora do governante PDGE [partido de Obiang]. Agora é dirigido por Alfredo Mitogo, que é de um partido satélite do PDGE", disse Lucas Olo.

O dirigente do Aprofort considera que a situação social no país "vai ser complicada nos próximos meses" e acredita que "surgirão movimentos sociais com mais apoios de muitos que vão passar por dificuldades devido à situação económica".

Nesse sentido, Lucas Olo Fernandes espera que "a repressão não aumente contra cidadãos e políticos" no país africano.

O líder do Cidadãos para a Inovação (CI), Gabriel Nsé Obiang, disse em declarações à agência Efe que "a repetição de ministros do Governo anterior em pastas-chave reafirma que nada mudou, que foi simplesmente um desvio político".

"O problema na Guiné Equatorial não está na mudança de governos, mas no próprio sistema político, que já está desatualizado. A solução é colocar o poder nas mãos do povo e convocar eleições gerais", acrescentou Nsé, sublinhando que "a oposição exigiu um Governo de concentração ou de unidade nacional e Obiang não o aceitou".

Na tomada de posse de Obama Asue, Obiang sublinhou que "razões económicas" justificaram a dissolução do Governo anterior e que o novo executivo deve "procurar soluções específicas e viáveis para resolver os atuais problemas enfrentados pelos países do mundo e os problemas económicos".

O líder equato-guineense deu várias recomendações ao chefe do executivo durante a cerimónia, incluindo o controlo dos recursos do Estado, a luta contra a corrupção e Obama Asue fez questão de sublinhar que apenas é "capataz".

"Tenho um chefe de Governo que marca o ritmo. A única coisa que tenho de fazer é igualar o ritmo que o meu chefe de Governo me fixa", afirmou ainda.

Desde a sua independência de Espanha, em 1968, a Guiné Equatorial tem sido considerada pelos grupos de direitos humanos como um dos países mais repressivos do mundo, devido a alegações de detenção e tortura de dissidentes e de fraude eleitoral.

Obiang, que tem liderado o país desde 1979, quando derrubou o seu tio Francisco Macias num golpe de Estado, é o Presidente em funções há mais tempo em todo o mundo.

A Guiné Equatorial integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) desde 2014.

RTP | Lusa

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