Manuel Carvalho Da Silva
| Jornal de Notícias | opinião
Setembro aí está à porta num
contexto nacional e internacional que não permite empurrar lixo para debaixo do
tapete, nem a mais pequena desatenção por parte do Governo ou das forças
políticas e sociais que não aceitam o agravamento das injustiças, das desigualdades
e dos bloqueios ao desenvolvimento do país.
Durante seis meses,
conscientemente, congelaram-se problemas à espera de melhores dias, o Estado
foi chamado a prestar proteção reforçada e a assegurar rendimentos a muitos
portugueses e, acima de tudo, a apoiar empresas que jamais sobreviveriam apenas
pelos seus próprios meios. Como se perspetivava, a partir deste fim de férias
(que imensos portugueses não tiveram) não é sustentável prosseguir aquelas
políticas nos moldes em que vinham a ser aplicadas. Os recursos são limitados e
está na hora de fazer escolhas na perspetiva de se encetar um plano estratégico
progressista para a saída da crise. No Orçamento do Estado para 2021, peça
primordial de opções de longo alcance, essas escolhas devem estar refletidas.
O país precisa de investimento
público e privado, de apoios ajustados a todos as formações e estruturas
económicas, mas é notória a existência de demasiados empresários entregues ao
velho vício da pedinchice ao Estado, escamoteando responsabilidades próprias.
Entretanto, eleva-se o coro ensaiado por "destacadas" figuras do
jornalismo e "líderes" de opinião, que visa colocar os trabalhadores
e o povo português sob a batuta da austeridade. Estas pessoas, em regra
privilegiadas, estão imbuídas da suprema e permanente tarefa de ensinar os
pobres a apertar o cinto.
A rentrée política este ano é
muito exigente. Necessitamos de soluções para problemas prementes: é um
imperativo proteger e reforçar (já) o sistema de saúde; abrir as escolas e
garantir aulas presenciais; reforçar a proteção da maioria dos trabalhadores no
ativo e os desempregados; preservar meios para apoios cirúrgicos a empresas nos
seus processos de retoma, de reestruturações ou de criação de novos projetos.
Nestas soluções, por experimentações calculadas, a ação do Estado será
fundamental, mas de igual relevo serão, também, a participação da sociedade e o
assumir de riscos e responsabilidades por parte das empresas.
As reivindicações fundamentais de
centenas de milhares de trabalhadores - dos setores público e privado - que
perante os duros impactos da pandemia foram considerados essenciais e que
continuam com salários de miséria e frágeis condições de trabalho devem ser
cumpridas. Sem hesitações, há que pôr de lado políticas de desvalorização interna
que impõem reduções de salários e cortes nos direitos e rendimentos do
trabalho. Entretanto, tenha-se presente que, quanto mais a Direita (ou partes
desta) descamba para posições retrógradas e fascistas, mais se enfraquece a
capacidade de mobilização dos cidadãos e mais crescem as reivindicações
parasitárias ao Estado.
Dados divulgados sobre a evolução
do défice público apresentam-nos, sem surpresa, mas com preocupação, uma quebra
das receitas e um aumento das despesas. Este cenário reclama maior atividade
económica e disponibilização de rendimentos na sociedade. O envolvimento
empenhado e responsável das empresas na obtenção destes objetivos será um
contributo para a própria salvação da maioria delas.
*Investigador e professor
universitário
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