Vídeo que mostra mulher a ser
executada por militares no norte de Moçambique causa revolta. "Executá-la
daquela maneira é contra tudo o que faz de nós moçambicanos", diz ativista.
Governo fala em investigação.
Uma mulher desarmada e nua a
caminhar numa estrada de uma área rural espancada por vários soldados. Esse foi
apenas o começo da barbaridade, o fim dessa mulher veio de uma chuva de balas.
O extremismo da crueldade foi tanto que mereceu mais rajadas de balas mesmo
depois de morta.
Trata-se de um vídeo que desde
esta segunda-feira (14.09) está a chocar outros seres humanos em Moçambique. Pelo
uniforme, parecem ser soldados das Forças de Defesa e Segurança (FDS) e pela
referência aos "shabab", pode indicar ser em Cabo Delgado.
Adriano Nuvunga, diretor do
Centro para o Desenvolvimento da Democracia (CDD), defende que "o Estado
moçambicano tem que iniciar uma investigação independente, envolvendo
personalidades credíveis da sociedade, não somente as FDS, para realizarem uma
investigação seria, apurar e responsabilizar".
Por outro lado é preciso lembrar
que há insurgentes infiltrados entre a população. Tal como se sabe que há
populares que os apoiam, dando-lhe guarida ou guardando o seu material.
Se por medo ou por empatia não se
sabe. Também costumam trajar uniforme das FDS que roubam durante os seus
assaltos as estruturas do Estado. Uma estratégia para confundir, que tem
surtido efeitos. Tudo isso torna um pouco difícil diferenciá-los das FDS.
O ativista Adriano Nuvunga
entende o seguinte: "Enquanto não compreendermos a situação difícil em Cabo Delgado que
estão a passar os militares, mas o Estado moçambicano, no concerto das nações,
concordou em utilizar a lei internacional que estabelece os parâmetros de
atuação das suas forcas em situação de conflitos. onde há pessoas suspeitas de
encobrir terroristas, como é o caso de Cabo Delgado".
As negações do Governo
O vídeo tornou-se viral poucos
dias depois das autoridades moçambicanas terem rejeitado categoricamente as
sistemáticas violações dos direitos humanos no palco da guerra. As denúncias
foram feitas pela ONG de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional,
também com base em vídeos similares. A confirmar-se que são, de facto, soldados
das FDS, a credibilidade das autoridades moçambicanas poderia cair.
Para o diretor do CDD,
"claramente aparecem evidencias de que são jovens das FDS que estão a
perpetrar esses atos bárbaros e desumanos. Aqui não há desculpas e não podem
haver desmentidos".
"Portanto, é urgentíssimo
que o Estado inicie uma investigação independente e credível, porque ao que
tudo indica trata-se de uma ponta do iceberg de coisas bárbaras que ao nosso
ver são elas que ajudam a por mais achas na fogueira, ao invés de apaziguar as
comunidades", diz.
E o ativista alerta: "O
nosso exército está a afastá-las mais e fazer com que sejam capturadas por
redes criminosas e por isso que o conflito esteja longe do fim".
A máxima "conquistar
corações e mentes" faz parte do be-a-ba dos políticos. Usam-na para lograr
os seus objetivos junto da população. Até que ponto o Governo moçambicano
aplica esta máxima em
Cabo Delgado ?
Reação do Governo
Entretanto, ao final desta segunda-feira
(14.09), o Ministério da Defesa Nacional, através de um comunicado de imprensa,
repudiou o ato: "As FDS reafirmam o seu cometimento em proteger e
salvaguardar os direitos humanos, em estrita observância as leis nacionais
relevantes ao Direito Internacional Humanitário."
A Defesa moçambicana reitera
ainda "que não compactua com qualquer ato bárbaro que consubstancie a
violação dos direitos humanos. Factos desta natureza deverão sempre ser
denunciados por todas as forças vivas da sociedade". E sinaliza uma
intenção de investigação, concluindo: "devendo ser investigados para
apurar a sua autenticidade e veracidade, com vista a devida
responsabilização."
Enquanto isso, as lamentações
à execução da mulher nua prosseguem. "Executá-la daquela maneira
é contra tudo o que faz de nós moçambicanos, tudo contra o que faz de nós um
povo que somos", lamenta Nuvunga.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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