sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Cortaram o pio a Trump e também cortam a muito milhões todos os dias

Nesta manhã chuvosa, moderadamente fria e de trovoada, chegámos ao Expresso Curto, Ricardo Marques é o autor e o Expresso é do tio Pinto Balsemão/Impresa. Exatamente neste Curto vamos de encontro ao livro Monte Ibuki (uma montanha no Japão), muito menor que a montanha Trump e a ainda mais alta montanha EUA. E é de tudo isso que o Curto trata neste dia sem sol - parece que por todo o país, Portugal. Adiante.

As eleições nos EUA estão para lavar e durar vai para três dias. O golpista Trump continua a gerar confusão e a gritar “aqui-del-rei que fui roubado nos votos que não contaram”. Tudo encenação (ou talvez não), dizem por muitos órgãos de comunicação social dos EUA e do mundo. Chegaram ao ponto extremo de cortar o pio a Trump nas principais redes de televisão lá do burgo dos hamburgers (ao que isto chegou). Pode saber sobre isso também aqui no PG. Roubámos e publicámos em Televisões cortam discurso de Trump e desmentem presidente, Fox incluída, depois vá ler, se estiver com disposição para tal.

Queremos demonstrar e alertar para que os EUA estão numa fase de enorme bagunça. Convém que acompanhe para medir o grau de descredibilização que merece aquele país imperial, que assim continuará com o mais que provável vencedor eleitoral de nome Biden, com mais de 70 anos e já taralhoco – o que convém ao sindicato do capital, do fomento de guerras e de outras maldades globais. Quanto mais taralhoco mais fácil de aquiescer e ser dócil nos interesses desses “patrões do costume”. Adiante.

Agora, por aqui, não queremos dar mais para este peditório Trump-Biden. Basta. Adiante.

Mais em baixo dispusemos um título que ao de leve vamos abordar: “Pandemia agrava pobreza e leva milhares a pedir prestações sociais”. Texto da Lusa, veiculado por Notícias ao Minuto e outros.

Que a pandemia agrava pobreza… Olha a novidade. Claro que sabemos que qualquer coisa é sempre pretexto para agravar a pobreza, nunca a riqueza. Por acaso nem é por isso que os das riquezas se deixam de chorar e virarem as tetas do Estado para seus cofres, mamando milhões. O grande patronato assim faz. Os banqueiros assim fazem. Os do costume da mama que nunca acaba assim fazem. E o Estado “abre-se” todo, mais ainda que a prostituta mais largueirona do mundo, a Lecas. Tem sido assim, é assim, será sempre assim enquanto existirem políticos que representam os interesses dos ricos em detrimento dos pobres, dos trabalhadores… Até porque esses não lhes podem proporcionar “doações” chorudas, nem lhes reservar “tachos” em empresas e grupos dos riquinhos abastados por cá e nos offshores. Pois.

E então? Já perceberam porque é que estamos sempre na mó de baixo? Percebe porque as crises são sempre reservadas para os que menos têm? E que até são benéficas para os que muito têm? Pois. Sabemos que já sabiam. Pior é que deixamo-nos andar, andar… a caminho da fome e da miséria caladinhos, sem mugir nem balir. E Portugal até tem um governo dito socialista. Tem? Pois. Olhem se não tivesse!

Por acaso até já há por aí quem aconselhe que se chame o Passos Coelho, o Múmia Cavaco, o Portas e o Chicalhão. Provavelmente supervisionados pelo fascista descarado (ainda não muito) Chega Ventura… Pois.

Por agora terminamos, tem de ser. A chuva já pinga na secretária porque o telhado está em mau estado. Sim, e Portugal também tem um mau Estado, maus governos que se “governam” e “governam” os mesmos de sempre.

É a vida. Nascemos para sermos explorados… em democracia. Mas porque será que cada vez mais até parece que estamos em era salazarista da modernidade? Que coisa!

Bom dia  e a melhor contenção à miséria que já assola tantos e de futuro pior será. Sorria, a vida é ingrata mas é vida e os penúrias fazem falta para serem explorados, escravizados, o mais possível. Pois. Até depois, se não nos cortarem o pio. Já estivemos mais longe disso.

MM | PG


Bom dia este é o seu Expresso Curto

A febre de Estados Unidos à noite

Ricardo Marques | Expresso

“o Monte Ibuki

sendo o Monte Ibuki

não depende da lua”

(não, ainda não há vencedor, ambos continuam a dizer que vão ganhar e é possível que nas próximas horas haja novidades na Georgia)

Uma vez, há muitos anos, falei com uma pessoa que acreditava estar a ser escutada pelos electrodomésticos que tinha em casa. Era a televisão, o frigorifico, o ferro de engomar… Estava absolutamente segura daquilo que dizia porque, como me explicou, ouvia “barulhos estranhos a toda a hora” e, se nada mudasse, já tinha decidido que ia viver para a rua.

Tenho pensado nessa pessoa nestes últimos dias. Ando nisto compulsivamente desde segunda-feira - comecei de véspera. Além de acompanhar ao momento tudo que acontece no site do Expresso, sempre que acaba a minha maratona televisiva das eleições americanas - aos saltos da FOX (cada vez mais discreta no apoio a Trump) para a CNN (cada vez menos discreta nos ataques a Trump) e de volta - atravesso a cozinha e ouço, naquele silêncio da madrugada, o ronronar do frigorífico.

Não me passa pela cabeça que esteja a ser escutado, mas a verdade é que o barulho está lá, como um monte na paisagem.

Trump andava há meses a falar de um barulho que ouvia: que os votos por correspondência eram uma “fraude”, que ia ser “roubado” nas eleições, que os democratas e os media e mais não sei quem tinham um plano para o derrotar. Se tivesse ganho logo na terça-feira não se voltava a falar disso. Se acontecesse algo diferente, não se falaria de outra coisa. E aqui estamos.

Ontem, já depois de Joe Biden ter pedido “calma” e “paciência” aos americanos, o Presidente dos Estados Unidos da América repetiu tudo, mesmo tudo, na sala de imprensa da Casa Branca, o símbolo último da democracia americana. No ar e, temo, na cabeça de muitos dos apoiantes de Trump ficou a ideia de que o grande capital, os grandes media e as grandes empresas tecnológicas se uniram para viciar a eleição presidencial. O barulho do frigorifico com o volume no máximo.

(A Fox dá o resultado em Biden - 264 vs Trump - 214, com quatro estados por apurar. A CNN conta Biden - 253 vs Trump - 213, com cinco estado por apurar.)

Um erro pode ser apenas um erro (e é provável que tenham existido alguns num processo com votação recorde: ainda ontem o Washington Post dava conta de 150 mil votos atrasados nos correios, parte deles para estados que ainda estão por apurar), e um barulho é apenas um barulho.

Mas se acreditarmos que o frigorifico está mesmo a escutar-nos, arriscamo-nos a destruir a cozinha. E de pouco servirá argumentar seja o que for. Alguém lembrava, na CNN, depois do discurso presidencial, que o presidente parecera esquecer-se do excelente resultado que muitos outros republicanos conseguiram na votação de terça-feira, apesar da tal grande conspiração.

Donald Trump tem, claro, toda a legitimidade para, de acordo com a lei, exigir a presença de representantes na contagem dos votos, a recontagem dos votos e até para seguir para a Justiça - como já está a fazer - com processos que poderão arrastar-se por semanas ou meses.

Se a decisão lhe for desfavorável, é provável que, em vez de se conformar, Trump junte os tribunais à sua longa lista de inimigos e saia aos berros da Casa Branca pronto para tudo e para mais alguma coisa. E todos os que ouvem o estranho barulho que ele ouve estarão prontos a segui-lo, deixando o país dividido, ferido, mas, apesar de tudo, ainda inteiro. Não será fácil, mas caberá a Biden tentar curá-lo.

Se a Justiça, porventura, lhe vier a dar razão, se ele tiver razão naquilo que alega sem nada provar, nas acusações que faz aos democratas - e ontem a FOX avançou, com absoluta cautela e atribuindo-as a fontes não identificadas, suspeitas de votos de pessoas mortas, de votos de não residentes em certos condados, de misteriosos sacos cheios de votos ilegais em Biden - Donald Trump até poderá ganhar outra vez. Mas a América estará mesmo perdida.

Outras notícias

Eis o resto das notícias que podem vir a marcar esta sexta-feira.

O Parlamento discute esta tarde o decreto presidencial que determina um novo estado de emergência em Portugal, para o período de 9 a 23 de novembro (e renovável, se necessário) devido à pandemia de covid-19. Algumas das medidas previstas - como a hipótese de funcionários públicos com doença crónica ou em isolamento poderem ser mobilizados para inquéritos - já foram divulgadas ontem e é provável que Marcelo Rebelo de Sousa fale ao país após a votação na Assembleia da República.

Público avança que a Segurança Social lança uma operação para retirar idosos esquecidos dos hospitais. Em maio, eram 1500.

Para analisar ao longo do dia estará também o novo plano do Governo para apoiar a economia. Há subsídios para micro empresas, apoios diretos sob a forma de crédito e até um regime excecional para acesso ao Apoio à Retoma Progressiva. Se seguir por aqui, entra num artigo em que se conta como os autocarros turísticos estão prontos para substituir comboios e metro em Lisboa.

Há mais de 750 mil créditos em que os clientes não estão a pagar a prestação completa ao banco.

Por ser sexta-feira, atrevo-me a deixar-lhe a sugestão para meia dúzia de artigos, um pouco mais longos e para ler com tempo, sobre a pandemia. Encontra uma série de ensaios na revista Time e pode começar por este, que arranca em 2023.

O outro artigo, a que é impossível ficar indiferente, discute um assunto mais no presente: chama-se a Ética do Confinamento e pode ser lido na The Spectator. Numa altura em que por toda a Europa, e também por cá, se assiste à imposição de medidas cada vez mais duras de combate à covid-19, Alberto Giubilini, que está em Inglaterra, leva a discussão para um patamar improvável - o da ética.

(Em Manchester, alguns estudantes destruíram uma cerca de metal que foi colocada à volta de um dormitório da Universidade)

Em Espanha, o El Mundo escreve que foi aprovada pelo PSOE, Podemos e ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) uma emenda que permitirá que o castelhano deixe de ser a língua oficial do Estado. A discussão vai começar a subir de tom, provavelmente ainda em castelhano.

“Evo Morales volverá a Chimoré el 11 de novembro”, escreve o Página Siete. O antigo presidente da Bolívia, que se encontrava exilado na Argentina, deverá regressar à pátria na segunda-feira, numa grande caravana automóvel de 800 veículos.

O processo de Tancos tem todos os ingredientes de uma grande história. O julgamento em curso, em Santarém, é apenas mais um capítulo. Começa assim a reportagem do Expresso: “De um lado está Germano Marques da Silva, o velho advogado e professor de Direito, citado em acórdãos do Supremo ou do Constitucional pelos mais sábios magistrados. Do outro João Paulino, o ex-fuzileiro e autor confesso e arrependido do assalto do século que subtraiu 300 quilos de material de guerra dos paióis de Tancos.”

Menos conseguido, literariamente falando, ainda que carregado de significado político, é o aviso que Mário Centeno, antigo ministro das Finanças e atual Governador do Banco de Portugal, deixou sobre o Orçamento do Estado: “A dimensão financeira absoluta atingida pelo Orçamento do Estado merece de todos os intervenientes um sentido de responsabilidade que por vezes não se vislumbra na forma como o seu debate é conduzido.”

O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, apresentou uma queixa crime por "denúncia caluniosa", na sequência de uma investigação do DCIAP em que é alvo de um inquérito - noticiado ontem pela revista "Sábado" - no âmbito da Estratégia Nacional para o Hidrogénio.

João Galamba, secretário de Estado da Energia, também visado no artigo, pondera fazer o mesmo.

A Marinha salvou 14 tripulantes de um navio naufragado ao largo da Figueira da Foz.

Um pouco mais além, navegando rumo aos Açores, é possível chegar a Angra do Heroísmo onde, esta manhã, o representante da República vai receber os partidos políticos, após as eleições regionais. O Expresso avançou anteontem que Rui Rio não cede a André Ventura, colocando em risco de naufrágio a eventual geringonça insular. Haverá novas eleições no horizonte? Este é também o tema do podcast Expresso da Manhã.

Segue-se o desporto.

Houve noite de Liga Europa: o Braga perdeu em Inglaterra (4-0) e o Benfica fez um jogo totobola contra o Rangers, na Luz. Começou a ganhar, esteve quase a perder e acabou empatado. Não foi 1-x-2, foi 3-3.

Acabou a época para o melhor tenista português da atualidade. João Sousa tem uma tendinite no braço direito.

Fernando Santos anunciou os convocados para os próximos jogos da selecção nacional de futebol.

O que ando a ler

Tenho aqui três livros. O último a chegar à mesa chama-se “A invenção do Passado”, de Tamin Ansary, e deverá ocupar-me durante as próximas semanas. O ponto de partida é interessante: que relação existe entre dois acontecimentos históricos que, à primeira vista, nada têm a ver um com o outro? Quem diria (além do autor, claro) que a construção da Grande Muralha da China influenciou a queda do Império Romano.

Os outros dois livros são coletâneas de haikus - a forma mais conhecida da poesia japonesa. Um deles é a obra completa de Matsuo Bashô, o maior poeta de haikus de todos os tempos. O outro chama-se “Os Quatro Rostos do Mundo”, de Yosa Buson, nascido em 1716, 22 anos após a morte de Bashô.

Há algo de maravilhoso na complexa simplicidade destes minúsculos poemas de três linhas.

O haiku com que comecei este Expresso Curto é de Bashô. A edição da Assírio e Alvim é bastante útil pois enquadra cada um dos haikus - sobre este, em particular, refere que se trata “de uma defesa filosófica de que cada coisa é o que é, não dependendo de terceiros para afirmar a sua identidade.”

Deixo para o fim um haiku de Yosa Buson. Na ausência de explicação melhor, arriscaria dizer que se trata de uma defesa gastronómica de que todas as coisas acabam por dar lugar a outras coisas, dependendo de terceiros para afirmar a mudança. Dá para tudo. Escreve Buson:

“há cem dias

que ando a comer carpa

viva a chegada da perca!”

Tenha uma excelente sexta-feira e um bom fim-de-semana.

Esperamos por si em expresso.pt e amanhã nas bancas

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