quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O que diz Moleiro, no Expresso Curto

Os EUA na baila por via das eleições. Dizem que Biden venceu e o que se vê é imensos a passarem-lhe a mão no pêlo. O mundo neoliberal está exultante e os cidadãos norte-americanos ainda mais. Alguns, por lá, nem por isso. Os quase 10 milhões de sem abrigo dizem que um ou outro, venha quem vier, “é igual ao litro”. Os vastos milhões a sobreviverem na pobreza escandalosa também não vão notar grande diferença, nem vão passar a “remediados” só porque Biden vai habitar a tal Casa Branca. Continuarão na pobreza extrema, escandalosa. Também os Direitos Humanos não verão melhores dias na prática. No papel talvez, mas só para manter encenação enganosa.

Bom dia esta é antecâmara do Curto do Expresso, que de vez em quando inserimos no PG. Hoje Raquel Moleiro é a autora do que segue a esta prosa introdutória. Avante.

 Saiba que depois do ‘fartum’ sobre EUA e Biden/eleições idas, o Curto foca Portugal e a pandemia. O tal covid-19 a que já chamam “o mata-velhos(as)”. Boa definição, porque é isso mesmo. A Segurança Social é que não consegue esconder o jeito que a matança vai dar futuramente. Menos nas reformas e pensões. Menos nos apoios sociais, menos nos encargos no tratar dos idosos (serão muitos menos, milhares) menos nos doentes mais fragilizados, crónicos, menos até de alguns que fenecem à espera de assistência médica que não têm porque os serviços de saúde para todos passou a ser só para alguns – principalmente para os de carteira recheada. Vai daí há oncológicos a morrerem e ‘tuti quanti’ que não conseguem usufruir do direito à saúde consignado na Constituição… Acontece exatamente isso independentemente das idades dos doentes, que não morrem por covid-19 mas sim por abandono. Porquê? Bem, até dá jeito! Tudo isso já sabemos. É só uma questão de fazermos as contas aos milhões poupados durante anos e anos. Vamos ver. O covid-19 acaba por ser um grande amigo da (in)Segurança Social e de seus futuros orçamentos, perspetiva-se. Avante.

Ainda de Portugal podemos ler sobre o anticiclone dos Açores que nos seus céus tem estampada antenuvens uma grande suástica. O futuro de mais do mesmo antes de 1974. O fascismo brilha graças ao ofuscado Rui Rio do PSD e seus apaniguados. Não é surpresa. Rio sempre cheirou a bolores salazaristas. Que agora libertou em grande quantidade. Parece que são muitos, lá pelo PSD. Pivete.

De Moleiro, o que diz Moleiro, no Expresso Curto. Não é nada parecido do “O que diz Molero” de Dinis Machado, com os “pintas” e as cabeçadas e trambolhões, as cenas rascas dos popularuchos rufias…

Mais, muito mais, por Raquel Moleiro aqui no Curto. Vá de 'frosques' do resto da prosa PG e atine no Expresso, Balsemão Bilderberg agradece, ainda mais se acaso aderir à seta com suástica oferecida por Rio Ventura. Coisa que não queremos, nem esperamos. Eles sabem acomodar-se risonhos naquilo que ao povinho traz incómodos, nacionalismos bacocos e criminosos, e etc., etc.. O tio Balsemão nada ainda disse sobre o Cheganço de Rio ao racismo e xenofobia, ao fascismo… O quê? Tirar os ovários a quem aborta não é fascismo? E tudo o resto que já deu para entendermos e percebermos os pezinhos de lã do tipo disfarce para ludibriar? Fala tio, fala. Rebenta com a escala! A situação merece. Pois. Talvez a idade e a carteira não o permitam… Que raios. Sabem de alguma fonte de juventude por aí?

A seguir, o Curto do bom e do melhor. Continuem, não fiquem só por aqui. Ler e pensar não dói nada. E era muito bom que o extremismo galopante que já é prato do dia não desse porrada se refilares... Séria dúvidas que não aconteça não só com nódoas negras. Mais grave. Porque o que se trata é de oculto-extremismo do pior. Democracia do cuspo, não é oh Rios Venturas?!

Obrigado, pela réstia de sol deste dia. Bom dia, depois do meio-dia. É a vida.

MM | PG


Bom dia este é o seu Expresso Curto

Um copo meio cheio de esperança

Bom dia.

(Em plena segunda onda de pandemia mundial, tentou-se servir este curto com discriminação positiva por boas notícias)

Faltam menos de dois meses para Joe Biden tomar posse como presidente dos EUA. A passagem oficial de testemunho está marcada para 20 de janeiro de 2021, mas a indisponibilidade de Donald Trump assumir a derrota deixa mais dúvidas do que certezas sobre os moldes e tempos da transição. Depois da responsável pela agência que gere a Casa Branca ter recusado assinar os documentos que garantem fundos à equipa do Presidente eleito, os funcionários receberam ordens específicas para não colaborarem com os seus sucessores. Há 90 anos que não se assistia a uma passagem de testemunho tão amarga, a lembrar o nada acolhedor Herbert Hoover para com o seu sucessor Franklin Roosevelt.

Certo é que, na cerimónia, Joe terá ao seu lado Jill, no seu papel de primeira-dama. Nesse dia põe uma folga, férias ou pede dispensa com mais-do-que-justa-causa do seu emprego como professora de Inglês numa universidade comunitária da Virgínia do Norte, onde está colocada há cerca de uma década. E onde vai continuar a lecionar. Nas inúmeras entrevistas que foi dando durante a campanha, esse foi sempre um facto assente: trabalha desde os 15, sempre quis ter o seu dinheiro, a sua carreira e a sua identidade, e não seria agora aos 69 que mudaria. Ontem a decisão foi anunciada formalmente.

A gestão entre os dois cargos não será fácil, com a agravante de não poder pedir conselhos às antecessoras Michelle e Melania, porque Jill é a primeira first lady trabalhadora. No pioneirismo feminino junta-se a Kamala Harris, a primeira mulher a assumir a vice-presidência dos EUA.

Foi preciso chegar a 2020, ao século XXI.

Mas mais que o atraso há que frisar o avanço. Ver o copo meio cheio. No discurso de vitória, Kamala agradece à mãe, Shyamala, uma mulher indiana que imigrou para os EUA e que nunca deixou de acreditar no sonho americano. A filha é o exemplo supremo do ‘yes she can’. Ou como a vice disse no seu primeiro discurso enquanto tal: “Posso ser a primeira mulher neste cargo, mas não serei a última”.

E por que razão isto é importante? Porque, por exemplo, em pleno século XXI, em 2020, em Portugal, a diferença de salário entre homens e mulheres corresponde a 52 dias de trabalho pago ou 148,9 euros. Os dados foram revelados ontem pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, data em que se assinalou o Dia Nacional da Igualdade Salarial. A data não é fixa, mas regista o dia a partir do qual as mulheres deixam (virtualmente) de receber pelo seu trabalho enquanto os homens continuam a ser pagos.

Ainda assim, o fosso discriminatório tem vindo a diminuir, no mercado de trabalho e no interior do dicionário de Oxford onde a definição de mulher foi agora alterada porque, em pleno século XXI, em 2020, estava contaminada por estereótipos e sexismos, como a frase exemplificativa “Eu disse para estares em casa quando eu chegasse, mulherzinha”. Foi retirada, assim como a referência às mulheres quando se definia trabalho doméstico.

Também atenta à atualidade, a editora do dicionário Collins elegeu “confinamento” como a palavra do ano, que terá sido utilizada 250 mil vezes em 2020, contra apenas 4 mil no ano anterior. E continua em franco uso - a palavra e a medida. Em Portugal, por enquanto só como receio futuro, caso o país não consiga travar as linhas de contágio com as limitações já implementadas. Amanhã é dia de conselho de ministros e já é sabido que a lista dos concelhos de risco vai se revista e poderão ser decididas novas restrições e em diferentes locais.

O país é atualmente o 15º com mais casos por 100 mil habitantes (ver gráficos) e nas últimas 24 horas ultrapassou as 3 mil vítimas mortais, mas teve o menor número de novos infetados dos últimos sete dias (3817) e o maior número de recuperados (4795) desde 24 de maio. Nas prisões existem atualmente 168 reclusos com covid-19, 148 dos quais são mulheres do Estabelecimento Prisional de Tires, e 80 funcionários, avança o PúblicoPSP, GNR e SEF têm mais de mil infetados. Hoje serão realizados mais testes na rede prisional. Aí e fora dela, os especialistas querem testes alargados a quem tem dor de cabeça e obstrução nasal, sintomas mais frequentes nos infetados entre os 15 e os 39 anos.

António Costa continua a afirmar que o SNS não está em rutura. E espera-se que assim se mantenha, para que não seja preciso escolher quem tratar primeiro. Tanto mais que a vacina está para breve. A farmacêutica norte-americana Pfizer e a alemã BioNTech anunciaram que a vacina anti-covid que estão a desenvolver em conjunto revelou, em testes finais preliminares, uma eficácia superior a 90% e que equacionam produzir cerca de 50 milhões de doses até o final do ano e 1,3 mil milhões de doses em 2021. O próximo desafio é logístico: estimativas da Agência Internacional de Transporte Aéreo apontam para a necessidade de 8 mil aviões para levar a vacina a 7,8 mil milhões de pessoas em todo o mundo. Além desta, mais uma centena de vacinas estão em desenvolvimento.

Também ontem saiu o muito aguardado fumo branco sobre os montantes do próximo orçamento comunitário 2021-27 que terá um reforço de 15 mil milhões de euros para financiar programas europeus. E ainda mais mil milhões para eventuais situações imprevistas. Portugal agradece, tanto mais que a agência de rating Moody's sinalizou o país como um dos que poderá ter uma “destruição económica maior”, devido à prevalência de pequenas e médias empresas (PME) na sua economia. Hoje a câmara de Lisboa avança com um plano próprio de apoio às empresas, emprego, famílias e associações da cidade. Das medidas consta um fundo de apoio ao comércio e restauração da cidade.

OUTRAS NOTÍCIAS

O ANTICICLONE. Rui Rio garante que não há entendimento nacional com o Chega e que não passou nenhuma linha vermelha porque foi o partido de André Ventura que entrou nos eixos, mas a decisão de permitir o apoio parlamentar ao PSD no Governo regional dos Açores ainda não deixou de levantar ondas de choque um pouco por toda a política nacional. E chegou mesmo às eleições presidenciais, com a candidata Marisa Matias a atacar o presidente - e pré-candidato - Marcelo Rebelo de Sousa. No Twitter, Marisa recordou que o representante da República nos Açores é nomeado pelo presidente da República e "responde-lhe diretamente". Por isso, a candidata do BE faz questão de sublinhar as responsabilidades de Marcelo pela posse de um Governo que terá o apoio do partido de André Ventura, acusando-o de "não proteger" a Constituição.
Esquerda e PS não vão largar o assunto tão cedo e até Poiares Maduro se juntou aos críticos do acordo. Henrique Raposo, Adolfo Mesquita Nunes, Ana Rita Bessa, Pedro Mexia, Miguel Esteves Cardoso e Samuel Úria, entre outras personalidades, chegaram mesmo a assinar uma carta aberta para “deixar bem claro que as direitas democráticas não têm terreno comum com os iliberalismos". A missiva é publicada poucos dias depois de o Chega assinar o acordo. Não há no texto nenhuma referência direta a este entendimento, mas há uma frase que não deixa grandes dúvidas sobre o motivo da sua publicação: "O espaço do centro-direita e da direita portuguesa não é o do extremismo, seja esse extremismo convicto ou oportunista".
Oiça aqui a análise da Comissão Política do Expresso (podcast) ao abraço açoriano.

A TEMPESTADE. O furacão Theta é o 29º a formar-se este ano no Atlântico, batendo o recorde de 2005. Com força de tempestade subtropical, 'nasceu' na segunda-feira à noite e está a caminho da Madeira. A ilha deverá ser atingida entre sexta e domingo. Sábado será o dia de maior temporal, com chuva forte e rajadas que podem atingir os 130 kms/h.

VALENTINA. O pai e madrasta da criança de nove anos encontrada morta em maio, na Atouguia da Baleia (Peniche) foram acusados pelo Ministério Público de homicídio qualificado, profanação de cadáver e abuso e simulação de sinais de perigo. Sandro, 32 anos, e Márcia Bernardo, 38, arriscam uma pena de 25 anos de prisão. O relatório da autópsia descreve que a menina foi vítima de asfixia e de agressões violentas em todo o corpo.

PERDÃO, MAS POUCO. O presidente de Angola, João Lourenço excluiu ex-governantes do MPLA da benevolência penal ligada à comemoração de 45 anos de soberania, assinalados esta terça-feira. Antigos ministros e filho de José Eduardo dos Santos não estão contemplados.

CESTO DE NATAL. A liga norte-americana de basquetebol (NBA) chegou a acordo com o sindicato dos jogadores para iniciar a temporada de 2020/21 a 22 de dezembro. O entendimento prevê a redução do número de jogos da fase regular de 82 para 72 e de viagens das equipas (em cerca de 25%).

FORA DE PISTA. A próxima temporada de Fórmula 1 vai ter 23 corridas (um número recorde) e nenhuma se vai realizar em Portugal. A Arábia Saudita tem a sua estreia como anfitriã e os Países Baixos voltam a acolher um grande prémio depois de um interregno de 37 anos.

FRASES

“A informação obtida de forma ilegal não devia ter sido divulgada. Ponto. Agora tenho de admitir que essa actuação possa ter tido alguma influência positiva em matéria de verdade desportiva”.
Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol no julgamento de Rui Pinto.

“A DGS informa que está a circular uma imagem com uma declaração atribuída erradamente à Diretora-Geral da Saúde ("DGS pede para fecharem vidros dos carros na A28"). Esta declaração nunca foi proferida pela Dra. Graça Freitas. DGS apela à não propagação desta informação”. DGS, numa alusão à mensagem falsa sobre a autoestrada que liga os concelhos de Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Matosinhos, afetados pelo surto de legionela.

“Tudo agora é pandemia. Tem de acabar esse negócio. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. [O Brasil] tem de deixar de ser um país de maricas".
Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, durante um evento sobre turismo organizado pelo planalto.

O QUE ANDO A LER

Esta semana a minha filha mais velha perguntou-me se não tinha cá por casa o Livro de Crónicas do António Lobo Antunes. Está a dar este género literário no 9º ano e o professor disse na aula que poderia ser útil. Até ela que está na irritante fase “por que vou ler um livro se posso ver o filme na Netflix?”- uma evolução da geração ‘resumos Europa-América’ - sabe da minha predileção pelo escritor português. Foi quase uma questão retórica. “Qual é volume? O primeiro? Ok. Só um minuto”. Fui busca-lo mas ainda não lho dei. Ela só o ia abrir por obrigação, e eu, que o abri, agora estou a ter dificuldade em voltar a fechá-lo.

Estava na faculdade quando o comprei. E sei porque reconhecia nas crónicas as casas da Estrada de Benfica por onde passava todos os dias no autocarro da Vimeca a caminho do metro do Colégio Militar. Será que ele sabe que o castelinho das portas foi todo recuperado e está despido de barracas à volta? Será que ainda lá está a acácia que marcava a quinta da família? E as vilas gémeas, onde as irmãs solteiras tocavam piano? Juro que o ouvia pelas janelas de madeira descascada. E um dia até acho que vi uma a acenar à janela. Ou quis ver, como um prolongamento dos textos, mais ricos em pormenores que a própria vida. Quando a pandemia acalmar, juro que apanho outra vez o autocarro no bairro do bosque, sento-me à janela e vou assistir à passagem do tempo até ao Colombo.

Nota: daqui a dois dias sai a edição portuguesa do livro de David Attenborough, “Uma vida no nosso planeta”. Vai ser a leitura entre crónicas (ou ao contrário), porque o planeta não pode ficar esquecido, nem mesmo no meio de uma pandemia mundial.

O curto (cheio) fica por aqui. Tenha uma ótima quarta-feira. Siga toda a atualidade no ExpressoTribuna e Blitz.

Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a

Sem comentários:

Mais lidas da semana