terça-feira, 24 de novembro de 2020

Portugal | Não há polígrafo que resista!

O Conselho Nacional do Chega foi desmarcado depois de nunca ter sido marcado, num exercício de «acrobacia» que embebeceu a comunicação social dominante.

AbrilAbril | editorial

Se dúvidas houvessem sobre este malabarismo político, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Sintra, face ao anúncio que o evento do Chega se realizaria nas suas instalações, veio esclarecer que nunca foi contactada nesse sentido.

Na verdade, trata-se de mais uma manobra desta ampla aliança de direita, que a partir dos Açores tende a alastrar ao todo nacional, e que, tendo como pano de fundo a realização do Congresso do PCP e a coberto do surto epidémico, visa a limitação do exercício de direitos fundamentais, nomeadamente políticos. A mesma direita que no início da pandemia chegou a ter a pretensão de suspender e limitar o funcionamento da Assembleia da República.

No caso do PSD, volta à tona a tese da suspensão da democracia, desta vez pela voz de Rui Rio, que pretendia impedir a realização do Congresso dos comunistas, ao arrepio da Constituição e das leis, com a ameaça de que, se fosse governo, não o permitiria.

Quem não se lembra dos tiques autoritários de Rui Rio enquanto presidente do Município do Porto, nomeadamente procurando limitar e impedir os comunistas (e não só) de afixar propaganda política na cidade, numa clara violação da lei, que a Comissão Nacional de Eleições condenou dando razão ao PCP?

Nesta relação entre Rio e Ventura, mais cedo do que tarde se perceberá se é o Chega que influencia o PSD ou se, pelo contrário, é o PSD que, a coberto desta aliança com a extrema-direita, vai expor as verdadeiras entranhas de um PPD/PSD que, guinando ainda mais para a direita, ultrapassará uma linha que até agora não tinha ousado pisar.

A realidade, para quem anda mais distraído, é que os sectores do grande capital e quem politicamente os representa, dos mais polidos aos mais reaccionários, desde o início da pandemia nunca tiveram nenhuma percepção negativa a propósito de qualquer evento, fosse qual fosse, com excepção das comemorações do 25 de Abril e do 1.° de Maio, da Festa do Avante! e, agora, a propósito da realização do Congresso do PCP.

Imagem: António Cotrim // Lusa

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