terça-feira, 29 de dezembro de 2020

MOMENTO DE VIRAGEM NO MÉDIO ORIENTE ALARGADO

Martinho Júnior, Luanda

O Médio Oriente Alargado está a sul da região do Círculo Polar Ártico onde a Federação Russa está mais activa nas explorações de petróleo, gaz e outras riquezas minerais, assim como no delineamento da Rota Marítima do Norte, (Iamália Nenets) precisamente no lado oposto ao Afeganistão e Paquistão (AfPaq) e ao expansionismo turco no Médio Oriente Alargado, na enorme massa continental Euro-Asiática,   

Todos os indicadores que emanam da evolução da situação no Médio Oriente Alargado nos atiram para a interpretação de que se está a viver um “momento de viragem”, que será ainda longo mas irreversível, em função das actividades que ocorrem no miolo continental, desde a costa setentrional do Ártico, à Ásia Central e às costas quentes do Índico (e seus braços do Golfo Pérsico e Mar Vermelho), Mar de Aral, Mar Cáspio, Mar Negro e Mediterrâneo Oriental.

A geoestratégia da progressão das Novas Rotas da Seda de leste para oeste, reforçadas agora com o impulso do “Regional Comprehensive Economic Partnership, RCEP”, vão sacudir ainda com mais vigor esse passo de transição decisivo!

Oleodutos, gasodutos, rodovias, ferrovias, rotas marítimas, nós comerciais e nós industriais progridem de tal forma que fazer comércio e não guerra é um processo cuja lógica é imparável apesar dos contraditórios que aqui e ali ocorrem!…

É evidente que em resultado da actividade proactiva é espectável a emanação de contraditórios reactivos, alguns deles formulados a partir de culturas tradicionais de resistência, susceptíveis de serem exploradas pelo império da hegemonia unipolar em função do colonialismo de então e dos radicalismos hoje possíveis de disseminar…

O império da hegemonia unipolar, com suas redes de influência “stay behind” de carácter “radical” não desiste dos projectos “coloridos” e “primaveris” que desembocam na disseminação, de terrorismo, de caos, ou de desagregação!

O império está a ser confrontado com isso de forma disjuntiva: ou alinha com a emergência diluindo os seus interesses de forma “emparceirada”, ou está-se autocondenando e aos seus vassalos, coligados e directos parceiros, no pântano do terrorismo, do caos e da desagregação que tem vindo a semear desde o início da última década do século XX…

Relator da ONU sobre tortura: "Julian Assange é um prisioneiro político"

Nadja Vancauwenberghe [*]

Nils Melzer, professor suíço de direito, foi o Relator Especial das Nações Unidas sobre Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes. Antes de trabalhar para a ONU foi assessor jurídico do Comité Internacional da Cruz Vermelha.

Lembra-se do tiroteio a sangue frio de civis iraquianos em Assassinato colateral ? Lembra da tortura na Baía de Guantánamo? Lembra da corrupção política revelada pelos cabos diplomáticos? Essas foram algumas das histórias que foram notícia em 2010, quando os principais jornais internacionais desde The New York Times a The Guardian e Der Spiegel se uniram à WikiLeaks para expor os crimes de guerra dos EUA e uma longa lista de verdades vergonhosas que nossos governos haviam mantido em segredo.

Dez anos depois, o homem que tornou isto possível está a lutar pela sua liberdade em chocante indiferença, mantido em confinamento solitário numa prisão de alta segurança e submetido a um julgamento que peritos independentes qualificam como uma farsa devido àquelas publicações de 2010 da WikiLeaks. Exberliner (EXB) conseguiu acesso às audiências do tribunal que decidirão sobre seu destino: se o tribunal der sinal verde à sua extradição para os EUA, ele enfrentará 175 anos de prisão pelo seu alegado papel na revelação ao público de documentos confidenciais que expuseram actos de tortura, crimes de guerra e má conduta cometidos pelos EUA e seus aliados.

EXB compromete-se a relatar estas audiências judiciais que não só selarão o futuro de um homem mas também determinarão o futuro do jornalismo investigativo. Também faremos uma série de entrevistas com especialistas independentes e jornalistas que trabalharam nas fugas de informação, bem como com apoiantes proeminentes.

Em primeiro lugar, N. Vancauwenberghe e J. Brown conversaram com Nils Melzer, Relator Especial da ONU sobre Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, que investigou o caso. Permaneça sintonizado!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

UE e Reino Unido fecham acordo do Brexit

A Comissão Europeia concluiu finalmente a negociação, em nome dos 27, com o Reino Unido, com um acordo que regula a relação comercial pós-Brexit.

A 1 de janeiro de 2021, o período de transição em que o Reino Unido ainda goza de todos os direitos e obrigações idênticos ao de um Estado-Membro será substituído por um acordo comercial, que foi finalmente fechado e vai ser assinado por Londres e Bruxelas.

Há agora um roteiro para a concretização formal, em que se prevê que a Comissão Europeia vá formular uma proposta que colocará à apreciação dos Estados-Membros. O Conselho vai adotar uma decisão sobre a assinatura e a possível aplicação provisória do acordo. Se os prazos se concretizarem, a decisão será publicada no jornal oficial da União Europeia, permitindo a entrada em vigor, provisória a 1 de janeiro. Mais tarde, na primeira sessão plenária de 2021, o Parlamento Europeu vai votar o acordo e finalmente o Conselho adotará uma posição final.

O também chamado "acordo para a relação futura" foi negociado durante este ano e atravessou longos meses de impasse, bloqueado por três questões principais - todas elas decisivas. Esta semana, as negociações decorreram ao mais alto nível, num derradeiro esforço para extinguir as divergências, entre as quais, o diferendo em matéria de direitos de pescas.

O vírus mais letal não é o Covid-19 — é a guerra

O Covid-19 está a dar cobertura a uma pandemia de propaganda, afirma Pilger

John Pilger [*]

O Memorial das Forças Armadas britânicas é um lugar silencioso, fantasmagórico. Localizado na beleza rural de Staffordshire, num arvoredo de umas 30 mil árvores e relvados envolventes, suas figura homéricas celebram determinação e sacrifício.

Os nomes de mais de 16 mil soldados britânicos estão ali listados. A literatura diz que "morreram no teatro de operações ou foram alvos de terroristas".

No dia em que estive ali, um pedreiro estava a acrescentar novos nomes àqueles que haviam morrido em cerca de 50 operações por todo o mundo durante o período que é conhecido como "tempo de paz". Malásia, Irlanda, Quénia, Hong Kong, Líbia, Iraque, Palestina e muitos mais, incluindo operações secretas tais como as da Indochina.

Nem um ano se passou desde que foi declarada a paz em 1945 sem que a Grã-Bretanha tivesse enviado forças militares para combater as guerras do império.

Nem um ano se passou em que países, sobretudo pobres e dilacerados por conflito, não houvessem comprado ou recebido mediante empréstimos em condições preferenciais armas britânicas para promover as guerras, ou "interesses", do império.

Efeitos da poluição mataram quase 1,7 milhões de pessoas na Índia em 2019

Os dados revelados por um relatório da Lancet mostram que a má qualidade do ar contribuiu para o aumento de casos de cancro do pulmão, doenças cardíacas, entre outras.

Em 2019, a poluição na Índia foi responsável pela morte de quase 1,7 milhões de pessoas, o que corresponde a 18% do total de óbitos registados no país, refere um relatório publicado pela revista Lancet.

Os dados mostram que as mortes relacionadas com a poluição na Índia estão em sentido ascendente – subiram de 1,24 milhões em 2017 para 1,67 milhões no espaço de dois anos.

O estudo divulgado pela Lancet sublinha que os efeitos da poluição no país asiático levaram ao aumento de doenças como o cancro do pulmão, AVCs, doenças cardíacas, diabetes ou doenças respiratórias.

Covid-19: África ultrapassa os 60 mil mortos

África ultrapassou hoje as 60 mil mortes devido à covid-19 e regista um total de 2.544.950 infetados desde o início da pandemia, segundo dados oficiais.

De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o continente africano regista agora 60.254 mortos, mais 508 nas últimas 24 horas e no mesmo período houve mais 19.618 infetados nos 55 Estados-membros da União Africana.

O número de recuperados nas últimas 24 horas foi de 19.683 para um total de 2.145.138.

A África Austral é, entre as cinco regiões africanas, a mais afetada, com 1.055.217 casos e atingiu 27.090 mortes. Nesta região, a África do Sul, o país mais atingido pela covid-19 no continente, contabiliza hoje um total de 940.212 infeções e de 25.246 mortes.

O Norte de África é a segunda zona mais afetada pela pandemia, com 875.583 casos de infeção e 22.799 vítimas mortais.

A África Oriental regista 312.438 infeções e 5.831 mortos, na África Ocidental o número de infeções é de 230.575 e o de mortes registadas ascende às 3.087, enquanto a África Central regista 71.137 casos e 1.447 óbitos.

O Egito, que é o segundo país africano com mais vítimas mortais, a seguir à África do Sul, regista 7.167 mortos e 127.061 infetados, seguindo-se Marrocos, que passou hoje as sete mil vítimas mortais (7.030) e regista 420.648 infetados, valor mais de três vezes superior ao do Egito.

Entre os seis países mais afetados estão também a Tunísia, com 4.237 mortes e 123.323 infetados, a Argélia, com 2.687 óbitos e 96.069 casos, a Etiópia, com 1.864 vítimas mortais e 120.638 infeções, e o Quénia, com 1.647 óbitos e 94.768 infetados.

Em relação aos países de língua oficial portuguesa, Angola regista 393 óbitos e 16.802 casos, seguindo-se Moçambique (150 mortos e 17.767 casos), Cabo Verde (112 mortos e 11.636 casos), Guiné Equatorial (85 mortos e 5.231 casos), Guiné-Bissau (45 mortos e 2.446 casos) e São Tomé e Príncipe (17 mortos e 1.009 casos).

O primeiro caso de covid-19 em África surgiu no Egito, em 14 de fevereiro, e a Nigéria foi o primeiro país da África subsariana a registar casos de infeção, em 28 de fevereiro.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.703.500 mortos resultantes de mais de 77,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Notícias ao Minuto | Lusa

Guiné Bissau | Sissoco Embaló “desiste” de dissolver o parlamento após diálogo

O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, afastou nesta quarta-feira (23) a possibilidade de dissolver a Assembleia Nacional Popular, após um encontro com os líderes das bancadas parlamentares.

O estadista guineense, justifica a decisão pelo "interesse supremo" dos guineenses, que é o desenvolvimento do país. Por outro lado, Umaro Sissoco Embaló defende que na qualidade de Presidente da República tem de ser o moderador.

"Isso já não vai acontecer, porque com o diálogo entendemos outra coisa. O Presidente da República tem de ser o moderador. Estou aqui como Presidente da República, de todos os guineenses", disse Umaro Sissoco Embaló, quando questionado pelos jornalistas, no final do encontro, com os chefes das bancadas parlamentares. 

O chefe de Estado disse também que durante o encontro todos foram unânimes de que o "interesse supremo" de todos os guineenses é o desenvolvimento do país.

"Enquanto Presidente da República, foi um dos melhores dias de exercício das minhas funções", disse, sublinhando que todos têm o direito de dar a sua opinião, mas na base do respeito, e que o lema de 2021 é todos os guineenses juntos.

Angola | Presidente do Tribunal Supremo acusado de nepotismo

O presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, está a ser acusado de tráfico de influência e nepotismo pela Associação de Juízes de Angola. Analistas querem a PGR a investigar o caso.

Há um silêncio total por parte das autoridades em Angola sobre o caso que envolve Joel Leonardo, presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial (CSMJ) e do Tribunal Supremo da República de Angola.

O magistrado é acusado pela Associação de Juízes de Angola (AJA) de dar preferência a membros do seu círculo familiar próximo, incluindo a sua filha, para fazer uma formação no estrangeiro.

Segundo a AJA, a atuação de Joel Leonardo está envolta em fortes indícios de preterição da legalidade".

No Tribunal Supremo de Angola, ninguém aceitou falar à DW África sobre o caso.

Segundo um ofício tornado público, o juiz conselheiro presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, enviou ao Procurador-Geral da República (PGR) de Angola, Hélder Fernando Pitta Gróz, uma lista de nomes com seis juízes para fazer formação em Portugal.

Da lista de nomes constam também a filha e outros membros da família do juiz angolano: Daniel Modesto Geraldes, Antónia Kilombo José Damião, Joaquim Fernando Salombongo, Pedro Nazaré Pascoal, Amélia Jumbila Isaú Leonardo Machado e Nazaré Sílvio Inácio.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

EM BUSCA DAS FRONTEIRAS PERDIDAS...

(APONTAMENTOS DE LÓGICA COM SENTIDO DE VIDA, UMA IMPRESCINDÍVEL ESSÊNCIA DA PRÓPRIA HISTÓRIA QUE NOS HAVIA DE TOCAR)

Martinho Júnior, Luanda

01- Há quarenta e cinco anos a vida fluía um pouco como as marés: com refluxos e fluxos movimentados, por vezes em espumosa intempestividade, mas sempre estrondos e cheiro a pólvora, sorvendo dum lado e do outro das frentes de luta um poderoso turbilhão humano!

De forma vigorosa era a dialética da vida que estalava num inusitado frenesim percutindo os tambores do tempo e ecoando pelos horizontes fora, espalhando-se por todo o território angolano!

Nos dois primeiros terços do ano de 1975 foi um refluxo que quase reduziu as fronteiras a um estreito corredor no paralelo de Luanda, com as defesas da capital implantadas nas serranias dos Dembos, a norte e nos altos a sul do Longa, nas eriçadas vértebras do Quanza Sul…

Para oeste, na profundidade do Dondo, eram pequenos destacamentos que vigiavam o eixo do triângulo da planície do litoral, entre o Cuanza e o Bengo, cujas margens se aproximavam nas áreas de Catete… depois era N’Dalatando, Malange e pouco mais no lugar onde nascia o sol!

As Forças Armadas Populares de Angola haviam chegado a essa situação asfixiante, porém com uma contrapartida inestimável, o trunfo que se havia de jogar na hora certa e com reservado sabor a vitória: a partir sensivelmente de Setembro, Luanda guerrilheira e popularmente ciosa de si própria, ficou limpa de forças invasoras trazidas por aqueles que sendo etno-nacionalistas recrutavam mais no exterior do que no próprio país que diziam querer libertar e fê-lo com um amplo esforço, um decidido esforço endógeno mobilizador e catalisador, tirando partido do fermento que havia sido lançado e cultivado, apesar de tantos reveses, desde o 4 de Fevereiro de 1961!

Os progressistas portugueses que ora compunham o MFA, sabiam que a receita colonial de “africanizar” a guerra, significou não só o equívoco “in extremis” que levou ao colapso colonial mas também, por causa dos laços que criou na então Leopoldville e nas nascentes do Lungué Bungo, para dar asas aos etno-nacionalismos em Cabinda, no norte e no centro-sul!...

Era precisamente esse artifício que o movimento de libertação em África teria de neutralizar e se possível vencer, para depois alinhar o seu empenho dialético na justa luta de libertar toda a África Austral!

Sobre Luanda contudo, aproveitando os transvases da planície do litoral que se alongava entre as lagoas do Bengo e o curso final do Dange, a ameaça estava confinada e, escaramuça a escaramuça, foi possível criar o engodo e a armadilha mortal do funil de Quifangondo…

Naquele tempo, o Grupo de Operações Especiais do Estado Maior Geral das FAPLA, desdobrava-se vertiginosamente de missão em missão e à longa batalha popular pelo domínio de Luanda e seus arredores, sucedeu que se havia que saber defender a capital no seu mais profundo entorno (ainda que prevendo sempre o colapso das linhas) para, depois de assegurá-la no contrarrelógio do 11 de Novembro, haver que ir à busca das fronteiras perdidas, nas obrigações de “um só povo e uma só nação”!...

Junta Militar da RENAMO anuncia fim de hostilidades, mas queixa-se de ataques

Líder da auto-proclamada Junta Militar da RENAMO, Mariano Nhongo (foto), suspendeu as hostilidades no centro de Moçambique. Mas as autoridades continuam no seu encalço, mesmo depois de iniciar conversações com enviado da ONU.

Numa conversa telefónica com a DW África a partir do seu esconderijo, o líder da Junta Militar e dissidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Mariano Nhongo, garantiu que os seus homens já silenciaram as armas no centro do país:

"Sou presidente da Junta Militar e já paralisei os meus homens para não fazerem mais nenhuma ação", começou por dizer. "Estou a apelar a todo o povo moçambicano e também ao Governo para que não pensem que com a força das armas vão fazer Moçambique ter paz", asseverou.

"Não quero mais matar moçambicanos... Não quero mais ser um moçambicano a morrer com uma arma, por isso é que estou a apelar ao Governo a terminar com a guerra e a entrarmos nas negociações para o povo moçambicano andar livre", acrescentou.

A posição de Mariano Nhongo é expressa dias depois de uma conversa com Mirko Manzoni, representante pessoal do secretário-geral da ONU em Moçambique, no domingo (20.12).

Os partidos políticos moçambicanos já se tinham manifestado sobre a abertura de Nhongo para negociar, frisando que o diálogo é a melhor solução para a paz.

China: das bugigangas “1,99” a potência tecnológica

De exportador de itens primários e manufaturas baratas, país transformou-se, em poucas décadas, no principal polo global de inovação. Agora, com ambicioso plano, quer liderar Indústria 4.0. “Guerra comercial” com os EUA apenas começou

Diego Pautasso* | Outras Palavras | opinião

Os processos nacionais de desenvolvimento são, via de regra, construídos a partir de uma complexa estrutura intergeracional, cujo caminho é repleto de percalços e contradições. No caso da China, a longa estrada rumo ao desenvolvimento pleno da nação entrelaçou, em suas origens, a confluência de processos de descolonização, de revolução antissistêmica e de reconstrução nacional a partir de heranças imperiais milenares.

Assim, o desenvolvimento resulta, pois, da combinação de processos globais com políticas nacionais, pragmaticamente adequadas às oportunidades conjunturais. Absolutamente todos os países hoje considerados desenvolvidos se utilizaram amplamente de políticas industriais, comerciais e tecnológicas (ICT) para atingirem tais condições. Em outras palavras, atingem-nas a partir de uma intrincada rede de interações e conhecimento mobilizada em prol da potencialização da economia nacional, com o progressivo aumento de produtividade se vinculando aos mecanismos de agregação de valor, de conhecimento e de inovação que, por sua vez, vinculam-se ao aumento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

O avanço de qualquer projeto nacional consistente tende, em última instância, a se defrontar com os limites impostos pelas estruturas hegemônicas de poder de sua era, formados por mecanismos de dominação que direta e indiretamente respaldam a supremacia de determinados países e a legitimação de certas organizações internacionais. Daí a importância da plena articulação de uma estratégia de inserção internacional consequente e a afirmação de um projeto nacional de desenvolvimento de longo prazo para a superação do gap produtivo-tecnológico que sustenta tais estruturas de poder.

Mais ricos, mais pobres

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

1. A pandemia trouxe uma crise económica e social como nunca se viu. Centenas de milhões de pessoas foram atirados para a pobreza. Muitos conheceram a fome pela primeira vez. Também em Portugal.

Mas, para um punhado de gente, este foi um ano de festa. Conta o jornal britânico "The Guardian" que, entre março e novembro, dez dos homens mais ricos do Mundo acrescentaram ao seu património cerca de 450 milhares de milhões de dólares. Números para lá da nossa capacidade de entendimento. A Oxfam (organização não governamental que combate a desigualdade e a pobreza) usa referências mais terrenas: se as 651 pessoas mais ricas dos EUA entregassem agora três mil dólares a cada um dos 330 milhões de habitantes do seu país, para os ajudar a ultrapassar as dificuldades causadas pela pandemia, continuariam a ser mais ricas do que já eram em março passado. Podemos esperar sentados. Ou podemos exigir a quem nos governa (em Portugal e na União Europeia) que tome medidas que acabem com esta acumulação pornográfica.

2. Basta abrir a página da Unicef Portugal para um pequeno vislumbre do que está do outro lado do espelho: 47 milhões de crianças já se encontravam gravemente subnutridas antes da pandemia, outros 54 milhões vão somar-se a esta indignidade por causa da pandemia. No Iémen, há dois milhões de crianças com menos de cinco anos que precisam de ajuda humanitária urgente. Morre uma a cada 10 minutos devido à falta de comida e a doenças que podiam ser evitadas. Em Cabo Delgado, Moçambique, há agora 250 mil crianças ameaçadas de subnutrição e doenças mortais, em centros de acolhimento temporários e sobrelotados. Não vale a pena contar com a filantropia dos multimilionários para ajudar a resolver estes e outros dramas. Mas se quiser dar uma prenda de Natal, há para todas as bolsas: por 4,43 euros oferece 12 vacinas contra o sarampo; com 48,76 euros garante 150 saquetas de alimento terapêutico; se chegar aos 164,89 euros, dá um kit escolar com material para uma sala de aula, um professor e 40 crianças.

*Diretor-adjunto

O crime compensa aos vigaristas e ladrões de milhões?

Sim, pelo visto o crime compensa aos senhores dos milhões. É vê-los a cometerem crimes, a serem condenados (muito poucos) mas a continuarem em liberdade porque as leis e os chamados “alçapões” nas leis lhes permitem continuar a pavonearem-se em liberdade e, provavelmente, também a continuarem a cometer mais falcatruas. A impunidade é-lhes garantida por um sistema de justiça que lhes reserva essa mesma impunidade.

Em baixo o exemplo de João Rendeiro, banqueiro do BPP, vem novamente à liça. O dito condenado a prisão quer comprar a liberdade com meio milhão de euros. Fá-lo porque em Portugal julga saber que existe um sistema de Justiça vendido aos poderosos dos milhões falcatruados. Na realidade se vimos outros banqueiros gozar de impunidade porque também não a conceder a Rendeiro.

Olhemos Ricardo Salgado e outros banqueiros e “artistas” da vigarice, do roubo, e logo entenderemos que se uns têm direito a não sofrer prisão efetiva, pura e dura (de igual modo que a que sofrem os sem dinheiro) também Rendeiro pode comprar essa tal coisa manhosa e dúbia a que chamam Justiça.

Apetece questionar: Roubam muitos milhões de euros e depois querem e compram a impunidade por meio milhão desses mesmos euros?

Pelo novamente visto o crime compensa. Mas só para esses “influentes” senhores dos milhões.

Justiça? Que Justiça?

Vamos esperar para ver onde o que a famigerada Justiça vai decidir. Mais de mesmo. Pois.

PG

Rendeiro propõe meio milhão de euros para escapar a 5 anos de prisão

A defesa do antigo líder do Banco Privado Português (BPP) apresentou um requerimento no Supremo Tribunal de Justiça no qual é proposto encerrar o processo aceitando "a punição mas não em prisão efetiva" de cinco anos e oito meses a que foi condenado pela Relação.

Na imagem de topo: João Rendeiro em 2014. À chegada ao tribunal, onde decorreu o julgamento do processo contra os antigos administradores do Banco Privado Português (BPP) // © Natacha Cardoso / Global Imagens

Leia em Diário de Notícias

Portugal | Segurança Social para que te quero

Os últimos meses demonstraram a importância para o País de um forte sistema universal e público de prestações sociais, que garanta às populações uma vida digna, em qualquer circunstância.

AbrilAbril | editorial

A Revolução de Abril abriu portas para que o povo português pudesse contar com um sistema social solidário e universal, consagrado constitucionalmente. Perante a crise social e económica que se vive no actual contexto de pandemia, a Segurança Social tem sido, a par de outras funções sociais do Estado, imprescindível para garantir uma resposta social que não condene à pobreza extrema e ao desamparo os muitos milhares que ficaram doentes ou foram atirados para o desemprego.

Ao mesmo tempo, não se podem escamotear as debilidades e insuficiências que têm de ser debeladas de forma urgente. Os atrasos na atribuição e pagamento de prestações, os valores insuficientes dos apoios, a falta de resposta de equipamentos públicos como creches, lares, ou a escassez de meios humanos e técnicos requerem decisões políticas que protejam e reforcem este sistema público. Protegê-lo é proteger as pessoas e o País.

De facto, e a título de exemplo, só na discussão na especialidade se conseguiu incluir no Orçamento do Estado para 2021 o pagamento a 100% dos salários dos trabalhadores que sejam colocados em lay-off, quando esta era uma medida premente desde Março.

Mas para além de todas essas debilidades e insuficiências, os números são a prova de que a Segurança Social como a conhecemos precisa de ser defendida e reforçada, para que mais gente dela possa beneficiar.

A abrangência deste sistema é reflexo das dificuldades sociais e económicas com que o País se confronta. É notório o aumento da pobreza quando, segundo números da própria Segurança Social divulgados esta segunda-feira, o número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) aumentou em Novembro 4,6% em relação ao mês homólogo de 2019. Estamos a falar de uma prestação que se cifra, em média, num valor inferior aos 120 euros mensais.

Também se registou um aumento em 40,3% dos beneficiários da prestação de desemprego em Novembro, face ao período homólogo, e 2,3% quando em comparação com Outubro passado, revelando que há muito a fazer na recuperação de postos de trabalho. Ainda em Novembro, os subsídios por doença verificaram um aumento de 28,8%, valor que aglomera as baixas por contágio do coronavírus e o subsídio por isolamento profiláctico.

No terceiro trimestre de 2020, segundo dados do INE, o desemprego real atingia cerca de 650 mil trabalhadores, dos quais só 35% recebia subsídio de desemprego 

Estes são alguns números que permitem concluir, por um lado, que estes apoios, sendo imprescindíveis, são ainda insuficientes e, por outro, da necessidade, entre outras medidas, de travar a evasão contributiva e diversificar as fontes de financiamento da segurança social, considerando a exigência de recuperar uma dívida que, em 2019, se cifrava em 4,5 mil milhões de euros. 

NATAL DOS SIMPLES (e mais) - Zeca Afonso

Eterno José Afonso

Com este disco inicia a ligação á editora Orfeu, é também a fase mais interveniente, politica e culturalmente, da sua arte. 

A propósito deste disco, escreveu Urbano Tavares Rodrigues:[...José Afonso, trovador, é, o mais puro veio de água que torna o presente em futuro, que á tradição arranca a chama do amanhã...] e [...a primeira voz da massa que avança em lume de vaga, a mais alta crista e a mais terna faúlha de luar na praia cólera da poesia , da balada nova...] in Viriato Teles "As voltas de um andarilho"

Letra e musica de José Afonso  - Acompanhamento á viola de Rui Pato 

Disco na integra c/ detalhe de capa. 1/12  

Youtube

E se o Menino Jesus tivesse nascido no estado policial americano?

#Publicado em português do Brasil

John W. Whitehead*

Global Research, 22 de dezembro de 2020

“Quando o canto dos anjos se acalma, quando a estrela do céu se vai, quando os reis e príncipes estão em casa, quando os pastores voltam com seus rebanhos, começa a obra do Natal: encontrar o perdido, curar o quebrado, para alimentar o faminto, para libertar o prisioneiro, para reconstruir as nações, para trazer paz entre as pessoas, para fazer música no coração. ” - Howard Thurman

A história de Natal de um bebê nascido em uma manjedoura é familiar.

O Império Romano, um estado policial por direito próprio, ordenou que um censo fosse realizado. José e sua esposa grávida, Maria, viajaram para a pequena cidade de Belém para que pudessem ser contados. Não havendo lugar para o casal em nenhuma das pousadas, eles ficaram em um estábulo (celeiro), onde Maria deu à luz um menino, Jesus. Avisados ​​de que o governo planejava matar o bebê, a família de Jesus fugiu com ele para o Egito até que fosse seguro retornar à sua terra natal.

Mas e se Jesus tivesse nascido 2.000 anos depois?

E se, em vez de nascer no estado policial romano, Jesus tivesse nascido neste momento? Que tipo de recepção Jesus e sua família teriam? Reconheceríamos a humanidade do filho de Cristo, quanto mais sua divindade? Será que o trataríamos de forma diferente do que foi tratado pelo Império Romano? Se sua família fosse forçada a fugir da violência em seu país natal e buscasse refúgio e asilo dentro de nossas fronteiras, que santuário nós ofereceríamos a eles?

Um número singular de igrejas em todo o país fez essas mesmas perguntas nos últimos anos, e suas conclusões foram retratadas com enervante precisão por presépios em que Jesus e sua família são separados, segregados e enjaulados em canetas de arame individuais, encimadas por farpados cercas de arame.

Esses presépios foram uma tentativa incisiva de lembrar ao mundo moderno que a narrativa sobre o nascimento de Jesus fala em múltiplas frentes para um mundo que permitiu que a vida, os ensinamentos e a crucificação de Jesus fossem abafados pela política partidária, o secularismo , materialismo e guerra, todos impulsionados por um governo paralelo manipulador chamado Deep State.

Quando deploráveis se tornam ingovernáveis

#Publicado em português do Brasil

Pepe Escobar [*]

China, Rússia e Irã são as três principais "ameaças" existenciais aos EUA, segundo a Estratégia Nacional de Segurança (National Security Strategy). Três traços caracterizam as três principais potências: as três são potências soberanas. Estão as três sob diferentes graus de sanções. E as três são os nodos principais do processo geopolítico mais importante do século XXI: a integração da Eurásia.

O que as três potências soberanas veem, ao examinar a distopia que tomou conta do Excepcionalistão?

Veem, mais uma vez, três nodos – confusos, desentendidos – em conflito: as costas pós-históricas do Pacífico e do Atlântico; o Sul – uma espécie de Dixieland [NR] expandida; e o Centro-oeste – que seria a terra central dos EUA.

Os nodos Pacífico-Atlântico hipermodernos congregam finanças e high-tech, lucro dos avanços tech do Pentágono e benefícios a auferir do etos "EUA governam as ondas" que garantem a primazia global do EUA-dólar.

O resto dos EUA é considerado quase todo, pelo Pacífico-Atlântico, como nada além de uma coleção de estados flutuantes: o Sul – que se toma, ele próprio, pelos reais e autênticos EUA; e o Centro-oeste, bem disciplinado e de mentalidade prática, espremido ideologicamente entre as fábricas do litoral e o Sul.

Mas a superestrutura é chave: não importa o que aconteça, sejam quais sejam as fraturas, ainda é um Império, onde só reina uma pequena elite, uma oligarquia plutocrática de fato.

Seria demasiado esquemático, embora correto na essência, afirmar que na eleição presidencial o candidato invisível Joe Biden representava os nodos do Pacífico-Atlântico; e Trump representava todo o Sul. Assumindo que a eleição não foi fraudulenta – e isso permanece um grande "se" – o Centro-oeste oscilou, baseado em três questões.

1. Trump, que dependeu de sanções monstro, não conseguiu trazer empregos manufatureiros de volta para os EUA;
2. Trump não conseguiu reduzir a presença militar em todo o Grande Oriente Médio; e
3. E, antes da Covid-19, Trump não conseguiu reduzir a imigração.

Tudo o que haja adiante aponta para o irreconciliável – joga a absoluta maioria que votou nos Democratas nos nodos Atlântico-Pacífico versus o Sul e um Centro-oeste profundamente dividido. Dado que Biden-Harris estão decididos a isolar ainda mais o sul, a possibilidade de que "pacifiquem" o Centro-oeste está abaixo de zero.

UM CARTÃO POSTAL PARA ASSANGE NESTE NATAL

Julian Assange continua encarcerado no presídio de Belmarsh.  O infame processo que lhe é movido pelas autoridades britânicas – seguindo os ditames dos EUA – continua.  A generalidade dos media corporativos é conivente pois silencia a monstruosidade em curso. 

O governo dos EUA quer extraditar o fundador da WikiLeaks e aprisioná-lo para sempre numa das suas Guantanamos.  A vida de Assange está ameaçada , é preciso salvá-lo.  É preciso organizar comités pela libertação de Assange , em todo o mundo.

Escrever a Assange é também uma forma de ajudá-lo.  As mensagens devem ser curtas e conter o seu número de prisioneiro (de contrário não serão entregues).

O endereço é:

Mr. Julian Assange
Prisoner # A9379AY
HMP Belmarsh
Western Way
London SE28 0EB UK
Grã-Bretanha

Publicado em Resistir.info

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Passos e Cavaco não têm culpas na TAP?

Pedro Tadeu | TSF | opinião

Pedro Passos Coelho interveio numa sessão de homenagem a Alfredo da Silva, o dinâmico e irreverente industrial da CUF que, em 1929, ficou a dever ao então ministro das Finanças, António de Oliveira Salazar, a salvação da falência.

Salazar, para preservar a Casa Totta, mandou a Caixa conceder um empréstimo a Alfredo da Silva que o Banco Espírito Santo recusara e, a partir daí, o industrial recuperou de uma crise gravíssima.

É completamente contraditório ver um defensor da quase total ausência do Estado no mundo dos negócios, como Passos Coelho diz que é, ser a voz da homenagem a um dos empresários simbólicos do fascismo português - gente que negociava com o Estado Novo favores, expansão, proteção e estratégias comerciais, em troca de dependência política.

Alfredo da Silva, por exemplo, a pedido de Salazar, foi obrigado a ajudar, com navios e dinheiro, as tropas do general Franco, durante a Guerra Civil de Espanha.

É verdade que foi o segundo governo de Passos Coelho a privatizar a TAP, um governo que durou apenas 27 dias, 16 dos quais em gestão, e que assinou a venda da companhia aérea dois dias depois do Parlamento chumbar o Programa de Governo.

Mas voltemos ao presente: também Aníbal Cavaco Silva reapareceu para dar uma entrevista ao jornal Observador. Quer Passos quer Cavaco aproveitaram para falar sobre a TAP.

CTT despediram 950 trabalhadores em três anos

Não foram 800, foram 950 os trabalhadores que saíram dos CTT nos últimos três anos, denuncia o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT).

empresa aprovou em 2017 um plano de transformação operacional, um plano que continua válido mas para os sindicalistas a administração dos CTT já foi além do que estava programado

O secretário-geral do SNTCT, Vítor Narciso, pegou nos últimos relatórios de gestão dos CTT e cruzou com a informação dada ao sindicato pela administração da empresa, para concluir que houve mais 150 trabalhadores dispensados do que o previsto.

"Se nós formos ver até outubro que é quando nós temos os resultados das aposentações e com os números que a empresa nos deu estamos a falar de 950 trabalhadores, ou seja são 800 mais 150 que a empresa atingiu na fase de rescisões de contrato", sublinha Vítor Narciso.

Há três anos os CTT justificavam os cortes de pessoal com o facto da quebra do tráfego de correio em cerca de 50% desde 2001.

Mas hoje, o secretário-geral do sindicato aponta falhas graves devido à escassez de mão-de-obra porque "o número de trabalhadores neste momento não é suficiente para fazer o serviço porque se fosse suficiente o serviço não andava atrasado, se fosse suficiente as encomendas expresso não andavam a passear de um lado para o outro para lhes serem mudadas as datas de entrada no correio".

Um conto de Natal de José Saramago

História de um muro branco e de uma neve preta

Não haveria nada mais fácil no mundo das histórias que escrever um conto de Natal com Menino Jesus ou sem ele, se não fosse dar-se o caso de que uma criança que nasce está sempre nascendo. O nosso grande erro, esquecidos como em geral andamos das infâncias que vivemos, foi pensar que as crianças nascem uma única vez e que depois de nascidas se limitam a ficar à espera de que o tempo passe e as transforme em adultos, os quais, como deveríamos saber, constituem uma espécie diferente de seres humanos. A criança começa por nascer uma vez, que é a de vir ao mundo, e depois continua a nascer para compreendê-lo: não tem outro remédio nem há outra maneira. Como se verá pelas duas breves histórias que se seguem, ambas autênticas, ambas verdadeiras.

A terra, àquela hora, cobria-se de uma noite tão escura que parecia impossível que dela pudesse nascer o Sol. Não tem chovido, as tempestades andam por longe, o rio descansa da sua primeira cheia de Inverno, os charcos são de mercúrio. O ar está frio, parado, e estala quando respiramos, como se nele se suspendesse uma ténue rede de cristais de gelo. Há uma casa e luz lá dentro. E gente: a Família. Na lareira ardem grossos troncos de lenha de donde se desprendem, lentas, as brasas. Quando à fogueira se lhes juntam gravetos, ramos secos, um punhado de palha, a labareda cresce, divide-se em trémulas línguas, sobe pela chaminé encarvoada de fuligem, ilumina os rostos da família e logo volta a quebrar-se. Ouve-se o ferver das panelas, o frigir do azeite onde bóiam as formas redondas das filhós, entre o fumo espesso e gorduroso que vai entranhar-se nas traves baixas do telhado e nas roupas húmidas. São talvez nove horas, a modesta mesa está posta, o momento é de paz e de conciliação, e a Família anda pela casa, confusamente ocupada em pequenos trabalhos, como um formigueiro.

Não tarda que saiam todos para o quintal. Vai ser lançado ao ar o foguete de três respostas, esse que, cumprindo a tradição, anunciará aos vizinhos que naquela casa já a última filhó saiu do tacho, a escorrer, e foi cair no alguidar profundo onde aguardará o retoque final da canela e da calda de açúcar. Entre portas, a Criança vê a Família a sorrir fazendo e desfazendo grupos em torno do avô, que sopra um tição trazido da lareira e o aproxima do cartucho de pólvora amarrado ao caniço. Tinha pedido que o deixassem ajudar, mas responderam-lhe como das outras vezes: “Ainda és muito pequeno, para o ano que vem”. A Família tem razão: é preciso ter cuidado com as crianças.

A pólvora inflama-se bruscamente, lança um jacto de fagulhas vivíssimas, silva como uma serpente, e logo é um dragão rugindo que sobe para o ar gelado, corta-o como uma espada de fogo, e lá muito no alto, quase tocando as primeiras estrelas, estala, estraleja, cobrindo os ecos de outro foguete distante. O caniço desce com uma luz mortiça que desmaia, e vai cair longe, nos olivais que rodeiam a casa, sobre as ervas cobertas de geada. Com este tempo não há perigo de que pegue fogo às árvores. De súbito, a Família diz que está frio e volta para casa, levando entre os braços, entre os anéis, entre os tentáculos, a Criança a quem não deixaram ajudar a lançar o foguete. Tinham deixado a porta aberta, o interior da cozinha arrefecera. A Avó acode a espalhar na fogueira uma mão-cheia de aparas, desgalha um ramo seco de oliveira, parte-o com as mãos calejadas, mas é com suavidade que depois chega os troços à chama, como se estivesse a alimentá-la. O lume hesita, escolhe o lado mais acessível da lenha, e depois, indiferente, alheado, a pensar noutra coisa, recomeça o seu eterno ofício de fabricante de cinzas.

sábado, 19 de dezembro de 2020

IMAGEM DO DIA | José Dias Coelho, assassinado pela PIDE

Passam hoje 59 anos sobre o assassinato de José Dias Coelho, artista plástico e militante antifascista. Com uma fulgurante carreira de pintor e escultor, o funcionário e dirigente do PCP na clandestinidade, foi morto a tiro pela PIDE, a polícia política de Salazar, numa rua de Alcântara, em Lisboa, à qual foi dado o seu nome. 

Gravura de Abel Manta sobre José Dias Coelho 

AbrilAbril

SEF? "Cabrita foi protegido por ser amigo e colaborador próximo de Costa"

A pandemia da Covid-19 e o Caso SEF foram dois dos temas que estiveram 'em cima da mesa' no habitual comentário de Francisco Louçã na SIC Notícias.

'travão de mão' que o Executivo de António Costa teve de puxar no que às medidas para o Ano Novo diz respeito foi um dos temas que Francisco Louçã comentou no seu espaço habitual das sextas-feiras à noite na SIC Notícias. Apontando que espera que "as medidas nunca sejam tomadas em função de popularidade" do Governo, porque estamos a falar do "interesse público", o fundador do BE acrescentou que estas "vão ser sempre desagradáveis". 

Louçã frisou que "vamos ultrapassar hoje durante o dia os seis mil mortos", o que classificou como "uma tragédia". "Apesar de os números [de casos] se manterem muito altos, com uma ligeira inflexão, o número de mortos não se reduziu, mesmo que nos seja dito que o pico já passou. Isto é um caso quase único entre os países europeus", afirmou o comentador. 

"O número de mortos é muito elevado e está a arrastar Portugal para uma situação ainda muito difícil", reiterou, considerando que as medidas que estão a ser tomadas pelo Governo são "razoáveis": "Percebe-se agora que não tinha sentido ter sido dito há mais de um mês que começar as medidas de recolher obrigatório em novembro era uma forma de evitar que fossem tomadas estas medidas no Natal". 

Para o fundador do Bloco de Esquerda, "não tinha nenhum sentido fazer esta projeção" e era "mais prudente ter medidas indicativas" porque as "condições mais restritivas tinham que ser impostas no momento em que há vontade de maior comunicação entre as famílias". 

O economista destacou que "as medidas são necessárias" e "as Autoridades estão agora a antecipar que, mesmo com o cuidado que as pessoas possam vir a ter, haverá em janeiro uma possibilidade de aumento de casos". "É quase certo que teremos uma terceira vaga pelas indicações que as Autoridades de Saúde têm vindo a dar. É preciso é que seja muito contida". 

"Acho que é muito importante que se comece logo que se tem as vacinas"

Sobre a vacinação, Francisco Louçã disse crer que "ainda será necessário pensar num reforço na capacidade de enfermeiros", mas não antevê que haja problemas com a antecipação do prazo do início da campanha: "Acho natural que se faça isso. Acho que é muito importante que se comece logo que se tem as vacinas". 

Haverá, contudo, na opinião do comentador, "um problema". "Um discurso anti-vacina faz com que, por exemplo, em países como França, metade da população não queira ser vacinada. Em Portugal é muito menos, mas há setores espantosos da população que reproduzem o discurso que ouvimos hoje a Bolsonaro, se tomar a vacina me posso tornar num jacaré". 

SEF? Ministro "foi protegido por ser amigo e colaborador próximo de Costa"

A reestruturação no SEF foi outro dos temas 'em cima da mesa', com Louçã a advogar que "o que se soube com a morte de Homeniuk - e o que veio sendo revelado entretanto - era um sistema de violência que se exercia de várias formas mas que tratava uma parte dos migrantes que batiam à porta de Portugal como potenciais criminosos". Este "sistema de violência", continuou, "foi alimentado por uma opacidade que se prolongou ao longo do tempo". 

"O ministro não tomou nenhuma medida durante muitos meses e isso fragiliza-o imensamente. Na verdade, ele foi protegido por ser amigo e um colaborador próximo de António Costa, que decidiu mantê-lo nessas funções", considerou o comentador.

Notícias ao Minuto

Ana Gomes descola de Ventura e Marcelo ganha com 62,5%, diz sondagem

A ex-eurodeputada socialista Ana Gomes aumenta a vantagem sobre o candidato do Chega, André Ventura, nas intenções de voto para as presidenciais, num estudo da Eurosondagem em que Marcelo Rebelo de Sousa lidera com 62,5%.

Na sondagem, para o Porto Canal e o semanário Sol, Marcelo recua 0,6 pontos percentuais relativamente ao estudo de novembro, mas vence à primeira volta com 62,5%.

Ana Gomes, que estava empatada com Ventura no estudo da Eurosondagem realizado há um mês, regista a maior subida do estudo, 3,2 pontos percentuais, e conta agora com 13,3%, ocupando isolada o segundo lugar na corrida a Belém.

Apesar de ter perdido a segunda posição nos estudos da Eurosondagem, André Ventura sobe 0,5 pontos percentuais relativamente a novembro e recolhe 10,5% das intenções de voto.

Quando o liberalismo arrasa a liberdade

#Publicado em português do Brasil

Em novo livro, história que se repete. Nos anos 30, em nome de uma economia “sem intervenções”, liberais alemães defenderam mão forte estatal contra desvios da democracia. Carl Schmitt liderou o giro teórico, e em seguida aderiu ao nazismo

Joseph Confavreux | Outras Palavras | Tradução: Antonio Martins | Imagem: William Gropper

Uma etimologia comum não significa uma política coerente. Entre as liberdades e o liberalismo, pode haver abismos, especialmente quando os liberais assumem o programa de um neoliberalismo cujas políticas, amplamente rejeitadas, precisam ser impostas por meios violentos.

O filósofo Grégoir Chamayou, autor de um livro importante sobre a genealogia do “liberalismo autoritário” (La Société ingouvernable, La Fabrique, 2018), amplia seu trabalho de documentação e análise de uma ideologia cuja gênese é necessário examinar sem o cacoete preguiço do “retorno aos anos 1930”, para compreender como ela poderia estruturar o mundo contemporâneo.

Para escrever Sobre o Liberalismo Autoritário, publicado pelas edições Zones, que ele por sinal dirige, o pesquisador comentou e traduziu dois textos conflitantes, ambos redigidos em 1932 por juristas e filósofos alemães. Um, de Carl Schmitt (1888-1985), conservador que aderiria ao nazismo em 1933; o outro, de Hermann Heller (1891-1933), militante de esquerda na república de Weimar e morto no exílio em Madri, onde, como judeu, buscava refúgio.

No discurso “Estado forte e economia sã”, pronunciado em 23/11/1932, diante de uma assembleia de empresários em Dusseldorf, Carl Schmitt diz que o Estado alemão, que ele vê como um Estado-Providência, curvado sob o suposto peso das exigências sociais e transformado num Estado fraco e pesado, ainda que mais presente em cada vez mais terrenos. Ele opõe a este Estado “total” – num sentido “puramente quantitativo, relativo a seu tamanho, não à sua intensidade ou energia política” – um “Estado total qualitativo”, que diz explicitamente preferir. Chamayou descreve este último como um “Estado forte, que concentrará em suas mãos toda a potência da técnica moderna e os instrumentos de comunicação de massa; um Estado militar-midiático, guerreiro e propagandista, dotado da tecnologia de ponta em matéria de repressão dos corpos e de manipulação dos espíritos.

O que Schmitt diz aos empresários alemães, decifra o pesquisador, “é no fundo o seguinte: vocês querem ‘libertar’ a economia, querem acabar com o intervencionismo do Estado social, com os gastos públicos excessivos, com a carga fiscal relacionada a eles, com o Direito do Trabalho que os bloqueia etc. Já compreendemos. Mas precisam se dar conta de que, para obter tudo isso, ou seja, uma retirado do Estado da economia, será preciso algo muito distinto de um Estado mínimo e neutro”. Bem ao contrário, será preciso um Estado forte, capaz de silenciar as oposições sociais e políticas. Schmitt assegura a seu auditório que esta potência terminará na porta das empresas e mercados.

Como os EUA pagou aos super-ricos para aprovar leis de alívio ao coronavírus

#Publicado em português do Brasil

Eric Zuesse* | Strategic Culture Foundation

Em 14 de dezembro, duas notícias excelentes foram publicadas tardiamente sobre parte da corrupção maciça que estava por trás da lei federal inicial de alívio do coronavírus dos EUA, a Lei CARES, e sobre os senadores dos EUA de ambas as partes que agora pretendem incluir tal corrupção no próximo 1. (NOTA: Este noticiário pode ser visto como uma confirmação, e uma explicação adicional, do que eu estava prevendo em meu artigo em 22 de abril, “Por que a América pós-Coronavirus terá pobreza massiva” . O que isso estava prevendo está sendo confirmado nas duas notícias recentes que são citadas aqui.)

Com relação à Lei CARES, J. Robert Downen encabeçou no Houston Chronicle em 14 de dezembro, “Joel Osteen's Lakewood Church obteve $ 4,4 milhões em empréstimos federais de PPP” , e ele relatou que “Lakewood recebeu um empréstimo de $ 4,4 milhões através do Programa de Proteção ao Cheque de Pagamento, a parte da Lei CARES federal que concedia empréstimos para pagar salários de funcionários ou outros custos operacionais básicos, como serviços públicos. O programa marcou a primeira vez que legisladores federais permitiram assistência financeira direta a templos religiosos. … Mais de 1.000 grupos religiosos no Texas receberam centenas de milhões de dólares para reter 59.000 empregos, informou o Chronicle em julho. ”

Por volta do início da epidemia de coronavírus, o governo do estado do Texas anunciou, em 24 de janeiro de 2020, que “Nossa força de trabalho continua a crescer e agora é de 14.188.100 texanos”, e isso significa que a quebra de precedente da Lei CARES ("a primeira vez que legisladores federais permitiram assistência financeira direta a templos religiosos") estava ajudando a manter o emprego para um duzentos e quarenta dos texanos empregados, e portanto, não poderia ter produzido qualquer impacto significativo sobre a taxa de desemprego no Texas, mas apenas melhorou as chances de reeleição de funcionários públicos no Texas, ao comprar dos pregadores do Texas (que têm muita influência política naquele estado ) uma atitude mais favorável para com os titulares de cargos governamentais em exercício, que forneceram essa generosidade, em seu interesse especial.

O que não está a ser dito sobre a vacina da Pfizer contra o coronavírus

F. William Engdahl [*]

Bill Gates financia e promove activamente novas vacinas não testadas que supostamente nos manterão pelo menos algo protegidos de uma morte horrível pelo novo coronavírus e supostamente nos permitirão retomar uma vida um tanto "normal". A gigante farmacêutica Pfizer anunciou agora o que eles afirmam serem resultados espectaculares em testes humanos iniciais. Eles utilizam uma tecnologia experimental conhecida como edição de genes, especificamente edição de genes de mRNA, algo nunca antes utilizado em vacinas. Antes de nos apressarmos a sermos injectados na esperança de obter alguma imunidade, deveríamos saber mais acerca desta tecnologia experimental radical e da sua falta de precisão.

O mundo financeiro reagiu tempestuosamente em 9 de Novembro quando a gigante farmacêutica Pfizer e seu parceiro alemão, BioNTech, anunciaram num comunicado à imprensa da companhia que havia desenvolvido uma vacina para a Covid19 que era "90%" eficaz. O polémico chefe do NIAID nos Estados Unidos, Tony Fauci, apressou-se a saudar a notícia e a UE anunciou que havia comprado 300 milhões de doses da custosa nova vacina. Se acreditar em mercados financeiros, a pandemia é tudo menos história do passado.

Eventos suspeitos

No entanto, parece que Albert Bourla, o CEO da Pfizer, não compartilha confiança nas suas próprias afirmações. No dia em que sua companhia emitiu seu comunicado à imprensa sobre os propostos ensaios de vacinas, ele vendeu 62% das suas acções na Pfizer, lucrando milhões com o negócio. Ele deu a ordem de venda numa opção especial em Agosto a fim de que não aparecesse como "venda privilegiada" ("insider selling"), no entanto, ele também temporizou para que fosse logo após as eleições nos Estados Unidos e os grandes media declararem ilegitimamente Joe Biden como presidente eleito. Aparentemente Bourla tinha um conflito de interesses bastante claro quanto à temporização do seu comunicado à imprensa no mesmo dia .

Bourla mentiu e negou à imprensa que sua companhia houvesse recebido quaisquer fundos da Administração Trump para desenvolver a vacina quando foi divulgado que no Verão eles contrataram a entrega de 100 milhões de doses ao governo dos EUA. Além das acções suspeitas da Pfizer estava o facto de a empresa ter informado primeiro a equipe de Joe Biden ao invés das agências governamentais relevantes dos EUA.

Mas isto está longe de ser a única coisa alarmante sobre o tão alardeado anúncio da Pfizer.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Nazi-fascistas nas polícias portuguesas sem controlo? Não queremos!

Desde há tempos que não é segredo para os cidadãos portugueses mais atentos que existem nazi-fascistas nas polícias portuguesas. Obviamente que o racismo e a xenofobia são componentes intrínsecas dessa ideologia perniciosa. Disso já nos tem dado conta a comunicação social, assim como a impunidade de que gozam os agentes prevaricadores do disposto na Constituição Portuguesa, consequentemente demonstrada por responsáveis políticos e altos responsáveis das polícias.

Os espancamentos que ficam ocultos nos limbos são muitos mais do que aqueles que são denunciados publicamente, é vox populi. A inércia das chefias e até dos próprios tribunais demonstram que a impunidade de tais agentes da chamada extrema-direita (nazis ocultos ou confessos por via dos seus desempenhos ilegais) e admitidos nas forças policiais tem vindo a aumentar. Os casos também. O assassinato de Ihor Homeniuk veio demonstrar o facto.

A recorrência ao silêncio e ao “esquecimento” e minimização do crime de agentes do SEF no Aeroporto de Lisboa por parte de responsáveis daquela polícia e até do ministério das polícias foi demonstrado que aquele ramo policial está podre. E assim será nas outras polícias nacionais que usam e abusam da ocultação, da minimização da realidade que são os espancamentos a ações indignas de alguns agentes com notórios comportamentos nazis, racistas e xenófobos. É ponto assente que aquele tipo de procedimentos ilegais, antidemocráticos e anticonstitucionais, desumanos, estão em recrudescimento e tal é justificado pela admissão de agentes psicopatas de cariz nazi, agentes que não reúnem os requisitos necessários para desempenharem as funções para que os aprovam.

No Expresso Curto, por lavra de Miguel Cadete, são referidos mais casos de espancamentos por agentes do SEF no Aeroporto de Lisboa, entretanto foi nomeado um novo diretor para aquela polícia de fronteiras. O “Ex-comandante-geral da GNR Botelho Miguel é o novo diretor do SEF”, diz o Expresso. Salientando que “Botelho Miguel exerceu vários cargos de comando entre 2010 e 2020 na Guarda Nacional Republicana, onde cessou funções como Comandante-Geral em Julho”.

Sem pretender desprestigiar o novo nomeado, Botelho Miguel, é evidente que todas as polícias devem ser imperiosamente “mexidas” e analisado o caráter, formação e competências dos agentes que as compõem. A admissão de agentes cujos antecedentes e tendências sejam de índole inconstitucional, antidemocráticas, desrespeitosas dos valores dos Direitos Humanos de que Portugal é signatário não devem acontecer como tem acontecido até aqui em alguns (demasiados) exemplos. O rigor das direções e comandos nesse sentido é imprescindível para acabarmos de vez com agentes que conspurcam as forças policiais de alto abaixo. Enalteçam-se os bons agentes policiais e expurguem-se os que são indignos de integrar tais corporações/instituições.

Um trabalho de fundo que urge pôr em prática, a começar pelos ministros desse pelouro, pelas direções, chefias e finalmente a passar pente-fino no que toca aos agentes. Tudo isso por valorização de polícias dignas que respeitem os agentes dignos (imensos) que contém.

É muito triste sabermos de casos como o de Ihor Homeniuk. É revoltante serem admitidos nazis nas polícias. Que os direitos democráticos prevaleçam e não que sejam violados por energúmenos.

Leia mais no Curto. Muito mais.

MM | PG

Portugal | Confinamento de vilões

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

Os melhores momentos vivem de um "timing" perfeito. Sem o tempo certo, assomam as oportunidades perdidas, acontecimentos espantosos que se precipitam, incapazes de encontrar a hora, para a infelicidade de aparecerem nas piores alturas. Qualquer reaparecimento público de Cavaco Silva ou de Durão Barroso é um acontecimento equiparável à permanência de crédito malparado: convoca sempre um ajuste de contas com o passado. Esta semana, ambos reapareceram publicamente para gáudio de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa. Os momentos felizes existem.

Mesmo com a renovação do estado de emergência a contemplar o crime de desobediência, ninguém confina vilões cegamente obedientes ao seu perfil. Cavaco Silva regressa às entrevistas e faz campanha implícita pela reeleição de Marcelo: o reaparecimento do ex-presidente é o melhor espelho sobre as diferenças entre o passado e o presente. Cavaco Silva critica PCP e BE pelo apoio dado à governação de António Costa, destilando que o PCP "de democracia tem pouco", ao mesmo tempo que elogia o acordo alcançado pelo PSD nos Açores com a extrema-direita. Se as presidenciais fossem apenas um exercício de elogio à memória, Marcelo desejaria a sombra de Cavaco como prenda de Natal e aspiração de ano novo. Já Durão Barroso, presidente da Goldman Sachs vindo da porta giratória da Comissão Europeia, interpõe processo de 292 milhões de euros contra a República Portuguesa. Para António Costa, serve-se cherne na ceia de Natal.

No cardápio europeu positivo à covid-19, Emmanuel Macron ascende a uma espécie de teste "super-spreader" de algodão entre heróis e vilões. De uma assentada ibérica, isolou os primeiros-ministros Pedro Sánchez e António Costa, assim como o "seu" primeiro Jean Castex e Charles Michel, presidente do Conselho Europeu. Incapaz de confinar os vilões húngaros e polacos, Macron permitiu o desrespeito pelos mecanismos do Estado de direito e consentiu, com os seus pares, que a extrema-direita continue a condicionar a tomada de decisões na União Europeia. Involuntariamente ou porque o hábito faz o monge, impôs uma quarentena geográfica à esquerda.

Bem para além da moda. Vestir ou não vestir "casaco-camisa-gravata" durante um teste pandémico está longe de ser o único hábito que traça a distinção entre Costa e Marcelo. Se enquanto aguardava o resultado do teste inaugural, o primeiro promovia uma videoconferência, já o segundo simulava um eclipse público. Resta saber se a António Costa e a UE irão continuar a olhar serenamente para os vilões como se estivessem num ecrã, convidando-os a partilhar a casa, esperando que não esperneiem em bicos de pés na altura em que podem discutir a alimentação de todos. É que o inimigo vive dentro e Portugal tem a presidência da UE a partir de Janeiro. Há sinais que remetem para o passado. A ideia de que os princípios não se discutem à boleia dos números, como António Costa defendeu aquando da sua visita a Viktor Orbán, é algo que Durão Barroso não desdenharia abraçar.

*Músico e jurista

O autor escreve segundo a antiga ortografia

MP pede prisão para arguida em julgamento sobre mutilação genital

Em audiência no Tribunal de Sintra, a procuradora do Ministério Público justificou o pedido com base na convicção de que a arguida, cidadã guineense residente em Portugal, "teve conhecimento e consentiu o que foi feito" à sua filha de três anos, Maimuna, durante uma estadia de três meses na Guiné-Bissau.

Quando voltou da viagem à Guiné, em março de 2019, Rugui levou Maimuna a um centro de saúde, alegando que a filha estava vermelha na zona genital, apontando como causa o uso de fraldas no calor do país africano de língua portuguesa.

As enfermeiras que a atenderam identificaram uma infeção urinária e suspeitaram que esta tivesse sido causada por uma excisão genital. Posteriormente, foi pedida uma perícia médica à menina que confirmou essa possibilidade.

Nas alegações finais, a procuradora justificou o pedido de pena de prisão efetiva - não obstante a arguida, de 20 anos, não ter antecedentes criminais - com a "gravidade extrema" do crime, "violação de direitos humanos" para a qual se impõe "tolerância zero".

A procuradora não precisou a duração da pena, mas considerou que só a prisão efetiva será eficaz para punir a conduta da arguida, que acusou de "ocultar a verdade" e de produzir testemunho "inconsistente".

SEF e a burocracia é o pesadelo dos imigrantes em Portugal

José Vieira, há quatro anos à espera de documentos do SEF: “Sinto-me preso”

Ordem dos Advogados denuncia à Provedoria “graves atropelos” do SEF na regularização de imigrantes. Hoje é Dia Internacional das Migrações. José Vieira já descontou mais de seis mil euros para a Segurança Social, mas o único documento que Portugal lhe deu não lhe permite sequer sair do país. Há um ano o PÚBLICO entrevistou-o. Pouco mudou na sua situação de então para cá.

Joana Gorjão Henriques | Público

José Vieira mostra umas folhas A4 dobradas e já gastas nas pontas. No topo tem escrito “manifestação de interesse” — quer dizer que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) recebeu um pedido seu de autorização de residência para trabalhar e está a analisá-lo. 

Contínua 

Imagem: Filipa Fernandez

Conteúdo Exclusivo no Público

Mais lidas da semana