Além de mobilizar redes de
influência, a contratação de ex-governantes portugueses permitiu ao regime de
Luanda exibir as credenciais de responsáveis democráticos de Portugal. Não
foram só advogados e consultores a apoiar e beneficiar do roubo sistemático do
povo de Angola.
António Monteiro
- Ex-Ministro dos Negócios
Estrangeiros PSD
- Ex-administrador da
petrolífera Soco e ex-chairman do BCP indicado pela Sonangol
Depois de ter dirigido o processo
diplomático dos acordos de Bicesse entre o MPLA e a UNITA, Monteiro esteve no
MNE por duas vezes, primeiro como secretário de Estado do ministro Durão
Barroso e depois como ministro de Santana Lopes. Em 2009, quando Cavaco
anunciou uma “parceria estratégica” com o regime de Angola, Monteiro chamou-lhe “O
novo eldorado para Portugal. Tem de ser agora, chegou o momento!"
(Lusa, 11.3.2009).
Martins da Cruz
- Ex-Ministro dos Negócios
Estrangeiros PSD
- Ex-administrador do
Millennium Angola
Martins da Cruz foi assessor
diplomático do primeiro-ministro Cavaco Silva e, depois, MNE do governo Durão
Barroso. Nessa altura, no casamento de uma das filhas do presidente de Angola,
Barroso dizia necessária a “intimidade” entre as elites de Angola e Portugal.
Em 2009, o embaixador Martins da Cruz explicava assim a parceria estratégica
Angola-Portugal anunciada por Cavaco: “Trata-se de criar cumplicidades ao
nível dos decisores políticos dos dois países” (Lusa, 11.3.2009).
Tavares Moreira
- Ex-secretário de Estado do
Tesouro e ex-governador do Banco de Portugal
- Ex-administrador do BAI -
Banco Angolano de Investimentos
O Banco Angolano de Investimentos
arranca em 1996 com um terço de capital português (Crédito Agrícola e várias
construtoras). Tavares Moreira é uma figura de primeiro plano das finanças
portuguesas, secretário de Estado do Tesouro de Cavaco (80-81) e de Cadilhe
(85-86), depois governador do Banco de Portugal entre 1986 e 1992. Mais tarde,
leva à falência o Central - Banco de Investimento (grupo Crédito Agrícola) e é
banido da atividade bancária por sete anos pelo Banco de Portugal. No processo,
é acusado de falsificar as contas de 2001 e recorrer a um offshore para
ocultar prejuízos de 25 milhões de euros. Moreira deixou o Crédito Agrícola,
mas ficou sempre como administrador executivo do BAI/Europa. A reputação do BAI
foi muito afetada por um relatório do Senado norte-americano publicado em 2010.
No
documento(link is external), a Subcomissão de Investigações
considera que “o BAI é exatamente do tipo de instituições financeiras
estrangeiras que o Patriotic Act pretendeu submeter a uma monitorização
reforçada, para evitar o abuso do sistema financeiro dos EUA não só por
criminosos e terroristas, mas também por autoridades corrompidas de países
estrangeiros”.
Fernando Nogueira
- Ex-ministro Adjunto de
Cavaco Silva e ex-presidente do PSD
- Ex-presidente do
Millennium Angola
Nogueira é um dos obreiros da
aliança entre a Sonangol e o grupo vencedor da guerra interna no BCP (Teixeira
Duarte, Joe Berardo, EDP, Stanley Ho). Em maio de 2008, esse grupo formalizou
um acordo, assinado em Luanda pelos então presidentes da Sonangol e do BCP,
Manuel Vicente e Carlos Santos Ferreira. Surge assim a rede de participações
cruzadas da Sonangol com o BCP, a Mota Engil, a Geocapital (Stanley Ho) e o
angolano Banco Privado do Atlântico. É nessa altura que ex-ministros do PSD - Leonor
Beleza e Álvaro Barreto - e também Daniel Bessa, ministro
da Economia de Guterres, entram no BCP como membros do Conselho Geral e de
Supervisão presidido por António Monteiro.
Armando Vara
- Ex-ministro Adjunto PS
- Ex-administrador do BCP e
ex-Presidente da Camargo Correa em Angola
Em 2011, Angola era o maior
beneficiário dos fundos estatais brasileiros de garantia às exportações, com
três mil milhões de dólares. Só em Angola, a construtora Odebrecht tinha então
cerca de 40 mil trabalhadores, assumindo-se como o maior empregador privado do
país. Tem investimentos conjuntos com a Sonangol no etanol, bem como interesses
na hidroeléctricos e petrolíferos. Pelo seu lado, sob a presidência de Vara, a
Camargo Correa estava associada à Escom, do grupo Espírito Santo.