ANGOLA
Referente às declarações na entrevista que apresentamos, do JA, salientamos o breve preâmbulo por Martinho Júnior, angolano, analista e interventor da luta por Angola, com vasta participação no Página Global, nosso camarada e amigo de há anos que se perdem na contagem.
Refere Martinho Júnior:
"SE EM ANGOLA ALGUNS INSISTEM
NO MODELO SUL-AFRICANO A FIM DE RESOLVER AS QUESTÕES QUE SE PRENDEM ÀS VÍTIMAS
DOS CONFLITOS, HÁ QUE SUBLINHAR O FACTO DE QUE GOVERNO ALGUM DA ANGOLA
INDEPENDENTE PODE SER COLOCADO AO NÍVEL DO GOVERNO DO "APARTHEID" E
PORTANTO NÃO PODE HAVER CÓPIA, MAS UMA OUTRA SOLUÇÃO, TAMBÉM ELA NUM QUADRO
DUMA ANGOLA INDEPENDENTE E SOBERANA, NASCIDA DA LUTA DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA
PORQUE ANGOLA ERA VÍTIMA DA OPRESSÃO, ENQUANTO O "APARTHEID" ERA A
OPRESSÃO E FAZIA PARTE DA OPRESSÃO MAIOR, A DO ÂMBITO DA IIIª GUERRA MUNDIAL
NASCIDA NO MESMO DIA EM
QUE ACABOU A IIª, HÁ 75 ANOS!... (MJ) "
ENTREVISTA
“O 27 de Maio
foi uma sucessão de erros políticos históricos lamentáveis”
Santos Vilola | Jornal de Angola
| 28 de Maio, 2020
Há 43 anos acontecia em Angola
uma purga precipitada por acontecimentos políticos e ideológicos do regime do
MPLA, que proclamou a Independência do país a 11 de Novembro de 1975. Morreu
muita gente vítima da perseguição política do regime e, também, da acção de
insurgentes contra o poder político estabelecido. O ministro Francisco Queiroz
esclarece, ao Jornal de Angola, que os crimes cometidos nos acontecimentos que
ficaram conhecidos como “fraccionismo” foram amnistiados ao longo dos anos de
governação.
Em 2018, na pessoa do ministro
Francisco Queiroz, o Governo reconhecia publicamente ter havido excessos em
relação a alguns acontecimentos do passado. Que excessos são esses?
Desde 2018 até agora, o estudo do fenómeno do 27 de Maio aprofundou-se bastante graças ao trabalho envolvente e abrangente da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos, criada pelo Despacho 73/19, de 16 de Maio, do Presidente João Lourenço. Essa comissão tem estado a reunir e a debater vários assuntos voltados à reconciliação e avalia todos os episódios que envolveram violência política e que geraram vítimas. Portanto, o estudo destes fenómenos levaram a perceber melhor o 27 de de Maio.
Desde 2018 até agora, o estudo do fenómeno do 27 de Maio aprofundou-se bastante graças ao trabalho envolvente e abrangente da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos, criada pelo Despacho 73/19, de 16 de Maio, do Presidente João Lourenço. Essa comissão tem estado a reunir e a debater vários assuntos voltados à reconciliação e avalia todos os episódios que envolveram violência política e que geraram vítimas. Portanto, o estudo destes fenómenos levaram a perceber melhor o 27 de de Maio.
Como é que o Governo vê, hoje, os
acontecimentos do 27 de Maio?
Na verdade, tratou de uma sucessão de erros políticos históricos muito lamentáveis, com impacto muito forte na sociedade. E o que se pretende é que não voltem a acontecer esses erros. Mas esses erros enquadram-se num contexto histórico muito complexo. Tratou-se de erros que ocorreram num período caracterizado pela Guerra Fria (em que estavam em confronto duas grandes potências - os Estados Unidos e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e todos os Estados viviam ou na constelação de uma ou na de outra potência. Era um contexto complicado do ponto de vista da hegemonia que cada um queria ter sobre o mundo. Também era um período em que o Estado só tinha cerca de um ano e meio de existência. Não tinha ainda a consolidação das instituições e, mesmo, a capacidade endógena dos próprios angolanos para gerirem o país, como temos hoje. Um ano e meio de independência é nada.
Na verdade, tratou de uma sucessão de erros políticos históricos muito lamentáveis, com impacto muito forte na sociedade. E o que se pretende é que não voltem a acontecer esses erros. Mas esses erros enquadram-se num contexto histórico muito complexo. Tratou-se de erros que ocorreram num período caracterizado pela Guerra Fria (em que estavam em confronto duas grandes potências - os Estados Unidos e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e todos os Estados viviam ou na constelação de uma ou na de outra potência. Era um contexto complicado do ponto de vista da hegemonia que cada um queria ter sobre o mundo. Também era um período em que o Estado só tinha cerca de um ano e meio de existência. Não tinha ainda a consolidação das instituições e, mesmo, a capacidade endógena dos próprios angolanos para gerirem o país, como temos hoje. Um ano e meio de independência é nada.
Foi só isso?
Não, também ainda estava muito presente a questão da luta de libertação nacional. Os problemas enormes de vária índole e muito complexos que se viveram durante a luta de libertação, ainda estavam bastante presentes na mente daqueles que lutaram pela libertação do país. Por outro lado, também se vivia muito os efeitos da colonização. Do ponto de vista psicológico ainda não estávamos libertados. Tínhamos a independência, mas ainda não estávamos livres do domínio colonial. Os efeitos da colonização ainda eram muito presentes. E vivia-se um período de grande entusiasmo revolucionário. A juventude, sobretudo, vivia com entusiasmo esse momento empolgante. Havia um romantismo - aquilo que o escritor Pepetela chamou de “geração da utopia”, do socialismo e do comunismo. Tudo isso estava muito presente na sociedade, mas, sobretudo na juventude.
Não, também ainda estava muito presente a questão da luta de libertação nacional. Os problemas enormes de vária índole e muito complexos que se viveram durante a luta de libertação, ainda estavam bastante presentes na mente daqueles que lutaram pela libertação do país. Por outro lado, também se vivia muito os efeitos da colonização. Do ponto de vista psicológico ainda não estávamos libertados. Tínhamos a independência, mas ainda não estávamos livres do domínio colonial. Os efeitos da colonização ainda eram muito presentes. E vivia-se um período de grande entusiasmo revolucionário. A juventude, sobretudo, vivia com entusiasmo esse momento empolgante. Havia um romantismo - aquilo que o escritor Pepetela chamou de “geração da utopia”, do socialismo e do comunismo. Tudo isso estava muito presente na sociedade, mas, sobretudo na juventude.