sábado, 3 de outubro de 2020

Gasoduto explosivo no Mediterrâneo

Manlio Dinucci*

A guerra que começa no Mediterrâneo, deve estabelecer quem terá o direito de explorar as jazidas de gás e quem pode transportá-lo. Contrariamente a uma ideia recebida, a Turquia não está só a abusar militarmente dos seus vizinhos, como também reivindica direitos que nunca foram definidos, mas que não representavam nenhum problema importante até agora.

o Mediterrâneo Oriental, em cujas profundezas foram descobertas grandes jazidas offshore de gás natural, está em curso um contencioso acirrado sobre a definição de zonas económicas exclusivas, dentro das quais (até 200 milhas da costa) cada um dos países costeiros tem o direito de explorar essas reservas. Os países directamente envolvidos são a Grécia, a Turquia, o Chipre, a Síria, o Líbano, a Palestina, Israel, (cujas jazidas, nas águas de Gaza, estão nas mãos de Israel), o Egito e a Líbia. O confronto é particularmente tenso entre a Grécia e a Turquia, ambos países membros da NATO. A aposta em jogo não é só económica.

A verdadeira discórdia que se joga no Mediterrâneo Oriental é geopolítica e geoestratégica e envolve as grandes potências mundiais. Neste âmbito insere-se o EastMed, o gasoduto que trará para a União Europeia grande parte do gás desta área. A sua realização foi decidida na cimeira, realizada em Jerusalém em 20 de Março de 2019, entre o Primeiro Ministro israelita Netanyahu, o Primeiro Ministro grego Tsipras e o Presidente cipriota Anastasiades.

Netanyahu salientou que "o gasoduto se estenderá de Israel à Europa através do Chipre e da Grécia" e Israel tornar-se-á assim uma "potência energética" (que controlará o corredor energético para a Europa), Tsipras sublinhou que "a cooperação entre Israel, a Grécia e o Chipre, na sexta cimeira, tornou-se estratégica».

Angola | "Dino" e "Kopelipa" vão ser ouvidos terça-feira na PGR

Os generais angolanos não podem ser presos preventivamente antes do despacho de pronúncia, pois "gozam de imunidades", avançou fonte ao Jornal de Angola. Ambos foram constituídos arguidos por alegado desvio de fundos.

Os generais Leopoldino do Nascimento "Dino" e HélderVieiras Dias Júnior "Kopelipa" foram constituídos arguidos e serão ouvidos, terça-feira (06.10), pela Direção Nacional de Investigação e Ação Penal (DNIAP) da Procuradoria-Geral da República (PGR), noticia o Jornal de Angola este sábado (03.10).

Os generais "Dino" - antigo chefe das Comunicações do ex- Presidente angolano, José Eduardo dos Santos - e "Kopelipa", ex-ministro de Estado e chefe da Casa Militar (atual Casa de Segurança do Presidente), também na altura de José Eduardo dos Santos, terão beneficiado de contratos celebrados entre o Estado e a empresa China International Fund (CIF), no âmbito do extinto Gabinete de Reconstrução Nacional, detalha o jornal, citando fonte da PGR angolana.

Segundo a mesma fonte, também citada pela agência de notícias Lusa, os generais vão ser ouvidos na condição de arguidos para lhes serem aplicadas as respetivas medidas de coação, mas não podem ser presos preventivamente antes do despacho de pronúncia, na fase de instrução contraditória, pois "gozam de imunidades".

"Os oficiais generais das Forças Armadas Angolanas e comissários da Polícia Nacional não podem ser presos sem culpa formada, exceto se em flagrante delito, por crime doloso punível com pena de prisão superior a dois anos", explicou.

Angola | Não estará a Fundação AAN, uma vez mais, a exceder-se?

Quer-me parecer que esta polémica relacionada com o cidadão Carlos Manuel de São Vicente e a eventual cativação de contas na Suíça e o comunicado da Fundação António Agostinho Neto (FAAN), ainda vai criar um bom imbróglio à Fundação.

Eugénio Costa Almeida* | Pululu | opinião

Primeiro o cidadão em causa, quer a FAAN queira, quer não queira, é genro do Dr. António Agostinho Neto (AAN) (mesmo que o casamento tenha sido pós-morte do primeiro Presidente de Angola – a redundância, logo na primeira linha de terem escrito “república popular”, ainda por cima, em letras minúsculas, porque era mesmo nome da República e não, só, o tipo de sistema, faz parecer estarem saudosos desta tipologia republicana – não deixa de ser genro; salvo se está separado da filha de AAN e não o sei);

Segundo, o cidadão em causa, creio que não está detido, nem é arguido na Suíça ou em Angola – e só me refiro à cativação dos cerca de 900 milhões de dólares das contas particulares do antigo presidente da seguradora da Sonangol, a AAA, S.A. – mas as autoridades suíças aguardam por clarificação da proveniência dos referidos fundos;

Terceiro, a FAAN em vir a terreiro fazer as acusações que está a fazer de falta de respeito pelo primeiro Presidente de Angola, num caso de Justiça que, por acaso, tem como figura principal um genro de AAN, é não só absurdo, como parece ser extemporâneo na sua extensão; fico com a ideia, e este já não é um primeiro comunicado em que a FAAN parece “se estender a todo o comprido” por inoportuno e inconsequente, que já será altura da Fundação rever que está à sua frente, ou seja, quem a gere e, caso a República de Angola tenha alguma participação na Fundação, mesmo esta sendo oficialmente privada, do Ministério correspondente levantar esta questão, e substituir os gestores que não parecem defender, devidamente não só a Fundação como, e agora sublinho, reproduzindo uma das frases do comunicado, o primeiro Presidente de Angola, pelo «seu nome e a sua memória de pessoa falecida merecem o respeito de qualquer país» (não compreendo aqui o porquê de o “qualquer país” (sic no comunicado, 2º§, 5ª linha), como se nós fossemos mais que um País);

Finalmente, não vi, até hoje, qualquer acusação ao cidadão, em causa, nem à Fundação, mas, tão-só meros factos associados. Provavelmente se dissessem “Fulano de tal”, que, tal como eu, muitos não se recordariam quem fosse, a primeira impressão, normal na “vox populi”, é, ou seria, mais um que fugiu com dinheiro do Povo, ou seja, era já condenado sem que um qualquer Tribunal – Nacional ou estrangeiro – o fazer ou sem ser um arguido; facto normal na actual “zoocidade”.

Identificando o cidadão, no caso o senhor Carlos São Vicente, talvez as pessoas sejam mais comedidas no que tange a AAN – para a maioria tem uma imagem positiva e que, para muitos só terá mácula na questão do 270577 – ao contrário do que seria se o cidadão tivesse algo com a família do Presidente José Eduardo dos Santos – uma imagem mais recente e que muitos associam a factos menos claros na gestão do País.

Repito, até porque o nome de António Agostinho Neto não é propriedade de uma Família ou de uma Fundação, mas da História de Angola, que será altura de ser revistos os Estatutos da Fundação e o seu verdadeiro enfoque organizacional.

Não é a primeira vez, nem será a última se isto não acontecer. Para a Fundação – melhor, par certas pessoas que estão na Fundação – e para alguns membros da Família de AAN nada se pode fazer ou escrever sobre o mesmo sem lhes solicitarem autorização.

Repiso, de novo, o nome de António Agostinho Neto, a partir do momento que se tornou numa figura pública e no primeiro Presidente de Angola, deixou de ser titularizado pela Família ou pela sua Fundação, mas é um incontornável Nome da História de Angola

Para o mal ou para o bem – cada um interprete como entender -, primeiro, Agostinho Neto, Jonas Savimbi, Holden Roberto, como Nacionalistas, e depois, no caso de AAN, tal como no de José Eduardo dos Santos ou, agora, de João Manuel Gonçalves Lourenço, como Presidentes, ao entrarem no galarim da Vida Nacional deixaram de ser meros nomes familiares e de familiares, mas Nomes da nossa História.

É bom que certas mentalidades comecem a entrar no século XXI e no direito ao livre pensamento, em que este entre na injúria como parecem, muitos querer fazer crer só porque não seguem as “linhas orientadoras” habituais!

#Publicado em Pululu e em Folha 8 (05.09.2020)

*Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português | Ph.D - Investigador/Researcher/Pós-Doutorando

Investigador em: CEI-IUL (ISCTE-IUL)  e  CINAMIL (Military Academy Research Center
Perfil Ciência-IUL
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Angola: Irene Neto queixa-se de "massacre judicial e mediático"

A filha do primeiro Presidente angolano, Agostinho Neto, e mulher do empresário Carlos São Vicente, apela à libertação do marido, que disse estar "preso injustamente".

Num comunicado enviado à agência de notícias Lusa, esta sexta-feira (02.10), a médica, também membro do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) lamenta a falta de solidariedade dos camaradas de partido e afirma estar atualmente sem meios para pagar as suas despesas quotidianas, depois de ver as suas contas congeladas.

"Tenho as minhas contas bancárias congeladas. Estou sem meios para prover as despesas quotidianas. A vingança sobre mim e a minha família chegou a um ponto muito próximo de práticas fascistas de triste memória", lamenta Irene Neto, acrescentando que não se vai render "à chantagem, ao abuso de poder, a uma justiça travestida de polícia política".

PAIGC quer liderar governo de unidade nacional na Guiné-Bissau

Partido liderado por Domingos Simões Pereira exige a formação de um novo governo de unidade nacional, que propõe liderar. Delegação do PAIGC já esteve reunida com Umaro Sissoco Embaló para analisar a situação política.

É a segunda vez, no espaço de um mês, que o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) vai ao Palácio da República para se reunir com o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, sobre a adesão da formação política vencedora das últimas eleições ao atual Governo liderado por Nuno Nabiam.

No último encontro, o Presidente convidou o "partido dos libertadores" a integrar o Executivo, composto por partidos da "nova maioria parlamentar". O PAIGC divulgou a sua resposta esta quinta-feira (01.10).

"(O PAIGC), sendo o partido vencedor das eleições legislativas, é mais lógico que seja esse partido a liderar um governo de unidade nacional", declarou o terceiro vice-presidente do PAIGC, Califa Seidi, à saída da audiência com Sissoco Embaló. "Estamos num processo de diálogo e de entendimento e havemos de chegar a um consenso", acrescentou.

Califa Seide defende a participação de todos os partidos representados no Parlamento. "Continuamos a insistir que é fundamental que se encontre uma solução governativa com base na participação de todas as formações políticas representadas na Assembleia Nacional Popular (ANP). Foi isso que transmitimos outra vez a Sua Excelência [Presidente da República]."

Portugal/covid-19 | Mais 963 casos e 12 mortes: terceiro dia com mais infetados

Portugal registou nas últimas 24 horas mais 12 vítimas mortais e 963 novos casos decovid-19. Recuperaram mais 486 pessoas. No total, desde o início da pandemia, morreram 1995 pessoas em Portugal e 78247 foram infetadas.

O número de novos infetados, que na sexta-feira foi de 888, salda-se hoje em 963, revela o boletim diário da Direção-Geral da Saúde. É o terceiro aumento diário mais alto desde o início da pandemia, só atrás dos 1035 casos registados a 31 de março e dos 1516 de dia 10 de abril. Há mais 465 doentes ativos face a ontem, de um total de 26.407, e mais 486 doentes recuperados (de 49.845).

Dos novos casos, 440 foram registados na região de Lisboa e Vale do Tejo (que contabiliza 39.928), o que representa 45,6% do total de infetados. Segue-se o Norte, com mais 362 casos (37,5%), de 28.094. No Centro, há mais 60 infetados (em 6354), no Alentejo mais 43 (em 1555) e no Algarve mais 49 (1792). O arquipélago da Madeira soma mais sete infetados, de um total de 242, e nos Açores há mais dois casos, elevando o quadro global para 282.

Face ao último balanço, morreram em Portugal mais 12 pessoas com covid-19, elevando para 1995 o número total de mortes por covid-19. Seis vítimas mortais foram registadas em Lisboa e Vale do Tejo, três no Norte, duas no Centro e uma no Alentejo.

Rita Salcedas | Jornal de Notícias

Portugal | CGTP-IN: realização e futuro

Manuel Carvalho Da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Tem sido relevado o papel da CGTP-IN na sociedade portuguesa a propósito da evocação dos seus 50 anos e, com toda a justiça, o presidente da República (PR), por proposta do primeiro-ministro, anunciou que lhe vai conferir o título de Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique.

No texto em que justifica a atribuição daquela distinção e felicita a central sindical, o PR reconhece que ela esteve "presente em todos os lances decisivos da transição para a democracia e da vigência da Constituição da República Portuguesa, em tudo o que respeitasse ao trabalho e aos trabalhadores". À análise desse percurso, o JN e alguns outros órgãos da Comunicação Social já deram significativo relevo. Debrucemo-nos, então, sobre perspetivas com vista ao futuro.

As condições para a ação coletiva daqueles que dependem quase exclusivamente do salário fragilizaram-se substancialmente nas últimas décadas na generalidade dos países capitalistas desenvolvidos. Os processos de desindustrialização, a que estão associadas novas formas de organização da produção, combinadas com a implementação de tecnologias que reduzem postos de trabalho, despovoaram o chão da fábrica onde se sedimentavam as solidariedades operárias. A fragmentação da produção ao longo de cadeias (muitas delas globais), as formas diversificadas de subcontratação e de trabalho dependente disfarçado de prestações de serviços, a par do uso e abuso de contratos de curto prazo e de trabalho temporário, desfiguraram as empresas transformando-as em plataformas precárias, que consolidam e aprofundam a mercantilização do trabalho.

Entretanto, as causas dos obstáculos que impedem o estabelecimento de laços de solidariedade - requisito da ação coletiva - são também fatores que põem em evidência a necessidade de novas solidariedades, de organização e ação conjunta. O futuro pode surpreender-nos com um novo fôlego do sindicalismo preconizado por novas gerações que, não tendo a memória e a experiência de lutas antigas, as redescobrem ao identificarem laços de pertença coletiva e ao exporem, perante si e perante os outros, as injustiças e inseguranças a que estão sujeitos. Os processos de subjugação podem ser longos, mas não são eternos.

O futuro é sempre uma construção e nunca está pré-escrito. Os trabalhadores em geral, e os mais jovens em particular, estão "condenados" a descobrir formas de enfrentar as consequências de uma economia que tolhe horizontes e lhes mata sonhos. A crise expôs o enorme valor e a centralidade do trabalho. Os sindicatos são importantes e há que tratar devidamente dos seus poderes para que possam ser eficazes.

Quanto mais complexo é o contexto em que vivemos, mais os sindicatos precisam de reforçar alianças no seu próprio seio e com a sociedade (salvaguardando a sua independência), para que as suas propostas sejam consistentes e os apoios à sua ação se ampliem. A história da CGTP-IN ensina-nos isso. Mostra-nos que a unidade potencia a capacidade de agir. Que é preciso superar fronteiras partidárias e outras, e deitar mão das contribuições de todas as sensibilidades que se expressam num sindicato ou numa central, para reforçar a sua organização e ação.

*Investigador e professor universitário

Marcelo reeleito à primeira volta. Ana Gomes à frente de André Ventura

Os resultados de uma sondagem SIC/Expresso sobre as eleições presidenciais.

Se as eleições presidenciais fossem hoje, Marcelo Rebelo de Sousa ganhava à primeira volta, com 65% dos votos, revela o estudo do ICS e do ISCTE feito para a SIC e para o Expresso.

A antiga eurodeputada Ana Gomes ficaria em segundo lugar, com 12%, e André Ventura, que ameaçou colocar o cargo de presidente do partido à disposição caso fique atrás da socialista, surge em terceiro, com 8% das intenções de voto.

No que diz respeito aos restantes candidatos, Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, obtém 7%, um resultado aquém dos 10,12% alcançados em 2016.

João Ferreira, apoiado pelo PCP, não vai além dos 6% e a opção "Outros candidatos" reúne apenas 1% das intenções de voto.

Sondagem SIC/Expresso

Madrid 'fechado' para travar a pandemia: "Isto devia ter sido feito há semanas"

Os cidadãos não podem sair nem entrar da cidade, a não ser para trabalhar ou questões de força maior. As novas restrições entraram em vigor esta noite

Ninguém entra e ninguém sai. A partir das 22h00 desta sexta-feira (hora espanhola), as restrições em Madrid aumentaram e os madrilenos não podem sair nem entrar da cidade a não ser para trabalhar ou por questões de força maior. Não se trata de um confinamento, uma vez que não se impede que os cidadãos saiam de casa, a ordem é apenas para evitar as deslocações entre municípios e tentar controlar pandemia.

As restrições que entram esta noite em vigor incluem ainda o fecho de bares e restaurantes às 23h00, a redução dos ajuntamentos para seis pessoas e a limitação da lotação para 60% em espaços abertos e 50% em espaços fechados.

As medidas têm posto em pé de guerra o Governo e a Comunidade de Madrid que apesar de ter acatado a decisão do Executivo, já recorreu aos tribunais para pedir medidas cautelares que permitam voltar atrás nas restrições que, consideram, "vão arruinar" a capital.

No entanto, mesmo num bairro como Chamberi, onde o Partido Popular, formação que governa na Comunidade, é o mais votado em todas as eleições, a maioria dos madrilenos está de acordo com as medidas e muitos consideram-nas até insuficientes.

"Tudo isto já vem tarde. Madrid está a cair no ridículo. Deviam ter-se tomado medidas, como no resto das comunidades, antes do verão, ou no início do verão", diz Pablo Rodríguez. Sentada na esplanada ao seu lado, Sara López considera que são insuficientes: "Pelo menos agora está a fazer-se alguma coisa, mas vão ter que se endurecer nas próximas semanas porque, em Madrid, os hospitais já estão à beira do colapso outra vez".

Com o número de contágios a crescer todos os dias, os cidadãos não percebem porque se demorou tanto tempo a adoptar estas normas. "Com os números que estamos a ter, tudo isto deveria ter sido feito há semanas", conta Pedro Domínguez. Antonio Gálvez alinha pelo mesmo discurso: "São poucas e chegam tarde. Há muito tempo que deviam ter feito isto", diz, indignado. "Devia ter-se feito antes e mais... e assim tudo isto ia durar menos".

EUA | Presidente hospitalizado… Mais uma “fake news” à laia de Trump?

Cão que nos morde não merece confiança”, sempre assim foi sentido e dito, praticamente por todo o mundo. A falta de confiança em Trump, para os norte-americanos, para o mundo, permite que desconfiemos da declarada atual situação sobre a saúde de Trump – contagiado com covid-19. 

Desonesto e manipulador como ele tem sido ao longo da sua vida e no exercício da presidência do país, o anúncio sobre ter sido vítima de contágio do vírus pode muito bem ser uma encenação que lhe proporcione aumento das probabilidades de ser reeleito. Uma jogada à laia de Trump.

Com gente do estilo tenebroso e hediondo como Trump, todas as falcatruas e manipulações são possíveis e são de tomar em conta. Desconfiemos pois sobre a alegada contaminação por covid-19 de Trump. Tenhamos, isso sim, a certeza das suas responsabilidades nas mortes de muitos milhares de cidadãos dos EUA devido a terem contraído o vírus por o presidente ter ficado indiferente, divagante e até incrédulo (inoperante) sobre o grau de perigosidade que o vírus representa para a espécie humana. 

Talvez mais perigoso que o covid-19 é o próprio Trump, um vírus perigosíssimo na presidência dos EUA, como tem demonstrado.

Fiquemos atentos ao espetáculo de mais uma provável “fake news” à laia de Trump.

A seguir a notícia da hospitalização... e ainda mais sobre o vírus presidencial. Muita tinta há-de correr...

Redação PG

Quando tudo pode servir para ajudar uma reeleição...

...mas como ficam os peões intermédios?

Eugénio Costa Almeida* | Pululu | opinião

Pode parecer mera coincidência. Mas quando, por norma os norte-americanos desconfiam de coincidências, principalmente quando está em jogo uma reeleição presidencial, então poderemos pensar que tudo pode servir para o senhor Donald Trump procurar a sua (natural) reeleição presidencial.

Depois de nada ter ligado às questões internacionais, excepto as disputas económicas com a China, agora faz avançar as tropas norte-americanas em duas frentes e contras duas grandes potências – uma antiga (ou renascida) superpotência e outra cada vez mais próxima de o ser – ou seja, Rússia e China.

No Mar da China, está um flotilha norte-americana a procurar salvaguardar a livre navegação em zonas reivindicadas pela China, Japão, Vietnam, Malásia e Taiwan (onde o Secretário de Estado, Mike Pompeo, esteve em visita e, com ele, aviões da República Popular da China a sobrevoar espaço aéreo considerado nacionalista - ver em: https://observador.pt/2020/09/17/avioes-de-guerra-da-china-sobrevoam-taiwan-coincidindo-com-visita-de-diplomata-norte-americano/).

O certo é que, segundo o site do “China Morning Post” citando alguns analistas asiáticos, há já países da área do Sudeste Asiático (Filipinas, Singapura e Malásia) que começam a perceber que, num caso de uma guerra EUA-China,dificilmente poderão ser neutros e a dissecam os prós-e-contras de quem deverão apoiar, e cito, «(que) superpotências em conflito em seu próprio quintal» (ver em: https://www.scmp.com/week-asia/politics/article/3101977/us-china-war-whose-side-southeast-asia-philippines-singapore-and)

Na Síria, quando tudo parecia indicar que o senhor Trump ia mandar regressar as tropas norte-americanas, dado já ter expulso e derrotado o Estado Islâmico (#Daesh) (mais ou menos sic) eis que volta atrás e para gáudio dos seus apoiantes multimilionários petrolíferos (será que é mesmo para interesse destes ou interesses eleitorais de Trump) mandou ficar as tropas para defesa do petróleo sírio. E, com isso, parece ter criado algum esbarro com as forças russas na área.

Recentemente, um grupo de viaturas militares norte-americanas terão sido abalroadas por uma outra coluna russa, com feridos entre os militares norte-americanos. A consequência foi o comando norte-americano em reforçar tropas na área (perto de 100 soldados, blindados, sistemas de radar e caças – ler em: Público, de 20.Set.2020, pág. 24) para, e cito, «“garantir que são capazes de derrotar a missão do ISIS [Daesh] sem interferências” (segundo o oficial Bill Urban, porta-voz do Comando Central americano, em resposta ao The New York Times, e que reforça) “Os EUA não procuram o conflito com nenhuma nação na Síria, mas não deixarão de defender as forças da coligação, se isso for necessário” (ler em: Público, de 20.Set.2020, pág. 24); mas “segundo um alto responsável militar ouvido pela agência sob anonimato, os reforços visam avisar a Rússia para evitar acções provocatórias contra os EUA e os seus aliados na zona”» (idem).

Tudo muito interessante, principalmente a altura e quando todos sabemos que os norte-americanos respeitam muito os feitos extramuros no que tange à defesa da imagem militar norte-americana.

Algo que, recordemos, o senhor Trump, não poucas vezes, desprezou, como recordamos o que ele pensava de um antigo candidato presidencial republicano, John McCain, que esteve cativo de forças vietcongs e norte-vietnamitas durante 3 anos e que Trump, por mais de uma vez, destratou, ao ponto de McCain exigir que Trump não se fizesse presente no seu funeral…

(imagem montada a partir da internet)

*Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português | Ph.D - Investigador/Researcher/Pós-Doutorando

Investigador em: CEI-IUL (ISCTE-IUL)  e  CINAMIL (Military Academy Research Center
Perfil Ciência-IUL
SAJE Members editors (Society of African Journal Editors) - Academia.edu: http://iscte.academia.edu/Eug%C3%A9nioCostaAlmeida)
FCT-CV Ciência ID: https://www.cienciavitae.pt/F11C-3AF7-B4D7
(página pessoal: https://elcalmeida.net)

Retrato do Império, em etapa decrépita

#Publicado em português do Brasil

Um olhar antropológico sobre o declínio sociopolítico e cultural dos EUA. Como o país, triunfante há trinta anos, afundou em desigualdade, conflagração interna, retrocesso e prostração. O que o diagnóstico diz, também, sobre o Brasil

Wade Davis, na Rolling Stone | em Outras Palavras | Tradução de Simone Paz

Donald Trump, enfim, adoeceu de covid — depois de sua negligência e a de governantes como ele e Jair Bolsonaro provocarem a morte desnecessária de centenas de milhares. Mas os Trump, os Bolsonaro e os Duterte são a causa de nossos males ou a consequência de um declínio anterior, que precisa ser enxergado, se quisermos revertê-lo?

As reflexões do texto a seguir, do antropólogo colombiano-canadense Wade Davis, são uma provocação para norte-americanos, brasileiros e para todo o Ocidente. “Quando todas as suas antigas certezas revelam-se mentiras, quando a promessa de uma vida boa para uma família trabalhadora é quebrada com o fechamento de fábricas ou com líderes corporativos enriquecendo a cada dia, criando empregos no exterior, o contrato social é irrevogavelmente quebrado”, diz ele em certo trecho — de extrema utilidade para explicar também a emergência do bolsonarismo, cujas causas a maior parte da esquerda brasileira ainda partece não ter compreendido.

A análise rasgante do texto levou “Outras Palavras” a traduzi-lo — apesar de nossas reservas aos preconceitos eurocêntircos do autor diante da China, com os quais não nos associamos. A leitura, ainda assim, é instigante, provocadora e indispensável (A.M.)

Nunca vivemos antes a experiência de um fenômeno tão global. Pela primeira vez na história mundial, toda a humanidade, informada graças ao alcance  — até então inédito — da tecnologia digital, viu-se unida e focada na mesma ameaça existencial, consumida pelos mesmos medos e incertezas — e antecipando-os ansiosamente junto com as promessas ainda não alcançadas pela ciência médica

Ao longo de poucos meses, a civilização foi derrubada por um parasita microscópico 10 mil vezes menor do que um grão de sal. O Covid-19 ataca nossos corpos físicos, mas também os alicerces culturais de nossas vidas, a caixa de ferramentas de comunidade e conectividade, que para os seres humanos equivalem ao que garras e dentes representam para os tigres.

Nossas intervenções, até agora, concentraram-se principalmente em mitigar a taxa de disseminação, para achatar a curva de mortalidade. Não há tratamento disponível, nem a certeza de uma vacina no horizonte próximo. A vacina mais rápida já desenvolvida na história foi a da caxumba. Demorou quatro anos. O Covid-19 matou 100 mil estadunidenses em quatro meses. Há algumas evidências de que a infecção natural pode não implicar imunidade, o que faz alguns questionarem a eficácia de uma vacina, supondo que ela seja desenvolvida. Além do mais, ela deve ser segura. Se a população global for imunizada, complicações letais na proporção de apenas uma pessoa para cada mil significam a morte de milhões

Pandemias e pestes costumam mudar o curso da história, e nem sempre de uma maneira imediatamente evidente para os que sobrevivem. No século XIV, a Peste Negra dizimou quase metade da população da Europa. A escassez de mão de obra levou ao aumento dos salários. As expectativas crescentes culminaram na revolta camponesa de 1381, um ponto de inflexão que marcou o início do fim da ordem feudal que dominou a Europa medieval por mil anos.

A pandemia da covid será lembrada como um desses momentos da história, um evento seminal cujo significado só se revelará na esteira da crise. A pandemia vai marcar nossa era tanto quanto o assassinato do arquiduque Ferdinando em 1914, a Grande Depressão de 1929 e a ascensão de Adolf Hitler em 1933 tornaram-se referências fundamentais do século passado. Todos mensageiros de resultados e consequências maiores.

Dívida, terra e dinheiro

#Publicado em português do Brasil

– De Polanyi à Nova Arqueologia Económica

Michael Hudson [*]

Os anos de formação de Karl Polanyi, no rescaldo da Primeira Guerra Mundial, foram um período de turbulência monetária. Os Estados Unidos da América tornaram-se, pela primeira vez, uma nação credora e exigiram o pagamento das dívidas de guerra, que Keynes avisou serem impagáveis sem destruir os sistemas financeiros da Europa (Hudson, Super Imperialism, 1972, faz um resumo desta era). A França e a Grã-Bretanha submeteram a Alemanha ao pagamento de reparações insustentavelmente elevadas, ao mesmo tempo que impunham austeridade às suas próprias economias, aderindo ao padrão de ouro. Jacques Rueff, em França, e Bertil Ohlin, nos Estados Unidos da América, argumentaram que a Alemanha poderia pagar qualquer nível de reparações em ouro - e os Aliados poderiam pagar as suas dívidas militares denominadas em moeda estrangeira - impondo um desemprego suficientemente alto para fazer com que os seus salários fossem suficientemente baixos para tornar os seus produtos suficientemente baratos para gerar um excedente comercial suficientemente grande para pagar o seu serviço de dívida.

A maioria dos países seguiu a ideia do dinheiro sólido ("hard money"), de que o dinheiro era (ou podia tornar-se num substituto de) uma mercadoria, sendo convertível em ouro. Essa ideia, defendida de forma muito notória pelos austríacos Ludwig von Mises e Friedrich von Hayek, resultou numa deflação monetária. Foi uma repetição do que tinha já ocorrido depois de 1815, quando o banqueiro David Ricardo insistiu em que o regresso ao padrão-ouro restabeleceria o equilíbrio face a quaisquer pagamentos de dívida externa ou subsídios militares. Afirmou que qualquer défice desses pagamentos seria automaticamente reciclado sob a forma de procura de importações provenientes da economia "pagadora de capital" por parte do país beneficiário. Não se verificou qualquer equilíbrio desse tipo.

Quando o padrão-ouro foi reinstituído após a Primeira Guerra Mundial, as economias foram espremidas de dinheiro para reduzir os seus preços e salários, numa tentativa fútil de pagar as suas dívidas. Rueff, Ohlin e Hayek afirmaram que impor às economias devedoras esta deflação e pobreza representaria (e deveria representar) um equilíbrio estável.

Tudo – incluindo dinheiro, terra e trabalho – era visto como uma mercadoria cujo preço seria fixado de forma justa pela oferta e procura, sendo a "procura" corroída pelo serviço da dívida, pago sem limites aos credores. A criação de dinheiro devia ser mantida fora das mãos dos governos, porque, como Margaret Thatcher parafraseou da ideologia de Hayek: "Não existe tal coisa como a sociedade". Existe (e deve existir) apenas um mercado – um mercado que é inevitavelmente dominado por fortunas financeiras, bancos e donos de propriedades.

Polanyi culpou a imposição da ideologia do mercado livre pela rotura do pós-guerra e pela Grande Depressão. Escrevendo que "A década de 1920 viu o prestígio do liberalismo económico no seu auge", ele previu que, "Sem dúvida, a nossa era será vista como o fim do mercado autorregulador" (Polanyi, 1944: 148). Ele esperava que o caos resultante da implementação desta ideologia maníaca demonstrasse a falácia das afirmações de que os mercados são autorreguladores e podem ser desencastrados ("disembedded") do seu contexto social regulatório sem que isso cause destruição económica, desemprego e pobreza.

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