Daniel Oliveira* | TSF | opinião
Daniel Oliveira afirma que, ao avançar com datas e metas para o desconfinamento, o Presidente da República assumiu funções executivas, e que isso é um problema, tanto a nível constitucional como em termos práticos.
No espaço de opinião que ocupa semanalmente na TSF, o jornalista lembrou que não existe qualquer comissão científica de apoio ao Governo para definir essas metas, que o que existe, sim, são opiniões diferentes de diferentes especialistas, e que Marcelo limitou-se a escolher as que achou mais acertadas. Mas, para o comentador, a definição dos critérios para o desconfinamento tem de ser clara, basear-se em pareceres rigorosos, ter em conta todos os factos em causa e não mudar "conforme o humor da opinião pública e as necessidades políticas de cada decisor".
Embora o Presidente da República tenha afirmado, na sua intervenção a propósito do prolongamento do estado de emergência, que "não seguia os humores dos portugueses", Daniel Oliveira considera que Marcelo "não fez outra coisa desde o início da pandemia".
"Em março, quando o país se
assustou, Marcelo Rebelo de Sousa fechou-se
"Marcelo é uma espécie de barómetro exagerado dos humores nacionais", atira.
Daniel Oliveira defende que "para Marcelo, é fácil" seguir estes "humores", porque, "mesmo que diga 20 vezes que é ele o primeiro responsável pelo que acontece, sabe que, quando as coisas correm mal, não é ele que é responsabilizado".
O jornalista acredita será sempre o Governo a gerir as consequências das decisões tomadas, por isso, quando Marcelo define objetivos e datas, está "a ultrapassar os seus poderes", e isso levanta problemas constitucionais e problemas práticos.
"Os mais de 60% de votos obtidos por Marcelo nas últimas eleições não mudaram os seus poderes. O que mudou foi um primeiro-ministro que, depois do que aconteceu no Natal e das eleições presidenciais, está amarrado a um Presidente com legitimidade politica reforçada", aponta Daniel Oliveira. "Por mais consensual que o Presidente seja e por mais erros que cada um ache que o primeiro-ministro cometeu, isto é um problema. É o Governo que deve governar", remata.
Texto: Rita Carvalho Pereira | TSF
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