André Ventura foi reeleito com 97,3% dos votos ou, pelo menos, assim foi anunciado no sábado. Mas três dias depois, o partido ainda não comunicou o universo de eleitores, delegando a responsabilidade da contagem a uma empresa cujo nome também não foi revelado.
Quantos dias são precisos para se saber o universo de votantes numas eleições internas de um partido? No caso do Chega, pelo menos três e continuam a somar dias ao calendário. André Ventura foi reeleito, disso não há dúvidas porque era candidato único, mas passados três dias das eleições, o partido ainda não revelou os dados sobre o sufrágio.
Ainda no sábado, o presidente da Mesa da Convenção, Luís Graça, dirigiu-se à imprensa para comunicar que "a candidatura de André Ventura ganhou com cerca de 97,3% dos votos entrados em urna, sendo eleito presidente do partido e escolhendo a sua direção nacional na terceira Convenção do partido Chega".
E "97,3%" era mesmo o único número possível para ser comunicado nesta conferência de imprensa. A TSF questionou Luís Graça, mas as respostas não foram claras:
"Qual é o universo de eleitores?
Não tenho esses dados ainda porque estou a receber o total disso, não tenho esses números
Então mas os 97,3% dizem respeito a quantos votos?
Dos eleitores que estavam habilitados a votar, os que têm quotas pagas.
Certo, mas qual é o número?
Este foi o número que recebi da empresa, da empresa que gere isto. Nós temos uma empresa que gere estes números e deu-me estes números em Excel.
E quando vamos ter os números?
Provavelmente, a Patrícia [assessora] diz-lhe ainda hoje."
Mas não disse. Nem no dia, nem nos que se seguiram apesar da insistência da TSF para que se pudesse fazer uma leitura correta dos resultados das internas do Chega.
Também o próprio André Ventura, na noite da eleição, festejou a vitória com um discurso onde apontou novamente à direita, nomeadamente a Rui Rio, sobre uma eventual futura governação do país com o PSD como timoneiro.
O presidente do Chega disse que o resultado mostra que as bases querem que ele siga a estratégia que tem vindo a seguir até aqui, revelou que não se vai moderar e prometeu luta na rua contra aqueles que defendem a ilegalização do partido.
Para Rui Rio, em particular, André Ventura tem um recado: "O Chega não vai mudar a sua via de fazer política. A possibilidade de ter um Chega diferente no Governo não vai existir, enquanto eu for líder do partido e tem de olhar para os números para perceber o que é que está a fazer mal."
"Se, de facto, o PS está perto da maioria absoluta e só o Chega é que cresce, é sinal de que o PSD não está a fazer as coisas bem", atirou. "É à direita que vamos ganhar as eleições, é com as nossas bandeiras, juntos, que podemos ganhar, e não a dar a mão ao Partido Socialista", concluiu.
Já sobre os números, apenas disse não ter "acesso nem aos números, nem aos votantes". "A única coisa que pedi à mesa foi a percentagem de votos com que tinha sido eleito", disse na conferência de imprensa.
Questionado sobre o facto de, no ridículo, poder ter sido eleito por um número mínimo de militantes, André Ventura apenas sublinhou que podia garantir que os votantes "foram muitos". "De certeza que milhares votaram", afiançou.
Mas quantos são? Não sabemos. Já sobre a empresa que Luís Graça referiu na conferência de imprensa, a assessoria de comunicação do partido apenas revelou tratar-se da "empresa informática que gere a base de militantes". E essa empresa tem nome? A TSF ainda não obteve resposta a essa pergunta.
Filipe Santa Bárbara | TSF
Na imagem: André Ventura, líder do Chega / © André Luís Alves / Global Imagens
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