Em Moçambique, um suposto cativeiro de crianças levou populares à revolta na Zambézia. A polícia, entretanto, nega a existência de cativeiro. A DW África ouviu cidadãos no local.
Uma das alegadas vítimas tem 15
anos e informa ter sido sequestrada e mantida
"Fui transportado de uma motorizada quando então cheguei à loja de um cidadão estrangeiro. Forçaram-me a entrar num local fechado, estranho, e que eu nunca tinha visto. Lá dentro havia outras crianças. [A minha] sorte foi ter tido o telemóvel, com o qual enviei uma mensagem para pedir socorro", disse.
Tumultos
Na última quinta-feira (15.04) três pessoas terão morrido e 11 ficado feridas na sequência de tumultos no distrito de Alto Molócue, na província da Zambézia, centro de Moçambique, informou neste sábado (17.04) uma fonte policial. O tumulto terá sido originado por informações - que a polícia diz serem falsas - e que dão conta da existência de um cativeiro com crianças raptadas numa residência na vila de Alto Molócue.
Entretanto, uma das testemunhas, que prefere não ser identificada, esteve presente no tumulto da última quinta-feira e disse que o que mais preocupou os familiares do jovem foi uma das mensagens: "Não sei se chegarei amanhã. Acho que hoje estarei morto".
O fato agravou a situação e, em seguida, familiares e dezenas de populares acorreram em fúria para o local para salvar a vítima.
Autoridades desmetem cativeiro
As autoridades policiais, entretanto, desmentem as alegações populares e a existência de cativeiro em que algumas crianças teriam sido encarceradas.
Alguns familiares das vítimas disseram este sábado (17.04) que decidiram evacuar alguns feridos para o Hospital Central de Nampula para cuidados médicos especializados. Acredita-se na possibilidade do suposto cativeiro servir de esconderijo para o tráfico órgãos humanos.
"Um dos miúdos que morreu
estava dentro de cativeiro, morreu lá mesmo. Suspeitamos que os mototaxistas
aqui
Ambiente de medo em Alto Molócue
Manuel Txetxema, outra testemunha, informa que o ambiente na vila de Alto Molócue é de medo. "Desde o princípio, eu vi tudo. Primeiro, estavam os polícias de proteção. Depois, veio a Unidade de Intervenção Rápida, muito forte e equipada, e começou a atirar gás lacrimogéneo e a disparar balas reais contra a população. Se as pessoas não tivessem fugido, muitos estariam mortos", explicou.
Este sábado (17.04), embora haja moradores no local do tumulto violento, algumas vendedeiras e comerciantes de rua decidiram a não sair de casa, porque têm medo. No local, também há sinais de vandalização de alguns estabelecimentos comerciais.
Muitos cidadãos na Zambézia vivem em estado de alerta por causa de casos de sequestros que abalam o país.
Um caso similar ocorreu em 2019,
no bairro Acordos de Lusaka,
Também na última quarta-feira (14.04), outro cidadão foi sequestrado na cidade de Quelimane, segundo a polícia, que ainda procura pistas para encontrar os sequestradores.
Marcelino Mueia (Quelimane) | Deutsche Welle
Imagem: Estabelecimento comercial do cidadão suspeito de manter crianças em cativeiro foi vandalizado por populares
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