Inês Cardoso * | Jornal de Notícias | opinião
É o segundo 25 de Abril em pandemia, num clima de instabilidade e debate público sobre enriquecimento ilícito, à boleia da Operação Marquês.
O que mina mais a democracia e a liberdade: o ambiente restritivo em que vivemos há tanto tempo ou a corrupção? A pergunta deu o mote para o tema principal da "Notícias Magazine" que hoje acompanha o jornal e serviu também de lançamento à entrevista com a procuradora jubilada Maria José Morgado, cuja resposta é exemplar: "as duas, porque ambas são virais".
É em momentos de crise que se torna particularmente importante discutir as opções governativas e perceber que a ideologia interessa, porque orienta as escolhas e prioridades políticas. Precisamos mais do que nunca de medidas sociais efetivas, da defesa absoluta do Serviço Nacional de Saúde e de uma proteção total das empresas e dos postos de trabalho.
Mas é igualmente em períodos de crise que se exige uma maior ação da sociedade civil e uma capacidade de participação no rumo a seguir para redesenhar o futuro. Não se trata apenas de uma mobilização solidária, a reboque da situação de profunda crise criada pela pandemia. Trata-se de um sobressalto cívico que nos leve a olhar de frente para as promessas de Abril, para aquilo que conquistámos e para o que ficou pelo caminho.
Há uma certa facilidade em criticar os principais atores públicos, dos políticos aos gestores das grandes empresas públicas, dos magistrados às entidades fiscalizadoras dos órgãos de soberania. Mais difícil é conseguir que também a sociedade seja atuante na vigilância que mantém sobre os vários poderes e na forma como exige mais, de forma inequívoca, de quem exerce funções públicas.
O 25 de Abril não é de nenhum partido, associação, sindicato ou grupo ideológico. Mas também não é um tema político (apenas) no sentido quotidiano do termo. É político, sim, se aceitarmos que todos exercemos ação política no sentido de participarmos ativamente na definição e construção do que é o bem comum. A poesia dos dias inteiros e limpos só será vida quando todos nos batermos por ela, sílaba a sílaba.
*Diretora do "Jornal de Notícias"
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