Desde que Umaro Sissoco Embaló chegou à Presidência guineense, há pouco mais de um ano, fez mais de 70 viagens ao exterior (ao interior fez menos de cinco). Analista diz que são "viagens de turismo" pagas por todos.
Com as visitas dos Presidentes de Portugal, São Tomé e Príncipe e do Sudão, todas previstas para este mês, 12 chefes de Estado terão visitado a Guiné-Bissau em 15 meses de presidência de Umaro Sissoco Embaló. Marcelo Rebelo de Sousa visita a Guiné-Bissau nos dias 17 e 18 de maio para avaliar o nível da parceria bilateral entre Portugal e a Guiné-Bissau.
O país exerce também uma forte diplomacia de proximidade junto dos seus parceiros sub-regionais nos domínios da migração, luta contra o terrorismo e combate ao crime organizado.
Através do que o próprio chama de "diplomacia agressiva", o chefe de Estado guineense fez mais de 70 viagens ao exterior e menos de cinco ao interior da Guiné-Bissau desde que tomou posse, em fevereiro de 2020.
Em contrapartida, o país recebeu a visita oficial de 18 ministros dos Negócios Estrangeiros e abriu três novas embaixadas, na Turquia, Qatar e Arábia Saudita. Entretanto também abriram embaixadas na Guiné-Bissau - Cabo Verde e Marrocos - e está prevista para breve a abertura das embaixadas da Índia, Turquia e Qatar, segundo um documento oficial do Estado guineense consultado pela DW África.
As viagens do Presidente guineense chamaram mais a atenção por ser em jato privado e em plena pandemia, quando o país se deparava com uma onda de greves na Função Pública. Os críticos dizem que o chefe de Estado deveria visitar também o interior do país para constatar "in loco" a situação em que se encontram as comunidades desfavorecidas.
"Tenho desenvolvido ações
diplomáticas no sentido de reaproximar mais a Guiné-Bissau dos seus parceiros,
no quadro dos princípios de respeito mútuo, com o propósito de construir um
clima de confiança e de credibilidade recíproca entre os nossos países",
defendeu o Presidente guineense
A presidência alega que o chefe de Estado não tem ido ao interior do país devido às medidas restritivas impostas no contexto da pandemia, em cumprimento das recomendações do Alto Comissariado para a Covid-19.
Mas, em entrevista à DW África, o professor e ativista político Sumaila Jaló diz que a tal diplomacia agressiva não está a mudar a vida dos guineenses e assinala que o país está a viver uma grande crise social.
DW África: O que pensa sobre esta "diplomacia agressiva" de Sissoco Embaló?
Sumaila Jaló (SJ): É preciso que os guineenses saibam que, entre as estratégias populistas de Umaro Sissoco Embaló e seu Governo, é usado dinheiro dos impostos do povo da Guiné-Bissau para estas visitas e viagens ao exterior. Não basta que os presidentes de outros países visitem a Guiné-Bissau, assim como não basta que o Presidente guineense visite outros países. É verdade que a diplomacia e a relação entre os Estados e os povos é importante para o desenvolvimento de qualquer país do mundo, mas é preciso haver uma relação concreta entre estas viagens e políticas para o desenvolvimento da Guiné-Bissau.
DW África: Estas viagens não têm impacto direto na melhoria das condições de vida das populações?
SJ: Quando temos um Orçamento Geral com um défice que é financiado pela ajuda externa, com as despesas do Estado a serem financiadas pela ajuda externa e com cada uma destas viagens do Presidente da República a custar milhões aos cofres do Estado, quais são as consequências para a vida dos guineenses? Isso é que nos interessa. O que é que essas cooperações trazem de benéfico para o processo de desenvolvimento do país? Não encontramos neste momento uma resposta para isso.
DW África: Mas estas visitas não mostrarão que o país tem estabilidade e é credível, ajudando a atrair investimento externo?
SJ: Para quem acha que há estabilidade no país, basta olhar para o número de jornalistas sequestrados e espancados em apenas um ano de presidência de Umaro Sissoco Embaló e da [nova] governação. Olhemos também para quantos ativistas e cidadãos comuns foram sequestrados e espancados por polícias e agentes de segurança do Presidente da República. Pensemos também em quantas manifestações pela educação e saúde pública foram dispersadas violentamente, com manifestantes e cidadãos agredidos pelas forças de segurança. Pensemos igualmente nos deputados espancados e sequestrados.
Não estamos num país estável.
Estamos num país em que o populismo ganha terreno todos os dias, em que se
fala muito, em que se viaja muito e em que se gasta muito dinheiro do erário
público, mas na prática não vemos qualquer mudança na vida do povo. As escolas
não funcionam, há hospitais sem oxigénio, a Função Pública está paralisada há
mais de cinco meses, com salários
Braima Darame | Deutsche Welle
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