Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião
As recomendações do mercado são
para comprar Pfizer. Não a vacina, mas a ação cotada
As previsões para o total do ano foram assim ajustadas, de 26 mil milhões para 33,5 mil milhões de dólares. E com o aumento da variante delta, as perspetivas não podiam ser melhores para a Pfizer que, em parceria com a BioNTech, está muitíssimo bem posicionada para colher os benefícios da necessidade de novas vacinas.
Apesar do período feliz que atravessa desde o início da pandemia, o mercado considera que a Pfizer está subvalorizada. Isto porque o seu valor de mercado, estimado em 247 mil milhões de dólares, aumentou mas não disparou, como o de outras farmacêuticas do negócio covid-19. É o caso da Moderna, que viu o preço das ações aumentar, de 21 dólares, em março de 2020, quando a pandemia se tornou oficial, para 354 dólares, registados na semana passada.
Hoje [segunda-feira], enquanto escrevo, o "Jornal de Negócios" noticia ao minuto o estado dos mercados: "Wall Street cheira novos recordes com plano Biden a dar força... entre as empresas, o destaque vai para a BioNTech (5,1%), para a Pfizer (1%) e para a Moderna (2,5%)". O destaque das farmacêuticas tem uma explicação. O "Financial Times" tornou público neste domingo que ambas as empresas conseguiram renegociar os seus contratos com a União Europeia. A vacina da Pfizer custa agora mais 25% e a da Moderna mais 13%, estando garantida a provisão de 2100 milhões de doses até 2023. Assumindo de forma simplista que a Pfizer fornece metade destas vacinas, o aumento de 4 euros no seu preço unitário produzirá receitas adicionais de 4200 milhões de euros. Mas há também novidades do outro lado do Atlântico. Há uns dias, um site americano de investimentos falava nos "200 milhões de razões" para comprar ações da Pfizer, depois de o Governo de Biden ter anunciado a aquisição de mais 200 milhões de doses. Agora, o "Wall Street Journal" conta como o regulador americano está pressionado a aprovar novas vacinas da farmacêutica.
Para a Pfizer, para a BioNTech ou para a Moderna, assim como para os seus acionistas, as boas notícias parecem não ter fim. No extremo oposto estão os estados, os que podem pagar as vacinas e ainda mais os que não as podem pagar, sendo assim impedidos de defender a sua população.
Depois de sinais nesse sentido por parte dos EUA, a UE poderia ter levantado as patentes. Não o fez e nisso foi apoiada pelo Governo português. Hoje, pagamos todos mais pelas vacinas, não porque a sua tecnologia tenha mudado substancialmente, mas porque o poder negocial destes fornecedores aumentou. Boas novas para a Pfizer, péssimas notícias para os povos.
*Deputada do BE
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