Inês Cardoso* | Jornal de Notícias | opinião
No primeiro ano de pandemia, os surtos em lares foram a maior tragédia a que o Mundo assistiu.
A morte de idosos chegou a representar quase metade da mortalidade total e os casos foram pondo a nu o drama de instituições sobrelotadas e sem recursos técnicos e humanos para oferecer cuidados dignos aos seus utentes.
A vacinação mostrou total eficácia e devolveu a esperança a cuidadores e famílias, mas a dimensão de surtos desta semana repôs razões para o medo. Proença-a-Nova e Almodôvar somam já três vítimas e levantam dúvidas sobre a imunidade entre as populações mais fragilizadas. Depois de uma primeira reação em que se limitou a afastar, para já, o cenário de uma terceira dose da vacina, o Governo fez o que lhe competia e anunciou um estudo serológico alargado nestas instituições. Se há falta de evidências científicas, procuremo-las com urgência, porque só a ciência poderá guiar respostas acertadas.
O regresso de surtos obriga, além disso, a rever o que possa estar a falhar nos lares. Os negacionistas que esqueçam a tentação de rejeitar a validade da vacina. Não é disso que se trata, porque sem vacinação surtos com mais de uma centena de infetados resultariam em dezenas de mortes. A questão é como reagir aos riscos de uma circulação alargada do vírus, com os efeitos mascarados precisamente pela inoculação.
Não podemos manter os idosos numa redoma e o preço de um ano sem visitas já foi demasiado elevado. Mas seja pela testagem, seja pela monitorização mais atempada de sintomas, têm de ser encontrados mecanismos adequados para se retomar o caminho da prevenção e da contenção de focos de infeção.
As alterações no perfil de contágios e das campanhas de comunicação levaram-nos a desviar o olhar para as camadas mais jovens. Mas é nos nossos mais velhos, como sempre, que a covid mostra o seu lado mais destrutivo. Se depois de tantos meses de estudo sobre o comportamento do vírus ainda não conseguimos protegê-los, alguma coisa estamos a fazer mal.
*Diretora
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