Motoristas pedem o fim da "gasosa" no norte de Angola
Motoristas reclamam de má conduta de agentes de trânsito na rodovia que liga Kwanza Norte e Malanje. Cidadãos ouvidos pela DW África dizem que extorsões tornaram-se insuportáveis, e Comando da Polícia encoraja denúncias.
O Comando Provincial da Polícia Nacional em Malanje apela para que os motoristas denunciem práticas irregulares de seus agentes nas estradas do norte de Angola.
Os condutores de veículos que trafegam pela Estrada Nacional 230 já estão acostumados com a chamada "gasosa", mas isto não que dizer que este tipo de extorsão alegadamente praticada pelos agentes da Polícia de Trânsito não estaria a gerar revolta.
Um motorista de 35 anos que não quer ter o nome divulgado aceitou falar para a DW África sobre o fenómeno que se tornou comum no troço entre as províncias do Kwanza Norte e de Malanje. "A polícia na estrada normalmente tem esse lema, que os automobilistas que circulam na via pública têm de fazer sentir com alguma coisa".
Outras vítimas dizem que não há um grupo específico de agentes que cometem a irregularidade, a corrupção parece repetir-se com diferentes fiscais de trânsito. "Alguns efetivos têm estado viciados nessas práticas. Tudo que a malta mais quer para andar mais tranquila é mesmo que isso acabe", diz outro motorista que dirige há mais de dez anos pelo do norte do país.
Corrupção à mostra
Segundo os motoristas ouvidos pela DW África, a "gasosa" parece um vício daqueles profissionais responsáveis por manter o cumprimento da lei nas rodovias. Esta contradição gera revolta entre os utentes das rodovias angolanas.
A "gasosa" é solicitada pelos agentes para liberar veículos com irregularidades na maioria das vezes documentais. Aos 39 anos, um camionista ouvido pela DW disse estar desiludido com o nível de corrupção levado a cabo pelos agentes de trânsito, ao ponto de desconfiar de qualquer movimentação no posto de controlo.
"No momento que você está no posto à espera de liberarem o documento, você nota um carro [da corporação] encostar. Você vê o agente com um envelope entrar [no veículo]. Você nota a conversa entre eles: 'Olha, o mais velho já veio e já lhe atendi'", descreve o camionista, expondo o sentimento de que a irregularidade está à mostra.
Polícia pede denúncias
O inspetor-chefe João Soares, responsável pelo Departamento de Comunicação Institucional e Imprensa do Comando Provincial da Polícia Nacional em Malanje, diz que tem conhecimento do fenómeno e mostra-se particularmente preocupado.
Soares diz que a Polícia Nacional tem interesse em punir os envolvidos e encoraja os motoristas a denunciarem este tipo de irregularidade. "Não viemos aqui negar que o fenómeno não acontece, mas gostaríamos que existissem provas através de denúncias, para se punir os prevaricadores", apela.
O jurista Joaquim Ernesto condena a prática da "gasosa" e crê que a burocracia para a regularização da documentação dos veículos acaba por tornar os motoristas vulneráveis ao fenómeno.
"Que o cidadão tenha maior facilidade na administração pública, através dos órgãos de direito, porque há muita burocracia no que diz respeito a legalização dos documentos das viaturas", salienta.
Nelson Camuto | Deutsche Welle
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