# Publicado em português do Brasil
Brasil no escuro: sem coordenação estratégica, entreguista e fadado ao papel colonial de exportador de matéria-prima. Desindustrializados, hoje penamos até para produzir insumos básicos às vacinas. Viraremos meros exportadores de banana?
Bruno Beaklini * | Outras Palavras
Fica praticamente impossível viver a vida cotidiana sem o mínimo de previsibilidade. Quanto mais complexa é a sociedade e abastado o padrão de consumo, mais itens entram na formação desta previsão. Diante da escassez, se inverte a lógica, sendo que a maior condição imprevisível é quando as mais básicas condições materiais de vida sequer são garantidas. O Brasil da pandemia, e antes, desde o início do segundo governo Dilma Rousseff — quando a reeleita presidenta coloca um Chicago Boy na Fazenda, o impagável Joaquim Levy – vive sob uma imprevisibilidade cada vez maior.
A desinformação sistemática dos neoliberais vende a fórmula mágica de “oferta e procura” como aplicável em todos os “mercados”. Nada pode ser mais farsesco. Um, porque nem tudo é “mercado”. Dois, porque no capitalismo, a classe de mercado por excelência é o oligopólio. Cada vez mais precisamos de capacitação tecnocientífica para desenvolver indústria de base, de bens de produção e também para controlar cadeias de alto valor agregado. A “lógica” é complexidade e especialização, logo, acaba formando ainda maior concentração, ou seja, oligopólio. Neste sentido, cada indústria conta, sendo mais ou menos complexa. E toda planta industrial que fecha, implicam em perda de empregos diretos e indiretos, cadeias de fornecedores e todo um tecido social-produtivo que cai na “imprevisibilidade”.
Um exemplo da ausência de indústria de base é a carência brasileira na produção dos IFAs — os ingredientes farmacêuticos ativos – os principais insumos da indústria farmacêutica. Já fomos quase autossuficientes no setor, mas a combinação de importação de insumos para formar preços mais baratos com os genéricos e a subsequente desindustrialização deste ramo, fez o Brasil ficar novamente dependente. Com o avanço da pandemia e a necessidade de vacinação em massa, dois grandes produtores, como Índia (um bilhão e 366 milhões de pessoas) e China (um bilhão e 398 milhões), sendo muito populosos, necessariamente podem vir a priorizar atender à sua cidadania em vez de fornecer para outros países. Se isso ocorrer, e sempre pode ocorrer, logo, não teremos o material necessário para salvar nossa população. Simples e macabro assim.
Outro caso é o da imposição nos termos de troca, em escala de múltiplos fatores. Refiro-me aos Estados Unidos, que compraram de forma antecipada todas as vacinas e insumos possíveis, além de fabricarem por conta própria a vacina anticovid. A previsão é de vacinar toda a população adulta estadunidense ainda em abril de 2021. E, provavelmente, não venderão “seus excedentes” de vacina para países onde não houve planejamento adequado, como mais uma vez é o caso do Brasil sob o desgoverno.