segunda-feira, 15 de novembro de 2021

EUA: faces contemporâneas do imperialismo

# Publicado em português do Brasil

Chamado por Lénin de “forma superior do capitalismo” ele é mais que inovações de marines: guerras híbridas, “cooperação jurídica” e fake news. Entendê-lo, inclusive em escalas regionais, é crucial à complexa geopolítica do século XXI

Bruno Lima Rocha*| Outras Palavras

Uma das tarefas mais difíceis na análise do Sistema Internacional e em especial de algumas áreas mais sensíveis como a economia política internacional é dialogar com a história contemporânea e aplicar uma correta periodização. Minha pesquisa mais recente foi iniciada com a intenção de fazer um relevo do período que seria verificável no capitalismo mundial pós-2008 e anterior à pandemia do novo coronavírus, segundo a classificação da Organização Mundial da Saúde (que decretou pandemia em 11 de março de 2020). Embora não seja necessariamente um objeto de polêmica ou o ponto central para interpretar a virada e perda de poder do mundo ocidentalizado durante e logo após o desastroso governo de Donald Trump, esse debate é necessário por algumas razões. 

A mais sensível é porque os conceitos são reais ou, ao menos, têm a intenção de interpretar o real, vivido como experiência concreta, e não apenas o universo imaginário (que também forma o real vivido). Ou seja, parto da premissa de que existe imperialismo e existem potências com capacidade de agendas imperiais, incluindo avanços em escalas regionais. A outra situação bem concreta e em diálogo com a primeira é que o poder global não impede o jogo regional ou mesmo continental, mesmo que este seja muito heterodoxo e fira interesses múltiplos simultaneamente. Um exemplo disso é o caso da Turquia na Era Erdogan, ainda dentro do guarda-chuva da OTAN e com política externa extremamente agressiva e contrariando várias potências regionais e globais simultaneamente. Podemos afirmar estas mesmas capacidades para outras potências médias do G20 e países com capacidades semelhantes, como Irã, Paquistão e Malásia.

Embora a presença militar em escala planetária seja ainda exclusiva dos Estados Unidos, algumas outras potências também são herdeiras do colonialismo do século XIX e da Era das Navegações, tais como França e Reino Unido. Também existem impérios tardios que alastrando na esteira do Império matriz, tal é o caso dos EUA. Este país é classificado como promotor do imperialismo na maior parte dos estudos de pós-Segunda Guerra e, em especial, ao final da Guerra Fria e Bipolaridade. 

Outra razão prática do debate sobre o imperialismo é reconhecer suas formas contemporâneas (saindo da caricatura). Imperialismo não é apenas uma invasão de fuzileiros navais estadunidenses, mas também uma forma superior do capitalismo, e nisso Lênin estava correto (ao menos na classificação), mas não só. Antigos impérios muitas vezes obedecem a lógicas geopolíticas e étnico-territoriais muito anteriores da formação moderna destes Estados. Por exemplo, na tradição russo-bizantina, a União Soviética agiu de forma imperialista no Afeganistão, seguindo a trajetória da disputa imperial anglo-russa nesta mesma região (conhecido como o Grande Jogo). A relação da China com o Vietnã recém-unificado e liberto da invasão dos EUA (guerra sino-vietnamita de 1979) foi semelhante também. Obedecia a uma lógica de rivalidade milenar, ainda que sob os novos formatos dentro da etapa final da guerra fria ou o mundo bipolar. De forma genérica, o jogo de poder na Ásia pode ser assim classificado, com exceção do Grande Oriente Médio (Mundo Árabe e boa parte do Mundo Islâmico), onde incide a luta contra o colonialismo sionista e as perversas tratativas com o fim do Império Otomano, como no “acordo” Sykes-Picot.

CAPATAZES DE TONGA…

A “MORABEZA” ACABA ONDE COMEÇAM OS INTERESSES DO “”HEGEMON”!

Martinho Júnior, Luanda   

A pegada do “hegemon” passa por Cabo Verde!

As histórias só se repetem por que o capitalismo desde suas raízes feudais anacrónicas, as reaproveitam, especulativamente e até ao infinito, os seus ingredientes de “soft power”, a fim do “hegemon” enquanto garante de seu sistema de riqueza quaisquer que sejam os cenários abaixo da aristocracia financeira mundial, jamais levar a cabo sua própria descolonização mental, um manancial de sua superestrutura ideológica que faz parte da mesa de manjar dos deuses que assim “perpetuam” a sua loucura, misto de voracidade pelo lucro e rompimento com todos os cânones de relacionamento internacional!...

A não descolonização mental passa pela não descolonização da história!

Ai dos rebeldes e dos resistentes!

01- Iria para aí o ano de 1963 quando pela primeira vez, o adolescente que eu era ter ao vivo uma das lições sobre o que era a manipulação de conjunturas humanas em tempo colonial!

Meu pai, funcionário contabilista dos Armazéns de Víveres do Caminho de Ferro de Benguela, havia-se decidido a construir habitação própria mediante uma hipoteca faseada num talhão do Bairro da Luz, na então área de expansão a sul da cidade, uma área contígua às casernas de contratados do Porto do Lobito, ao troço ferroviário Lobito-Catumbela, ao aeroporto do Lobito e à parte norte dos canaviais, valas de drenagem e sistema de vias internas da então Companhia Agrícola do Cassequel, cuja sede operacional era na Catumbela…

Curioso em conhecer essas áreas de vizinhança próxima, houve um dia que fui até às picadas que cruzavam os talhões, curioso e em espectativa em relação ao que me cercava…

A Catumbela de então inebriava-me pelos seus odores condensados (misto de melaços concentrados e óleos indecifráveis), pelos seus sons únicos (a brisa nos palmares e nos canaviais, o cruzar de chilreios e gritos indistintos das aves, o monocórdio zumbido das cigarras nas árvores frondosas, o resfolegar das locomotivas, as estridências dos comboios sobre os carris e o roncar dos “Dragões” biplanos, dos Dakota DC-3 e dos nervosos Beechcraft que se faziam à pista do Lobito) e pelas características da vila com suas casas térreas sob frondosas árvores, ou outras arquitecturas coloniais de altaneiro vulto com varandas ornamentadas e madeiras trabalhadas com o requinte dos interesses das elites providenciadas colonialmente a partir do exterior…

Todo o conjunto arrumado junto às pontes de metal tipicamente ao estilo do império colonial britânico que cruzavam o rio (estrada e ferrovia), sob a asa da silhueta duma pequena fortaleza que espreitava empoleirada num morro junto à margem esquerda do nervoso e barrento Catumbela…

Apreciei os canaviais verdes e densos, bem irrigados e tratados, as palmeiras com suas cabeleiras esvoaçantes e troncos carregados de dendém que orlavam as picadas em torno dos talhões, mas surpreendeu-me logo pelo seu aspecto de forçada pobreza o desfile dos contratados do Cassequel, contrastando com o aspecto dos “capatazes de tonga” naturais de Cabo Verde, cuja missão era de segurança de cada talhão de canaviais, segurança na irrigação, o controlo dos contratados que ficavam à sua disposição e de vigilância apertada sobre intrusos aparentemente em trânsito… e eu era um deles!…

Sempre que passei a pé, com meus trajes tropicais ligeiros (calções, camisola fresca e sapatilhas) pelas tongas da Cassequel, surgiam do nada os capatazes que por vezes interpelavam-me por que desconfiavam daquela intrusão meio-perdida, meio-deleitada dum jovem pelos canaviais… fiquei convencido que eles, catana na mão, eram capazes de espantar todos os intrusos de desconfiar, guardando numa fidelidade canina cada polegada de talhão e os pobres “indígenas” sujeitos ao contrato… só não conseguiam espantar as nuvens de mosquitos que pela calada da noite invadiam em nuvens o Bairro da Luz, nuvens sopradas pela húmida brisa nocturna, como outros esfaimados cães-de-fila que quantas vezes nos impediam de dormir!...

Dentro das iniciativas agrícolas e industriais afins ao colonial-fascismo de Salazar, além da sobre-exploração de barata mão-de-obra contratada, os “indígenas” de Angola, havia de facto um sub-reptício “apartheid”!...

Só para finais da década de 60 do século XX alguma coisa começou a alterar no relacionamento dos cabo-verdeanos residentes em Angola e os angolanos, sobretudo para com os “indígenas”, todavia esse foi um processo lento e longo, por que até ao seu fim, o regime colonial-fascista sofreu algumas metamorfoses embora garantindo sempre o essencial, conforme ao exercício Alcora!

Em nada me admiraria em anos recentes o conhecimento do tratado colonial-fascista com o regime do “apartheid” que deu pelo nome de “ALiança COntra os Rebeldes Africanos”, Alcora, ao sabor de alianças extra-continentais, como a do “Le Cercle” que esteve na própria forja do Alcora, por via do general Charles “Pop” Fraser!

Canal angolano abre diálogo Angola/Brasil sobre escravatura

Canal online angolano abre diálogo Angola/Brasil sobre escravatura, diáspora e reparações

Alberto Castro, Londres

A rúbrica Soluções, do canal online comandado por Tânia de Carvalho, trouxe ao debate na passada quinta-feira (28/10) os temas “Escravatura, Diáspora e Reparação“, tendo como participantes a jornalista, cientista política, pesquisadora e ativista social mineira Diva Moreira, a igualmente mineira e historiadora Nila Rodrigues Barbosa e o diretor-geral do Museu Nacional de Escravatura de Angola, Vlademiro Fortuna.

Durante cerca de duas duas horas e trinta minutos os painelistas abordaram vários assuntos relacionados aos referidos temas e como eles são analisados em uma e outra margem do Atlântico, numa altura em que se passaram 20 anos desde a Conferência de Durban que rompeu o silêncio mundial sobre racismo, legado perverso de que são vítimas africanos e afrodescendentes em resultado da escravatura e do colonialismo.

Diva Moreira realçou a importância da luta pelas reparações, como concluído em Durban 2001 e reconhecido pela ONU, e apelou para a sensibilidade de quem está no poder na forma de olhar para o assunto. ”Lutar pelas reparações é fundamental e importantíssimo como forma de honrar e curar as nossas ancestralidades”, disse. 

“Nós estamos lidando com impérios falidos baseados na Europa e nos EUA. Seremos nós os povos africanos, asiáticos, indígenas e da diáspora negra que somos o futuro da humanidade”, sublinhou enfatizando o papel das reparações, incluindo as financeiras, para a importância que Israel hoje tem e apontando também o recente exemplo da Alemanha que, em reconhecimento ao genocídio colonial contra os povos Herero e Nama, aceitou pedidos de reparações da Namíbia.

Acerca da natureza humana e sobre os grupos nómadas

Francisco Palma | AbrilAbril | opinião

CACO – Associação de Artesãos do Concelho de Odemira foi criada em 2002 e tem como objetivos promover as artes e ofícios, contribuindo assim para a dignificação dos artesãos locais e das atividades artesanais. Odemira tem também um espaço de artes que se chama «CRIAR – Centro em Rede de Inovação do Artesanato Regional», que além de ser a sede da associação CACO possui também oficinas, uma loja e um espaço Polivalente/Expositivo – destinado a exposições temáticas nas diferentes áreas das artes. É precisamente no espaço CRIAR1 que se apresenta neste momento a exposição de artes plásticas «Saramago Mediterrâneo», até 16 de novembro, que assim homenageia o escritor José Saramago. Nesta exposição participam 41 artistas de vários países da rede «Sete Sóis Sete Luas» (Marrocos, Cabo Verde, Portugal, Itália, Espanha, França) que colaboraram com o festival.

Para a organização do festival, esta exposição «partiu do sentimento que liga o festival ao grande escritor português e é uma homenagem ao seu pensamento, às suas ideias, à sua poética. Foi pedido aos artistas (pintores, escultores, fotógrafos) dos vários países da rede cultural, que ao longo destes anos têm participado no projecto Sete Sóis Sete Luas, que criassem uma obra inspirada em Saramago e, de modo especial, no seu romance Ensaio sobre a Cegueira, que se tornou ainda mais actual com o aparecimento nas nossas vidas da emergência originada pela Covid-19».

Segundo a Câmara de Odemira, «Saramago Mediterrâneo» é uma exposição internacional itinerante dedicada a José Saramago e ao romance Ensaio Sobre a Cegueira. «…A cegueira de que fala Saramago é uma epidemia contagiosa, um beco sem saída, e nas entrelinhas é revelada uma análise bem lúcida acerca da natureza humana, que nos parece falar sobre nós próprios», frisa a organização do Sete Sóis Sete Luas.

SONDAGENS, PARA QUE VOS QUEREMOS?

PS na frente e a subir, mas PSD aproxima-se; Bloco, Chega e CDU caem

Na sondagem Expresso-SIC, o PS e Chega sobem, já PSD, BE e CDU descem. PS obteve, em quatro sondagens diferentes, valores entre 38,5% e 40%

O PS continua a ser o partido com a maior fatia das intenções de voto (39%), seguido pelo PSD (28,1%). Os dados foram revelados pelo barómetro da Intercampus para o “Correio da Manhã” e para o “Jornal de Negócios”. Tanto o BE, como o Chega e a CDU caem.

Ao contrário dos resultados da sondagem Expresso-SIC - onde o Chega (que tem 10% das intenções de voto) está à frente por quatro pontos da CDU e cinco pontos do BE - o inquérito da Intercampus coloca o Bloco de Esquerda em terceiro lugar (7,7%), seguindo-se o Chega com 6,3% e a CDU com 5,3%.

A Europa está a entrar numa nova vaga grave de covid

Algumas das medidas de confinamento já estão a voltar

A leste a situação é muito mais grave do que a ocidente com países como a Roménia e a Bulgária com sistemas de saúde já em colapso. Áustria, Alemanha e Países Baixos são os primeiros a voltar a impor algumas medidas de confinamento

Ao fim de semana, nestas primeiras semanas de novembro em que muitas pessoas já andam às compras para o Natal, é fácil esquecer que há um vírus altamente contagioso que continua a infetar centenas de pessoas todos os dias em Portugal e milhares em vários países europeus. A normalidade antiga, fora as máscaras que, por cá, ainda usamos bastante em espaços mais congestionados, voltou a ser o dia-a-dia mas em toda a Europa os governos estão a ter de rever as liberdades que foram dando aos seus cidadãos à medida que o processo de vacinação ia acelerando e protegendo cada faixa etária da população.

Nos Países Baixos o confinamento já regressou, este sábado, ainda que em moldes menos duros, e, na Alemanha, os responsáveis dos serviços de saúde dos vários estados mais afetados defendem que volte o controlo dos grandes ajuntamentos.

A partir de segunda-feira, em Berlim, apenas as pessoas vacinadas ou recuperadas recentemente poderão frequentar restaurantes, cinemas e cabeleireiros. O ministro federal da saúde, Jens Spahn, propôs na sexta-feira regras semelhantes para a entrada em eventos públicos.

NADA CONTRA O CLIMA!

# Publicado em português do Brasil

Konrad Rękas* | One World

Apesar da semelhança externa e da continuidade formal e muitas vezes pessoal, os climatistas contemporâneos não têm muito em comum com os ex-ecologistas, que muitas vezes lutaram corretamente contra inúmeras patologias da industrialização, tanto na versão capitalista quanto na versão real-socialista. No entanto, a agenda climática da UE (e global) não tem nada a ver com a proteção do meio ambiente hoje.

A adaptação às mudanças climáticas é uma necessidade da civilização. A crença na capacidade humana de deter e direcionar a mudança climática é uma mistura de orgulho e ingenuidade da civilização e, portanto, precisamente uma doutrina que tenta se tornar uma ideologia. Afinal, a questão mais simples, mas também a mais fundamental, é: o clima pararia de mudar mesmo se conseguirmos atingir a “ Meta Zero Líquida ”?

Novo (?) Totalitarismo

Durante décadas, o conteúdo ecológico foi considerado um entretenimento inocente para os jovens, sensibilizando-os para os problemas de proteção ambiental. E uma oportunidade de fazer negócios, como “ vamos buscar uma diretriz para substituir as lâmpadas dos concorrentes pelas nossas ”. No lado direito (ou na verdade Neocon) havia no máximo os típicos bufos arrogantes jogando todas as dicas verdes no saco (de reciclagem) rotulado “ esquerdismo ”. Por sua vez, os círculos típicos do DemoLiberal enxergam verdadeiramente nos ecologistas a sua própria esquerda, que pode ser acalmada com mais declarações e garantias de que sim, uma vez, algo... Desse modo, foi (des) consistentemente esquecido quando mais e mais dinheiro e reivindicações doutrinárias mais expressivas começaram a ser envolvidos nessas tendências (de outra forma, em muitos aspectos, bastante simpático). E por causa dessa combinação, no Ocidente esta já é a segunda geração que cresceu sinceramente convencida de que “ a Terra morrerá durante nossa vida - e a culpa é da humanidade! ”.

Portanto, tudo e todos devem estar submetidos ao objetivo geral de reverter essa situação inquestionável, custe o que custar. Essa atitude determina que a atual posição pós-ecológica predominante, o Climatismo, tem todas as características do totalitarismo . E esta não é uma invectiva, mas uma simples declaração do fato, quando provavelmente o crente médio da nova ideologia dominante apoiaria entusiasticamente tal declaração farsesca:

Tudo dentro do Clima.

Nada fora do clima.

Nada contra o Clima!

Guarda Verde da Plutocracia

DIÁLOGO DE RUPTURAS

Martinho Júnior, Luanda  

… Ainda o feudalismo e a cobiça atrozes, dos tempos das cruzadas e dos “grandes descobrimentos”, quando no Sul Global e ética, a moral e os outros valores de resgate dos povos ansiosos de emergência se levantam!...

A emergência na América e num caminho de integração nos processos multipolares, só se pode ainda levar a cabo por via dum diálogo de rupturas, tal é a barbárie que, persistentemente, desde a chegada dos europeus ao continente, impactou seus povos autóctones suas culturas originárias, seu esplendoroso acervo natural.

A barbárie foi de tal ordem, que ao genocídio se juntou a escravatura transatlântica e o colonialismo, sempre com a avidez nas riquezas naturais envolvida nos expedientes de exploração e comercialização que foram gerando: a globalização desde o “comércio triangular” que excluiu os povos, povos europeus incluídos, dos manjares dos poderosos.

Hoje de diversas formas estala o verniz do fausto, da pompa e da circunstância na velha mentalidade feudal europeia, não só no seu relacionamento com a América (nas suas partes e no seu todo), mas também no seu relacionamento com África, com o Médio Oriente Alargado, com todo o Sul Global.

Portugal | De pernas para o ar

Manuel Carvalho Da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

De tão habituados que estamos, em resultado de anos e anos de garrote nos salários e quase estagnação económica, temos dificuldade em conceber uma outra economia em que seja difícil comprar.

Até há bem pouco tempo foi difícil vender: as empresas não conseguiam vender nos mercados externo e interno os bens e serviços por elas produzidos; os trabalhadores não vendiam as suas capacidades, a sua força de trabalho, nos chamados mercados de trabalho. Em linguagem da economia foram tempos de escassez da procura.

É verdade que aquele cenário ainda não desapareceu totalmente e estamos num contexto de imensas contradições, mas agora há sinais estranhos que configuram escassez da oferta. Parece termos entrado num tempo em que é difícil comprar. Muitas empresas sentem dificuldade em comprar matérias-primas e outros materiais e em contratar trabalhadores dispostos a aceitar o salário e as condições de trabalho por elas oferecidos. Também muitos trabalhadores, enquanto consumidores, se deparam com ocasionais dificuldades em encontrar bens ou até quem lhes preste pequenos serviços de reparações e outros nas suas casas.

As explicações para a dificuldade de comprar são diversas. Conhecemos bem duas delas: i) trabalhadores portugueses, em particular jovens, procuram salários decentes no estrangeiro, logo escasseiam em Portugal em diversos setores, desde a construção civil à saúde; ii) há cadeias de abastecimento que se rompem em consequência da pandemia e de políticas de gestão que procuram reduzir os stocks a zero, tornando o fluxo de matérias-primas, de materiais e produtos finais vulnerável face a qualquer perturbação.

Portugal perde com a Sérvia

E vai lutar por lugar no Mundial no "play-off"

A seleção nacional perdeu (1-2), este domingo, no Estádio da Luz, diante da Sérvia no último jogo do Grupo A e não conseguiu garantir a qualificação direta para o Mundial2022.

A jogar em casa e num Estádio da Luz cheio, Portugal tinha tudo para garantir, já esta noite, um lugar no Mundial2022 mas vai mesmo ter de jogar o "play-off". O empate bastava à equipa das quinas mas a seleção nacional, que até esteve a vencer, acabou mesmo por perder depois de sofrer um golo aos 90 minutos.

Logo aos dois minutos, Bernardo Silva ganhou a bola a Gudelj e assistiu Renato Sanches que partiu para a área e rematou sem hipótese de defesa para Rajković.

Ainda na primeira parte, Tadic fez o golo do empate. Um tento marcado por um erro de Rui Patrício, que não conseguiu agarrar a bola.

Vida alugada

Escravos dos tempos modernos em Portugal

Joana Amaral Dias* | Diário do Notícias | opinião

Já uns meses, meio país chorava Odemira. Lembram-se? Como era possível esta epidemia de exploração de pessoas vindas do Bangladesh, Índia e Nepal para fugir à pobreza, contratadas a granel para campos agrícolas? A nação política batia no peito e jurava nunca mais, os espectadores emocionavam-se: escravos dos tempos modernos amontoados no nosso Alentejo, esmifrados até à ossada, empilhados em contentores, aldeolas de metal, campo/cama, cama/campo, a pagar para dormitar em beliches e levar três euros/ hora de sol a sol em redomas plastificadas. Lembram-se? Certo é que esta semana, os patrões da restauração e hotelaria também andaram a lacrimejar por, dizem, terem que ir buscar trabalhadores a Cabo Verde, Filipinas e Brasil porque o português, pobre e mal agradecido, recusa-se a sair da sua zona de conforto e trabalhar 996, 12 horas por dia, seis dia por semana a ganhar o salário mínimo no máximo, folgar quando calha, terminar quando dá, sobrando-lhe muito pouco ou nada no final do mês, ficar sem dinheiro, sem tempo, sem futuro, sem vida. O carpir e o lamento parte também dos empresários da construção civil que, dizem, assim não conseguem manter o seu negócio. Pois é. E a coisa até chega a outros níveis de formação - o IEFP tem dezenas e dezenas de ofertas de colocação para engenheiros com salários entre os 700 e os 1000 euros brutos. Ninguém lhes pega. Pudera.

Centro-esquerda recupera na Europa

Mas é cedo para falar de mudança de ciclo

Após a vitória do SPD na Alemanha (e assim que estiver fechada a coligação), haverá sete países com executivos liderados pela social-democracia na União Europeia. Esta pode afinal não estar tão morta como se pensava, mas a tendência tem sido a subida da direita populista.

A vitória eleitoral do Partido Social-Democrata (SPD) na Alemanha e a do Partido Trabalhista na Noruega, que coloca os cinco países nórdicos todos com governos de centro-esquerda, estão a ser apontadas como um sinal de que afinal a social-democracia europeia não estava tão morta como se pensava. Mas o diabo está nos pormenores e a maior parte do continente ainda pende para a direita, sendo cedo para falar numa mudança na tendência ou na possibilidade de o que aconteceu na Alemanha e na Noruega poder inspirar uma vaga rosa na Europa.

Entre os 27 países da União Europeia (UE), há atualmente apenas seis em que o chefe de governo é de centro-esquerda: Portugal, Espanha, Malta, Dinamarca, Finlândia e Suécia, sendo que só o primeiro-ministro maltês, Robert Abela, do Partido Trabalhista, governa em maioria. Na Suécia, a nova líder dos sociais-democratas e atual ministra das Finanças, Magdalena Andersson, está encarregada de tentar formar governo, após a demissão do antecessor Stefan Löfven, estando dependente da aprovação do Parlamento para se tornar na primeira mulher a chefiar o executivo sueco.

A esquerda tem ainda presença importante na Coligação Vivaldi na Bélgica (batizada em homenagem ao compositor d"As Quatro Estações porque o governo do liberal Alexander de Croo inclui sete partidos de quatro cores políticas) e no executivo de união nacional do tecnocrata Mario Draghi, em Itália. Nas municipais italianas, entretanto, o centro-esquerda liderado pelo Partido Democrático foi o vencedor, conquistando as grandes cidades, incluindo Roma e Milão.

Será que a vitória eleitoral de Olaf Scholz do SPD na Alemanha, após 16 anos com Angela Merkel e os conservadores da CDU no poder, é o início de um novo ciclo de crescimento para a esquerda europeia? "O que parece mais ou menos evidente é que, após aquilo que se poderia chamar o declínio eleitoral, muito debatido e estudado, dos partidos sociais-democratas na Europa, observamos alguma recuperação", disse ao DN o investigador coordenador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, António Costa Pinto. Que avisa contudo que não é fácil pensar que tal tendência possa passar para outros países.

"As duas tendências que permanecem nos últimos dez anos são o fracionamento do sistema partidário e a consolidação da presença de partidos populistas de direita radical. Para além destas duas tendências, não é fácil falar", afirmou o politólogo. "É inegável que nos últimos 10 e 15 anos os partidos de direita radical populista têm crescido eleitoralmente. No entanto, quando fazemos uma análise mais fina, observamos que a natureza nacional dos sistemas partidários é muito marcante e que a dinâmica de crescimento ou declínio de certas famílias políticas remete mais para fatores nacionais do que para tendências gerais", referiu.

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