domingo, 16 de janeiro de 2022

A SAGA DE RENDEIRO FUGITIVO “ARRECADADO” EM PRISÃO SUL AFRICANA

João Rendeiro foi visto por médico da prisão devido a problema cardíaco

Advogada diz que ex-banqueiro teve problema cardíaco provocado por febre reumática e que foi visto por médico da prisão de Westville, que teme que condições do local agravem problema de saúde.

A advogada de João Rendeiro, June Marks, garante que o ex-banqueiro português sobre de um problema cardíaco e que foi observado pelo médico da prisão de Westville, na África do Sul, onde está detido.

Em declarações à CNN Portugal, Marks disse estar preocupada com as condições de saúde do seu cliente e adiantou já ter pedido que seja visto por um cardiologista.

“Ele teve um problema cardíaco devido a febre reumática”, afirmou a advogada. “O médico está preocupado que as condições na prisão e a tuberculose prevalente nas cadeias de África do Sul possam piorá-lo”.

June Marks diz ter receio de que essas condições agravem a situação de saúde do arguido. “Infelizmente, as condições na prisão são limitadas. Esta é a nossa maior preocupação, temos dificuldade em obter tratamento”, referiu.

Cátia Bruno | Observador | Imagem: João Porfírio


Advogada de Rendeiro vai opor-se à ajuda portuguesa às autoridades sul-africanas

A advogada de João Rendeiro promete opor-se à ajuda de uma equipa de magistrados do Ministério Público, cujo envio para Durban está a ser ponderado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), às autoridades sul-africanas na extradição do ex-presidente do BPP.

Em declarações à Lusa, June Marks defendeu que a National Prosecuting Authority (NPA) [ministério público sul-africano] "não pode procurar assistência externa", sublinhando que tem de ser "independente". Questionada se admite a apresentação de um requerimento a contestar o apoio dos magistrados portugueses no terreno, a advogada deixou uma garantia.

"Faremos tal requerimento. Opor-nos-emos a quaisquer ações ilegais e inconstitucionais, incluindo tentativas de usurpar a função da NPA. Como ainda não fomos formalmente informados, não recebi instruções completas. As minhas instruções são para me opor a tentativas inconstitucionais e ilegais de afetar o processo. É uma decisão legal e, se necessário, o cliente assinará o requerimento requerido", explicou.

Paralelamente, June Marks adiantou que os magistrados portugueses não poderão estar em tribunal se forem indicados como testemunhas, lembrando que o NPA "sugeriu anteriormente chamá-los a depor".

O Expresso avançou esta sexta-feira que a PGR já teria escolhido os representantes para enviar à África do Sul, indicando os nomes do procurador José Góis e da diretora do Departamento de Cooperação Internacional, Joana Gomes Ferreira. Confrontada pela Lusa, a PGR recusou fazer mais comentários além da admissão de estar a ponderar o envio de uma delegação.

A advogada sul-africana admitiu ainda estar a procurar mais informações neste âmbito e a "estudar a melhor abordagem". Contudo, mostrou não ter dúvidas sobre a estratégia para o processo de extradição do antigo banqueiro.

"As minhas instruções são para me opor à extradição, até utilizar o nosso tribunal constitucional", garantiu, sem deixar de notar que o processo "demorará anos", face à possibilidade de "múltiplos recursos" disponíveis.

Sobre o pedido formal de extradição que foi recebido na quarta-feira pelas autoridades sul-africanas, através de via diplomática, June Marks reconheceu ainda não ter tido acesso ao mesmo e que irá solicitá-lo "na próxima semana" ao NPA. Já em relação à audiência agendada para 21 de janeiro, a mandatária de João Rendeiro antecipou mais uma sessão breve e na qual será decidido um novo adiamento, a fim de dar tempo ao estudo da documentação.

"Nada de especial irá acontecer a 21 de janeiro. Vamos pedir adiamento para analisar os documentos e prepararmo-nos", referiu, esclarecendo que não deverá estar presente nessa sessão, mas apenas nas audiências seguintes: "Assumirei o controlo após este adiamento".

"Ele tem um problema de coração. O magistrado simplesmente assumiu que é saudável e nunca se preocupou em inquirir, deveria ter perguntado sobre a sua saúde antes de assumir que estava saudável", notou, em alusão ao juiz Rajesh Parshotam, do tribunal de Verulam, concluindo: "No recurso, argumentaremos que deveria ter perguntado e não assumido".

Detido em 11 de dezembro na cidade de Durban, após quase três meses fugido à justiça portuguesa, João Rendeiro foi presente ao juiz Rajesh Parshotam, do tribunal de Verulam, que lhe decretou no dia 17 de dezembro a medida de coação mais gravosa, colocando-o em prisão preventiva no estabelecimento prisional de Westville.

O ex-banqueiro foi condenado em três processos distintos relacionados com o colapso do BPP, tendo o tribunal dado como provado que retirou do banco 13,61 milhões de euros. Das três condenações, apenas uma já transitou em julgado e não admite mais recursos, com João Rendeiro a ter de cumprir uma pena de prisão efetiva de cinco anos e oito meses.

João Rendeiro foi ainda condenado a 10 anos de prisão num segundo processo e a mais três anos e seis meses num terceiro processo, sendo que estas duas sentenças ainda não transitaram em julgado.

O colapso do BPP, em 2010, lesou milhares de clientes e causou perdas de centenas de milhões de euros ao Estado.

Jornal de Notícias com agências | Imagem: Lusa

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