Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião
No mundo ocidental de hoje, supostamente na civilização mais avançada de sempre, entre os herdeiros do Iluminismo, quem, por exemplo, protestar contra passaportes digitais terá as suas contas bancárias congeladas (ou quem doar tanto como 20 euros para a causa) ou quem, por exemplo disser algo que ressoe, ainda que remotamente, a politicamente incorreto verá as suas redes sociais bloqueadas.
Aliás, um dos grandes promotores desta Nova Censura, é o Facebook (Meta) que hoje é sobretudo uma colossal indústria de dados pessoais. Como se costuma dizer, quando a coisa é de borla, o produto somos nós e actualmente o negócio de Zuckerberg é sacar essas informações privadas aos utilizadores para as vender com objectivos que, na melhor das hipóteses, serão comerciais/publicitários. Portanto, quando começou a gestão da covid e os governos começaram com tesoura, lápis azul e borracha a todos os que tinham dúvidas ou meras críticas à narrativa oficial (condenando inclusivamente médicos, investigadores e profissionais como se a ciência fosse monolítica e dogmática), o FB há muito que já estava nessa deriva despótica. Depois, foi só darem as mãos. Governos e Novos Patrões, siameses juntos pela cabeça. Censura analógica e digital unidas. Esta escandalosa escalada chegou à obscenidade. A lista é extensa mas só como ilustração veja-se o caso do silenciamento feito ao dr Martin Kulldorff (professor de Harvard) e ao Dr. Jay Bhattacharya (professor Stanford) ou a censura ao British Medical Journal, publicação de alto prestígio com quase dois séculos, por causa de um artigo em que , como é sua função, colocava dúvidas científicas e éticas sobre a recusa da Pfizer em divulgar certas informações sobre as inoculações coronavirus. Armados em fact-checkers, o apelido dos neófitos donos do Ministério da Verdade, consideraram que o dito texto ia contra os ironicamente designados "padrões da comunidade". E isto perante questões dirigidas a uma farmacêutica que recebeu milhões de dinheiros públicos para desenvolver esses mesmos produtos. Mas quem são esses verificadores de factos que se arrogam ao police verso, verso police , quais imperadores romanos quando, na verdade, não passam tantas vezes de meninos a soldo de interesses pouco nobres?
Entretanto, o FB faz chantagem com a Europa. Se o velho continente não permitir que os dados dos utilizadores europeus sejam enviados para os seus servidores nos EUA, a rede social sai desses mesmos países. E esta altivez de Zuckerberg persiste até depois do Tribunal de Justiça Europeu ter proibido, em 2020, essa mesma remessa, ameaçando com multa. Sucede que se o produto somos nós, as redes sociais não são um órgão de soberania, não podem substituir um tribunal a condenar ou castigar nem tão pouco podem queimar a constituição. Mas é neste ponto que estamos, em pleno século XXI. Milhões de pessoas esclarecidas e centenas de governos democráticos estão a compactuar com cortes censórios que ainda vagamente nos lembramos como começaram (diz que era nudez velada) mas que sabemos muito bem - pela história e pelo infelizmente comum comportamento da humanidade - como é que acaba. Derrocada triste de uma era. Fim.
*Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia
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