quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Portugal | NOTAS SOBRE AS ELEIÇÕES

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

1. António Costa já ficaria na história como um dos mais importantes políticos da democracia portuguesa. O direito a um lugar de relevo ficou garantido, logo em 2015, pela forma como mudou a arquitetura do poder, ao puxar bloquistas e comunistas para o chamado "arco da governação". Depois das eleições de domingo, e da improvável maioria absoluta que conquistou (incluindo o facto de a ter conseguido com apenas 41,7% dos votos), passou a ser o político português mais importante do século XXI. Não interessa para o caso se o leitor votou ou não no PS. Se se revê ou não no estilo, nas ideias ou no programa. Se o idolatra, se o detesta, ou se lhe é indiferente. Contra factos não há argumentos.

2. Bloquistas e comunistas apontam ao voto útil para justificar a sua implosão eleitoral. Tal como antes atiravam a Marcelo Rebelo de Sousa, por ter precipitado a dissolução do Parlamento. É o que se chama, num caso como no outro, tentar tapar o sol com a peneira. O voto útil foi a consequência, não a causa. Chumbar um Orçamento do Estado que previa um aumento extraordinário das pensões mais baixas (mesmo que contido), a redução do IRS à classe média (mesmo que moderada) e que tinha associado um aumento substancial do salário mínimo nacional (para só falar de algumas das medidas de alcance social que lá estavam) foi, como se confirmou, um verdadeiro tiro no pé.

3. O país é hoje muito diferente no que diz respeito à Direita. É verdade que o principal partido, o PSD, ficou na mesma. Porque Rui Rio não foi capaz de somar. E quem lhe suceder no imediato não terá vida fácil: corre o sério risco de ser um líder de transição (quatro anos, sem ter sequer um lugar no Parlamento, é demasiado tempo). O CDS, como as sondagens previam, desapareceu e seria preciso mais do que um milagre para renascer. Sobretudo porque o seu espaço político ficou solidamente ocupado, quer pela Iniciativa Liberal, quer pelo Chega. Os liberais foram a maior revelação desta campanha eleitoral, mas falta-lhes vencer o teste do tempo. Quanto aos radicais, abriu-se uma caixa de Pandora. E o que está lá dentro não é bonito.

* Diretor-Adjunto

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