Era uma vez a Avó Tchiolo que vivia sozinha numa pequena casa junto a um riacho na floresta do Maiombe. Todos os dias passeava pela mata, apreciando a natureza. Os macacos desciam do alto das mafumeiras e vinham brincar com ela. Ao fim de muitos anos de convívio, tornaram-se grandes amigos. Um dia recebeu da neta Nguala um convite para o seu casamento. Para ir à aldeia onde estavam os seus familiares, tinha de atravessar uma mata habitada pelas hienas e pelo terrível Mabeco Mau.
Avó Tchiolo era muito destemida. Fez a trouxa e partiu para a aldeia da filha e da neta Nguala. A Mamã já tinha percorrido tantos caminhos que o cansaço da vida obrigava a andar devagar. Tanto melhor. Assim podia dispensar algum tempo aos animais da floresta que com ela fizeram amizade.
A meio do percurso, Avó Tchiolo encontrou a Hiena Manhosa. Tentou esconder-se mas já era tarde:
– Vou comer-te, velhinha!
Avó Tchiolo, corajosa, disse à hiena:
– Não faças isso agora. Como vês, estou muito magrinha. Eu vou ao casamento da minha neta Nguala. Quando voltar estou mais gordinha e então podes comer-me.
A Hiena Manhosa afastou-se e deixou Avó Tchiolo continuar o seu caminho.
Ela prosseguiu a caminhada, com os seus passos lentos. Mas sem cansaço. Quando estava perto da aldeia onde viviam os familiares, o Mabeco Mau saltou-lhe ao caminho e uivou:
- Não passas aqui sem que eu te coma, velha magrinha!
Avó Tchiolo sentiu o coração tremer mas fez coragem e disse ao Mabeco Mau:
– Agora não me comas. Eu vou ao casamento da minha neta Nguala e quando voltar estou bem gordinha. Então tiras mais proveito quando me comeres.
O Mabeco Mau ficou a lamber a beiça e deixou passar Avó Tchiolo.
A Mamã chegou à aldeia dos
familiares e foi recebida
Alguns dias depois do casamento
de Nguala, Avó Tchiolo decidiu voltar a casa.
Quando já estava preparada para a viagem lembrou-se da Hiena Manhosa e do
Mabeco Mau. Contou o que tinha sucedido na sua viagem e os familiares
pediram-lhe que não voltasse a casa sozinha. Na família existiam caçadores que
podiam acompanhá-la, para viajar com segurança.
Mas Avó Tchiolo não quis esperar. Pediu aos parentes que a ajudassem a encontrar um objecto onde pudesse viajar escondida. Experimentaram panelas de barro e barris, mas apesar de ser pequena, ela não cabia lá.
De repente, Avó Tchiolo descobriu uma grande cabaça onde cabia bem. Abriu-lhe uma pequena janela para ver o caminho e partiu a rebolar.
Quando a cabaça passou pelo Mabeco Mau, ele perguntou:
– Viste por aí uma velha gordinha?
– Nem velhinha nem velhão, rola cabacinha, roda cabação!
O Mabeco Mau afastou-se e Avó Tchiolo prosseguiu o seu caminho.
Já estava perto de casa quando a Hiena Manhosa se atravessou no caminho da cabaça:
– Viste por aí uma velhinha?
A cabaça respondeu:
– Nem velhinha nem velhão, roda cabacinha, roda cabação!
A Hiena Manhosa afastou-se do caminho e a cabaça continuou a rolar. Pouco depois Avó Tchiolo chegou a casa em segurança, bateu com a cabaça numa grande pedra que estava perto da porta e saiu de lá de dentro.
Avó Tchiolo continuou a dar os seus passeios pela floresta, brincando com os animais amigos. Mas evitava entrar nos domínios da Hiena Manhosa e do Mabeco Mau. Os dois ainda hoje continuam à espera que a velhinha volte do casamento da sua neta Nguala.
Moral da história: A inteligência vale muito mais que a força.
* Esta história foi-me contada por José Casimiro em Cabinda
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