domingo, 20 de março de 2022

CONTOS POPULARES ANGLOLANOS - Avó Tchiolo Mede Forças com o Mabeco Mau

Seke La Bindo*

Era uma vez a Avó Tchiolo que vivia sozinha numa pequena casa junto a um riacho na floresta do Maiombe. Todos os dias passeava pela mata, apreciando a natureza. Os macacos desciam do alto das mafumeiras e vinham brincar com ela. Ao fim de muitos anos de convívio, tornaram-se grandes amigos. Um dia recebeu da neta Nguala um convite para o seu casamento. Para ir à aldeia onde estavam os seus familiares, tinha de atravessar uma mata habitada pelas hienas e pelo terrível Mabeco Mau.

Avó Tchiolo era muito destemida. Fez a trouxa e partiu para a aldeia da filha e da neta Nguala. A Mamã já tinha percorrido tantos caminhos que o cansaço da vida obrigava a andar devagar. Tanto melhor. Assim podia dispensar algum tempo aos animais da floresta que com ela fizeram amizade.

A meio do percurso, Avó Tchiolo encontrou a Hiena Manhosa. Tentou esconder-se mas já era tarde:

– Vou comer-te, velhinha!

Avó Tchiolo, corajosa, disse à hiena:

– Não faças isso agora. Como vês, estou muito magrinha. Eu vou ao casamento da minha neta Nguala. Quando voltar estou mais gordinha e então podes comer-me.

A Hiena Manhosa afastou-se e deixou Avó Tchiolo continuar o seu caminho. 

Ela prosseguiu a caminhada, com os seus passos lentos. Mas sem cansaço. Quando estava perto da aldeia onde viviam os familiares, o Mabeco Mau saltou-lhe ao caminho e uivou:

- Não passas aqui sem que eu te coma, velha magrinha!

Avó Tchiolo sentiu o coração tremer mas fez coragem e disse ao Mabeco Mau:

– Agora não me comas. Eu vou ao casamento da minha neta Nguala e quando voltar estou bem gordinha. Então tiras mais proveito quando me comeres.

O Mabeco Mau ficou a lamber a beiça e deixou passar Avó Tchiolo.

A Mamã chegou à aldeia dos familiares e foi recebida em festa. Ajudou a filha e a neta nos preparativos do casamento e quando chegou o dia da boda, comeu e bebeu, cantou e dançou.

Alguns dias depois do casamento de Nguala, Avó Tchiolo decidiu voltar a casa.
Quando já estava preparada para a viagem lembrou-se da Hiena Manhosa e do Mabeco Mau. Contou o que tinha sucedido na sua viagem e os familiares pediram-lhe que não voltasse a casa sozinha. Na família existiam caçadores que podiam acompanhá-la, para viajar com segurança.

Mas Avó Tchiolo não quis esperar. Pediu aos parentes que a ajudassem a encontrar um objecto onde pudesse viajar escondida. Experimentaram panelas de barro e barris, mas apesar de ser pequena, ela não cabia lá.

De repente, Avó Tchiolo descobriu uma grande cabaça onde cabia bem. Abriu-lhe uma pequena janela para ver o caminho e partiu a rebolar.  

Quando a cabaça passou pelo Mabeco Mau, ele perguntou:

– Viste por aí uma velha gordinha?

– Nem velhinha nem velhão, rola cabacinha, roda cabação!

O Mabeco Mau afastou-se e Avó Tchiolo prosseguiu o seu caminho.

Já estava perto de casa quando a Hiena Manhosa se atravessou no caminho da cabaça:

– Viste por aí uma velhinha?

A cabaça respondeu:

– Nem velhinha nem velhão, roda cabacinha, roda cabação!

A Hiena Manhosa afastou-se do caminho e a cabaça continuou a rolar. Pouco depois Avó Tchiolo chegou a casa em segurança, bateu com a cabaça numa grande pedra que estava perto da porta e saiu de lá de dentro.

Avó Tchiolo continuou a dar os seus passeios pela floresta, brincando com os animais amigos. Mas evitava entrar nos domínios da Hiena Manhosa e do Mabeco Mau. Os dois ainda hoje continuam à espera que a velhinha volte do casamento da sua neta Nguala.

Moral da história: A inteligência vale muito mais que a força. 

* Esta história foi-me contada por José Casimiro em Cabinda

Sem comentários:

Mais lidas da semana