Artur Queiroz*, Luanda
O problema é antigo e a Humanidade já sofreu horrores com as ditaduras. Os totalitarismos triunfam quando os seres humanos são reduzidos a números. Para que a Terra não esqueça, vou dar o exemplo mais chocante e desumano. Os nazis tatuavam números em milhões de judeus, comunistas ou minorias étnicas e depois abatiam-nos em campos de extermínio. Mas não estão sós na barbárie.
Hoje os seus seguidores reduzem tudo a números e calculam com precisão o pedaço de fome a que cada um tem direito, neste festim neoliberal que tem como rosto humano o senhor Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças do IV Reich. Quanto mais não seja pelo esgar de ódio que distorce permanentemente o seu rosto, o homem é-me absolutamente repugnante. Posso dizer isto à vontade porque dele não espero favores e muito menos crédito. Aliás, mesmo a cair da tripeça, ainda sou capaz de me indignar contra os nazis que invadem países pacíficos como Portugal, com os juros da dívida pública, o lixo das agências de notação financeira e o Tratado Orçamental que faz o papel da Gestapo nos países europeus com economias mais abertas e vulneráveis.
Schäuble, do alto da sua arrogância e destilando o fel acumulado desde a queda do III Reich, resolveu chamar uns serventes, que fazem figura de correspondentes dos canais de televisão portugueses, e disse que Portugal tinha de seguir a política do governo anterior (de Passos Coelho e Paulo Portas, dois nazis engravatados) e não podia enervar os mercados. Enquanto ditava tais sentenças, a espuma de raiva inundou a sua cadeirinha de rodas. O homem é ao mesmo tempo perigoso e ridículo, grotesco e ameaçador. Mesmo assim merece mais respeito do que os serventes que lhe captaram as ameaças e o discurso salpicado de ódio. Esses valem tanto como os líderes da Oposição: zero.
Passos Coelho e Assunção das Cristas, outras figuras de proa do PSD e do CDS, ouviram os dislates do nazi insanável e esfregaram as mãos de contentes. Já é grave, não os terem repudiado. Aplaudi-los é o grau zero da dignidade. E gente indigna, sem carácter, corroída pela gosma de regressar rapidamente ao pote, não merece o mínimo respeito.
Mas têm coragem. Porque sabem – basta olharem para Schäuble – que um dia lhes vão tatuar um número e a qualquer momento são atirados para o forno crematório onde acabam todos os que traem princípios e valores que são sagrados na democracia. Triste sina, a dessa gente.
Schäuble e seus apaniguados do Partido Popular Europeu mais os socialistas amestrados na magia dos números, como Jeroen Dijsselbloem, o presidente do Eurogrupo, já conseguiram o mais difícil. Qualquer Zé Ninguém pergunta a António Costa quem vai pagar a reposição dos salários e das pensões, a reversão de privatizações ilegais, o regresso dos feriados cortados, a redução dos horários na função pública, aumentados para 40 horas sem a respectiva contra partida salarial. As contas de somar são sempre a favor deles e as de diminuir tocam aos seres humanos reduzidos a números. Também puseram a ONU a olhar para o mundo através de números.
Quem não sabia ficou a saber, por gentileza do secretário-geral da ONU, que só em 2015, no Afeganistão, morreram 11 mil civis, vítimas dos invasores, a coberto da OTAN (ou NATO). Não pensem que este número vale alguma coisa para os nazis do IV Reich. Para eles, não há entre esses milhares, crianças abandonadas ou amadas pelos pais, idosos felizes ou sofredores, mulheres bem ou mal amadas, homens que nasceram na terra, cresceram a cultivá-la e regaram-na com o seu sangue, até ao último alento. Não. Segundo a ONU, são apenas mais quatro por cento do que no ano anterior. Os matadores foram ao Afeganistão impor a paz e a democracia!
A Síria também entra nos números dos nazis do IV Reich, que dominam o mundo, num eixo que passa por Berlim, Paris, Londres e Washington. Há cinco anos, naquele país não havia um tiro, as universidades estavam cheias de alunos, os hospitais e centros de saúde funcionavam bem, a economia era pujante. O presidente Assad deu uma grande ajuda à “coligação internacional” para derrubar Saddam Hussein.
Mas de repente o amigo passou a
inimigo e o eixo nazi decidiu impor a democracia
A Síria hoje não existe como país, tal como acontece no Iraque, ponto de partida do IV Reich, ou na Líbia. A democracia está nas mãos de assassinos cruéis e fanáticos. A paz foi reduzida a cinzas. Todas estas tragédias existem para as potências do IV Reich terem petróleo grátis, até encontrarem alternativas aos combustíveis fósseis. Para eles, os mortos e refugiados dos países que agridem, são apenas números.
NOTA: Este texto foi escrito em 2015. Mas como está actual, mando-o de novo. Os nazis do IV Reich invadiram a Federação Russa com sanções que são armas de destruição maciça. A democracia no mundo é uma miragem, pelo menos desde a invasão de Angola pelas tropas do regime racista da África do Sul. Os democratas de todo o mundo fingiram que não perceberam a nossa tragédia. Ainda fingem. Meteram a cabeça debaixo da areia e permitiram um autêntico genocídio. Nem sequer ouviram a súplica de D. Alexandre do Nascimento: Ajudem-nos, que perecemos! Hoje fingem que ajudam a Ucrânia. Mentira. Apenas fizeram de todo um povo, carne para canhão. Os nazis do IV Reich são mesmo perigosos e cruéis. Não há força humana que os detenha. Já não existem homens com a fibra e a coragem de Agostinho Neto e seus companheiros de luta. Fazem tanta falta à Humanidade!
* Jornalista
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