quarta-feira, 20 de abril de 2022

CRIAÇÃO DA RAÇA HUMANA -- O Descobridor do Paraíso de Feti e Choya

Seke La Bindo

O primeiro homem nasceu no paraíso da Babaera acalentado pela mãe do Cunene e Cuanza. Para uns, caiu do céu aos trambolhões. Para outros, foi criado por Suku, a partir de um rochedo que ele pacientemente amoleceu. Com essa massa granítica fez Feti, o Adão dos angolanos que habitam o Planalto Central, até à região de Caconda. A primeira mulher, Choya, nasceu no leito do grande rio do Sul, gerada pelo Rei das Águas. 

No mosaico cultural do Cassai, desenhado e criado ao longo de milénios, o primeiro Homem é Congo, filho de Suku, que também lhe deu vida a partir de um rochedo. O rio nasce em Angola e corre centenas de quilómetros em direcção ao grande Zaire ou Congo, onde desagua. Mesmo ao lado, médios e pequenos cursos de água avançam pacificamente para a vertente do Zambeze e lá vão para Oriente. Por esses caminhos foram os filhos dos nossos ancestrais, povoando todo o Mundo.

O paraíso que recebeu o primeiro Homem fica situado a 75 quilómetros da cidade do Huambo, na estrada que liga ao Lubango. Nos anos 50, um professor primário, Júlio Diamantino Moura, descobriu o Éden angolano. Dava aulas na capital do planalto central, nessa época ainda uma estação ferroviária. Nas férias escolares, arranjava uma equipa de ajudantes e explorava os rios da região, à procura de pepitas de ouro. Nessa actividade esquadrinhou o curso do rio Cunene desde a sua nascente até à Huíla. Um dia encontrou o paraíso.

Num texto colorido e empolgante, ele contou, no boletim do Instituto de Angola, como descobriu a casa de Feti, o primeiro Homem. Andava à procura de ouro, junto ao Cunene, a 75 quilómetros da cidade do Huambo. Na hora de descanso no acampamento, ao início da noite, um elemento da equipa, nascido na região, contou quase em segredo que ali estava o “princípio de tudo” (Feti). E a lenda tornou-se real. Por trás de uma densa barreira vegetal, era o Éden. O princípio da Humanidade. A nossa casa.

No dia seguinte, Júlio Diamantino Moura decidiu explorar o território por trás da densa barreira vegetal. Os ajudantes não queriam acompanhá-lo. Tinham uma razão de peso. No paraíso existe um rochedo, conhecido na região como a Pedra da Água. Quem olhava para a rocha ou lhe tocava, era imediatamente fulminado pela morte.

O professor primário não se comoveu com a lenda e marchou para o paraíso. Os ajudantes, timidamente, acompanharam-no. E encontraram algo extraordinário. Júlio Diamantino Moura descreve no seu texto um grande espaço com a dimensão de um campo de futebol, coberto de cinza. E ossadas de pessoas e animais, mais ou menos encobertas. 

Numa das extremidades, o paraíso de Feti tinha uma pirâmide de pedra, desmantelada até quase metade da altura. As pedras que faltavam na construção estavam despalhadas na zona. Muito perto, corre lentamente o Cunene. 

Júlio Diamantino Moura durante três anos explorou a casa de Feti. Descobriu que por baixo da pirâmide existiam galerias que entretanto foram assoreadas, o que não permitia a circulação de pessoas. Durante dias e dias, o professor primário e seus ajudantes desobstruíram as galerias e fizeram achados interessantes. Algumas flechas com ponta de ferro, alfaias agrícolas muito antigas, mas também enxadas da época. Apenas estavam cobertas de ferrugem. 

Todos esses materiais foram desenterrados e levados para o Huambo. As investigações de Júlio Diamantino Moura estavam autorizadas pelas autoridades locais e ele reportava todas as suas descobertas. Porque havia a suspeita de que existia ali um tesouro fabuloso!

 O Rei Lobengula

Lobengula, o rei dos Matabeles, em 1893 revoltou-se contra os ingleses. À frente dos guerreiros Ndebele e Shona, enfrentou os ocupantes. O Império Britânico espumou ódio. A guerra foi travada entre 1893 e 1897, na área do actual Zimbabwe. 

As tropas de Lobengula tinham armas rudimentares e os ocupantes estavam bem armados. A derrota foi inevitável. O soberano retirou e entrou no território que é hoje a província do Cunene. Em Xangongo foi subindo o curso do rio, até Galangue. Trazia com ele um tesouro fabuloso, de marfim, pedras preciosas e ouro.

Quando chegou ao paraíso, resolveu enterrar as riquezas. Depois matou um a um, todos os que conheciam o local. Para sinalizar o sítio, mandou construir a pirâmide. Como disfarce, ao lado, foi criado um campo de sacrifícios aos deuses, o que justifica as ossadas de pessoas e animais. A construção de pedra seria uma espécie de Totem. 

O rei Lobengula desapareceu sem deixar rasto. Ninguém, desde então, sabe para onde foi. Mas os sobreviventes dos massacres dos ingleses ali construíram as suas casas, criaram gado, cultivaram a terra e alimentavam-se da abundante caça que ainda hoje existe.

Faraó exilado

Júlio Diamantino Moura descobriu outra versão. A pirâmide continua a ser um ponto de referência e um local sagrado, mas foi mandada construir por um faraó do Egipto, deposto pelo irmão.

O soberano conseguiu reunir muitas riquezas e fugiu acompanhado do seu séquito e protegido por guerreiros ferozes dispostos a tudo, para defenderem o seu Faraó. Desceram África até ao paraíso de Feti. As riquezas foram enterradas e um número restrito dos seus colaboradores sabia que a pirâmide era o ponto de referência do tesouro enterrado.

O professor primário foi desobstruindo as galerias, uma a uma, mas não encontrou qualquer tesouro. Escavou novas galerias, foi esventrando a terra à volta da pirâmide mas além das alfaias agrícolas e das flechas com ponta de ferro, nada encontrou. Se existia um tesouro, ele foi levado por outros. Mas Feti é em si um tesouro extraordinário, à espera de ser apreciado e desvendado como uma preciosidade da Cultura Angolana.

Em 1926, um nobre egípcio descendente do Faraó exilado, pediu autorização ao Governo-Geral de Angola para caçar a Palanca Negra Gigante, na época abundante naquela parte do curso do Cunene. Entrou em Angola pera fronteira da Zâmbia, com uma dezena de viaturas de carga e todo-o-terreno. Perto da Pirâmide, ao saltar um riacho desequilibrou-se caiu. A arma que levava disparou-se acidentalmente. Teve morte imediata. A Pedra da Água não admite intrusos!

Revolucionários brasileiros

Antes do Grito do Ipiranga no Brasil, sucediam-se revoltas dos patriotas brasileiros que exigiam a independência da colónia. Alguns revolucionários de Minas Gerais foram condenados ao degredo perpétuo em Caconda. Conhecedores das técnicas de exploração mineira, começaram a garimpar ouro no Cunene. 

Grandes quantidades de ouro foram amealhadas e os garimpeiros resolveram enterrar esse tesouro num local próximo da pirâmide desmantelada que ainda hoje está visível e pode ser visitada. 

Quando o Brasil se tornou independente, os revolucionários foram perdoados e reabilitados pelo imperador D. Pedro. Antes de regressarem à pátria, foram desenterrar o ouro e levaram-no. Só ficaram as enxadas e outras ferramentas do garimpo, encontradas pelo professor primário, Júlio Diamantino Moura.

Uma coisa é certa: a pirâmide junto ao rio Cunene, na época ficava a dois dias de viagem de Caconda, a pé. Muito perto.

Comerciante Pedro Lota

O “Jornal de Benguela”, em 1925, publicou uma história empolgante sobre o nosso paraíso e a pirâmide desmantelada. Segundo o repórter, o comerciante benguelense Pedro Lota percorria os sertões entre o litoral e o interior, na sua tipóia. A mercadoria era levada às costas, por dezenas de carregadores. O pumbeiro (ou pombeiro) ia de Benguela ao Chongorói, Quilengues, Lubango, Caconda, Babaera, Huambo e Bié.

Nas suas actividades comerciais descobriu uma mina de ouro no paraíso de Feti. Passava lá grandes temporadas e mandava o ouro para a sua casa comercial de Benguela, dissimulado nas bolas de cera. Acumulou uma fortuna incalculável. O ouro era armazenado em galerias e a pirâmide foi construída como referência dos armazéns.

Júlio Diamantino Moura descarta esta possibilidade. O comerciante Pedro Lota existiu mesmo e era riquíssimo. Mas no paraíso de Feti e de Choya não existe qualquer indício de ouro.

Rei das Águas e Sereias

O que existe é uma queda de água belíssima. As águas do Cunene despenham-se de 30 metros e além da catarata há uma ilha formosa com 200 metros de comprimento e 50 de largura. Mesmo sem o primeiro Homem, é um verdadeiro paraíso. 

Nesse ambiente bucólico, muito para baixo do fundo do rio, fica o palácio do Rei das Águas e a ilha é povoada de sereias. Choya foi a primeira de todas e é a mãe de Cacanda, Galalangue e Bié. A primeira mamã de todos nós. Foi ali que Feti casou e de lá desapareceu para abrir todos os caminhos.

Choya ficou e morreu de velhice, muito perto da pirâmide, num grande espaço delimitado por quatro frondosas songues. As várias tonalidades de verde são o seu manto natural. Os angolanos têm pai e mãe.

O Mundo Criado por Feti e Choya 

Feti foi o primeiro Homem do Universo. Num dia de tempestade, os céus da Babaera foram rasgados por relâmpagos e tremendos trovões assustavam plantas, pedras e animais. Um raio intenso caiu sobre um rochedo, que se fendeu. De repente o céu ficou limpo e junto ao pedregulho poisou suavemente o Homem.

Na nascente do Cunene os animais pastavam placidamente e as águas corriam tranquilas. Feti tinha tudo o que desejava. Nada lhe faltava. Mas sentia-se muito só. Não se revia em ninguém, nenhum ser vivo ou inerte percebia a sua língua. Estava só entre vidas que fervilhavam, dias azuis, noites brandas, sons que mãos invisíveis faziam sair de instrumentos celestiais.

Um dia, Feti resolveu ir caçar um hipopótamo para se abastecer de carne e gordura. Foi descendo pela margem do rio Cunene sem nada encontrar. Estava à procura da presa quando decidiu banhar-se nas águas tranquilas. De repente, mesmo a seu lado, apareceu uma sereia. As gotas de água na sua pele negra brilhavam como diamantes. Os seus olhos eram doces. Com uma voz maviosa, saudou-o:

- Feti, o que fazes no palácio do Rei das Águas?

Feti ficou deslumbrado com o corpo, a voz, os doces olhos da sereia:

- Como te chamas, filha do Rei das Águas?

- Eu sou Choya e meu divino Pai deu-me permissão para falar contigo.

Feti, com o corpo acariciado pela frescura da água do Cunene, inebriado pelo perfume da sereia, sentiu uma paixão ardente por aquela preciosidade de perfeição. Levou Choya para sua casa, no rochedo fendido pela tempestade. Foi o primeiro casal da Humanidade. Alguns dias depois nasceu o filho, Galengue. E logo a seguir, a filha, Bié, tão bela como a mãe. 

Nas margens do Cunene, Feti e Choya tiveram mil filhos e estes reproduziram-se em milhões, que percorreram todos os caminhos do mundo desde a mãe do rio Cunene até aos desertos de gelo. 

A versão de Caluqembe

Outro mito sobre a Criação do Homem foi recolhido pelo investigador Alfred Hauenstein, na região de Caluquembe. 

Um dia Suku (o deus de todos os deuses) decidiu dar ao Universo um Mundo de pessoas. Foi ao rio Cunene e no rochedo que marcava o cume de uma colina verde, resolveu fazer a sua criação.

Suku amoleceu o rochedo e depois tirou das suas entranhas quatro homens. Para povoarem a Terra decidiu dar-lhes poderes especiais. Ao primeiro deu o poder de lançar sobre a Humanidade o feitiço da má sorte.

Uma vez senhor do seu poder, o feiticeiro partiu até aos confins da foz do Cunene. 

Ao segundo homem, Suku deu o poder de adivinhador. Quando se sentiu tão poderoso, ele percorreu todos os caminhos, adivinhando graças e desgraças. 

Suku deu ao terceiro homem o poder de curandeiro. E mal sentiu esse poder, andou por montanhas e chanas, enfrentando a morte e a doença das plantas, pedras ou bichos. Que pessoas ainda não existiam! Mas estavam mesmo quase a chegar.

Ao quarto filho, Suku deu a arte de caçar. Mal sentiu o ímpeto de caçador, partiu para o mundo à procura de carne para alimentar todos os filhos da Humanidade que em breve nasceriam nas margens do Cunene e depois em toda a Terra.

Um dia, o caçador estava junto à margem do Cunene quando viu um corpo estranho levantar-se da água. Como não sabia o que era, atirou-se ao rio e com a habilidade de caçador amarrou aquele ser. Era uma bela sereia e foi a primeira mulher da Humanidade. O caçador levou-a para casa e fez dela sua companheira. No dia seguinte nasceram três belas meninas.

Uma menina casou com o feiticeiro do mal, outra com o adivinhador e a outra com o curandeiro. Alguns dias depois o mundo estava repleto de seres humanos que se propagaram intensamente a partir das margens do Cunene. Uns curam os males, outros cultivam malefícios. Todos caçam e adivinham. A vida é uma beldade.

O texto em umbundo

Encontrei o texto desta lenda em umbundu (com a gramática usada na tradução da Bíblia) e que revela a tradição oral dos vimbundos de Caluquembe, sobre a Criação do Homem. A peça tem um valor extraordinário e foi publicada no Boletim do Instituto de Angola, números 21/23, de 1965. 

Monsenhor Luís Keiling, que escreveu as suas memórias de 40 anos de vida missionária em Angola, foi o primeiro a publicar a lenda de Feti e Choya. Leiam o texto que nos revela como nasceram os seres humanos:

Suku wa lulika omanu vatete. Alume vakuãlã va tunda vesenje. Va sanga ovombanda akuãlã. Wa tete wa tambula umbanda wokuloa. Wavali wowu wokutãhã. Watatu wa tambula unune Wokusakula wakuãlã wa linga ukongo. Eteke limue ukongo wa enda okuyeva konele yolui, yu wa linga ukongo.

Eteke limue ukongo wa enda okuyeva konele yolui, yu wa mõlã cimue ci lisenga vovava, wa ci kuata, wa ci kuta lolondovi kuenda wa ci limgisa upika waye.

Oco ukai watete. Eci ukongo wa tiuka kocilombo caye wo kuela yu wa linga ukai waye. Kovaso yoloneke we mina yu wa cita. Omala vaye akai vatatu va linga akai valume vatatu vakuavo.

A Versão Muthu Muthangu

Zambi (o deus dos deuses de kimbundus e bakongos) um dia decidiu criar o Mundo. Já tinha tudo planeado quando descobriu que para a sua criação ser perfeita, tinha que colocar na Terra um ser que se distinguisse das pedras, das plantas e dos bichos. Depois de muitos estudos encontrou a solução: O Homem. 

Primeiro criou uma pedra mole e depois tirou lá de dentro Muthu Muthangu, o primeiro de todos os homens. 

Fascinado com a sua criação, resolveu levá-lo para a margem do Cassai, o grande rio da vida criada, por criar, existente ou por existir.

A pedra que gerou Muthu Muthangu ainda hoje está resguardada pela natureza, na margem do Cassai, perto do Alto Chicapa. Sentado nela, escrevi poemas de amor e perdi os olhos nos mil matizes de verde desde as colinas à imensidão das chanas. Além do primeiro Homem, a pedra do Cassai também gerou o império do Mwata Iânvua.

A pedra tem duas faces: numa está gravado o pé descalço de um negro. Na outra, o pé descalço de um branco, ambos filhos de Muthu Muthangu. 

Os dois homens um dia resolveram partir para norte e chegaram ao fim de África. Quando se fizeram ao mar, o homem negro sentiu muito frio e voltou para terra, regressando ao Cassai. O filho branco de Muthu Muthangu atravessou o mar e chegou à Europa. O frio e a solidão amarguravam a sua vida. Tudo à sua volta era tristeza.

Um dia o solitário filho de Muthu Muthangu encontrou uma mulher: Weza. Mas ela era pecadoramente bela, por isso teve que escondê-la. Os filhos do casal nasceram pecadores. Alguns tornaram-se ladrões e assassinos. As meninas nasciam marcadas pela beleza da mãe. Então os homens resolveram que as mulheres tinham que ser afastadas da vida social e escondidas, o mais possível.

E assim se fez. Mas aquele mundo estava cada vez mais pobre, tristíssimo e sem sol. O filho branco de Muthu Muthangu resolveu regressar ao Cassai e pediu apoio ao irmão que abortou a viagem marítima e regressou a casa. 

Como é uso e costume nas terras livres do Cassai, o filho negro de Muthu Muthangu respondeu:

- Regressa a casa e traz para cá toda a tua prole. Aqui tens água, frutos, Sol, Lua e estrelas. Temos a música dos tambores, as melodias do txissanji. Há comida nas lavras. Desde que haja braços, há terra.

O filho branco de Muthu Muthangu regressou à Europa e lá juntou todos os seus descendentes que enveredaram pelo crime. Tinha um plano secreto: Conquistar o paraíso do Cassai e todos os outros mundos africanos.

 Um dia, já os seus ossos tinham sido calcinados pelo sol e comidos pelo tempo, os seus descendentes ladrões e assassinos embarcaram para África e fizeram guerras mortíferas nos paraísos africanos. Escravizaram os irmãos. Alguns chegaram ao Cassai, mas nunca foram aceites como membros da família, porque não sabiam quem era a mãe. E só os feiticeiros não respeitam as mamãs.

Esta lenda Tchokwe é citada por vários investigadores do império do Mwata Iânvua e do Império Lunda-Tchokwe. A versão apresentada é livre.

A Versão de Congo

Um dia Zambi decidiu melhorar a vida na Terra e enviou o seu filho Congo para criar o paraíso. Como não queria levantar suspeitas aos demónios, transformou-o em ombambi, um alegre cabritinho do mato.

Congo saiu do império celestial e visitou o Sol. Foi muito bem recebido e o rei dos astros prometeu criar na Terra um clima ameno, sem muito calor nem frio. O filho de Zambi ficou satisfeito com a visita e partiu para casa da Lua. O encontro foi muito agradável e a rainha da noite prometeu fornecer luar à Terra, para todo o sempre.

Congo apreciou muito esta visita e a seguir foi às estrelas, que o cobriram de ouro e prata. Todas prometeram que dariam eternamente à Terra, a sua luz brilhante. Feliz com esta visita, partiu para o seu destino e poisou suavemente numa lavra perto do rio Lóvua. No terreiro da casa, uma mulher fazia farinha de milho no pilão.

Quando ela viu ombambi ficou assustada e deu-lhe uma paulada na cabeça, partindo-lhe os chifres. O filho de Deus caiu fulminado. Congo estava morto. A mulher, com medo das consequências, fugiu para o rio, fingindo que tinha ido à água.

Zambi nunca mais teve notícias de Congo e decidiu ir saber dele. O Sol disse-lhe que o tinha recebido bem. A Lua declarou-se enamorada de Congo e do seu disfarce de ombambi. As estrelas contaram como lhe teceram um manto de luz e ouro. O deus dos deuses então perguntou à Terra:

- O que aconteceu ao meu filho Congo? 

A Terra disse que nada sabia.

Zambi ficou irado e condenou a Terra à morte:

- Que morram todos como Congo!

Ainda hoje as comunidades do Cassai, quando oram, dizem: “Morremos como Congo porque os chifres foram partidos”.

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