Como há cinco anos, o candidato centrista derrotou a extrema-direita, mas desta vez a vitória não foi tão clara, ao alcançar 58,55% dos votos -- resultados oficiais. No discurso de vitória, Macron teve uma palavra para todos os eleitores e prometeu mudanças profundas na gestão presidencial.
Chegou ao Champ de Mars ao som do Hino à Alegria, a composição de Beethoven que é também o hino europeu, e despediu-se ao som d'A Marselhesa interpretada por uma cantora lírica de origem egípcia da Ópera de Paris: nestas eleições estava em jogo mais do que os próximos cinco anos de França. "Fizeram a escolha de um projeto humanista, ambicioso pela independência do nosso país, pela Europa", disse o presidente reeleito com 58,55% (resultados oficiais divulgados ao início da madrugada) dos votos aos seus apoiantes. Aos eleitores de Marine Le Pen, que alcançou o seu melhor resultado de sempre (41,45%), disse que não os iria ignorar.
"Sei que para muitos dos nossos compatriotas que escolheram a extrema-direita, a revolta e o desacordo levou-os a votar a favor desse projeto, o que nos obriga a encontrar uma resposta. Temos de responder eficazmente à indignação que foi manifestada", prometeu Macron. Aos eleitores que não se sentem representados por si mas que ainda assim votaram nele "para impedir a extrema-direita" disse estar "consciente do que este voto obriga para os anos vindouros".
Deixou também uma mensagem aos abstencionistas, cujo "silêncio significou uma recusa em escolher", e que a estes também há que dar respostas. A todos prometeu cinco anos em que "ninguém será deixado pelo caminho" e que "não serão de continuidade", mas de uma "nova era" fundada num "método renovado", embora no discurso, curto, não se tenha detido sobre o que augura para a presidência. "Os próximos anos não serão certamente tranquilos, mas serão históricos."
A vitória de Emmanuel Macron foi
celebrada pelos líderes europeus, de Portugal à Finlândia. Uma "grande
notícia para a Europa", comentou o italiano Mario Draghi. O ministro das
Finanças alemão, o liberal Christian Lindner, disse que os franceses fizeram
uma opção em termos de valores e ao escolherem Macron fez "com que a
Europa unida seja a maior vencedora desta eleição. Vive
"Calorosas felicitações", reagiu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. "Nestes tempos conturbados, precisamos de uma Europa forte e de uma França plenamente empenhada numa União Europeia mais soberana e estratégica."
Le Pen com a maior votação de sempre
Aos 44 anos, o mais jovem presidente francês de sempre quer deixar para trás um quinquénio marcado pela revolta social dos coletes amarelos e as crises económicas e sanitárias da pandemia. Centrista e reformista, o seu programa acabou por captar mais votos do que o de Marine Le Pen, que fez uma campanha marcada pela moderação (possível) e centrada nos problemas económicos e na perda do poder de compra. E desta forma entrou na seleta galeria de dirigentes reeleitos para o Palácio do Eliseu, 20 anos depois de Jacques Chirac derrotar o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, com uns esclarecedores 82,2%.
A líder da Reunião Nacional, de 53 anos, ao passar a barreira dos 40 pontos percentuais, subiu consideravelmente a votação em relação às eleições de 2017, onde alcançara 34% "As ideias que representamos atingiram novas dimensões... este resultado em si representa uma vitória retumbante", declarou Marine Le Pen aos apoiantes após a publicação das primeiras projeções.
"Estamos mais determinados do que nunca, e a nossa vontade de defender os franceses continua reforçada. Hoje, não tenho qualquer ressentimento nem rancor. Já fomos enterrados mil vezes e a história provou, mil vezes, que aqueles que previam ou esperavam pelo nosso desaparecimento estavam errados", disse. Le Pen acrescentou que irá prosseguir a sua carreira política.
A candidata de extrema-direita considerou que se assiste a uma "grande recomposição política" com o desaparecimento dos partidos tradicionais (Partido Socialista no centro-esquerda e Os Republicanos no centro direita) e, como tal, alimenta a ambição de "liderar a batalha" contra o partido de Macron nas eleições parlamentares de junho. "O jogo ainda não acabou. Irei liderar essa batalha com todos aqueles que tiveram a coragem de se opor a Emmanuel Macron nesta segunda volta, com todos aqueles que têm a nação cravada no corpo", fazendo referência aos nacionalistas.
Também o candidato de extrema-direita Éric Zemmour apelou para a constituição de um bloco nacionalista em oposição ao centrista de Macron e ao de extrema-esquerda de Jean-Luc Mélenchon.
O líder da França Insubmissa, que ficou em terceiro lugar na primeira volta, disse que a derrota do Marine Le Pen foi "muito boa notícia para a unidade do povo", sublinhando ao mesmo tempo que Emmanuel Macron foi "o presidente mais mal eleito da Quinta República", tendo também apontado já baterias para as eleições legislativas.
Macron sim, Macron não
A maioria do povo francês não quer que Emmanuel Macron ganhe as eleições legislativas, de acordo com duas sondagens publicadas no domingo à noite. Segundo a sondagem para a Cnews e Europe 1, 63% dos inquiridos querem que Macron "não tenha uma maioria e seja forçado a uma coabitação", contra 35% que querem que tenha uma maioria na Assembleia Nacional. De acordo com a sondagem Ipsos para a France TV, Le Parisien e Radio France, 56% dos inquiridos querem que Macron perca as eleições legislativas.
Estes resultados compreendem-se melhor ao saber-se que 42% dos eleitores que votaram no presidente na segunda volta o fizeram "acima de tudo" para que Le Pen não vencesse, conclui o estudo de opinião Ipsos.
César Avó | Diário de Notícias
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