Rafael Barbosa* |Jornal de Notícias | opinião
Chegamos a maio com 8% de inflação. O valor mais alto desde 1993.
O ano em que a Checoslováquia
deixou de existir, dividindo-se entre checos e eslovacos; o ano em que os EUA e
a Rússia ainda eram amigos e George Bush (pai) e Boris Ieltsin (o primeiro
presidente da Federação Russa) assinaram um acordo que permitiu reduzir os
arsenais nucleares em 30%; e, já agora, o ano em que entrou em vigor o Tratado
de Maastricht (que transformou a CEE
Voltemos a 2022, uma vez que é no presente que temos de pagar a gasolina e a conta da supermercado. Os primeiros a sentir os efeitos da inflação foram, como sempre, os mais pobres e os remediados. Os primeiros dependem de novo da entrega de cabazes e da "sopa dos pobres" para alimentarem os filhos. Os segundos, que no ano passado contavam os euros e os dias, tentando chegar ao fim do mês, já não têm contas para fazer. Nos últimos dias do mês, já não há dinheiro.
Têm razão os portugueses quando dizem de forma esmagadora que o aumento extraordinário de 10 euros nas pensões não é suficiente (83%). Têm razão quando dizem que o aumento de 0,9% na Função Pública (10 euros num salário de 1200 euros) é insuficiente (79%). Tem razão Silva Peneda quando diz que é preciso aumentar 5% os salários no setor privado. Tem razão quem lembra que a inflação já "comeu" o aumento do salário mínimo (subiu 6%, a inflação vai nos 8%).
São pessoas concretas as que estão nesta linha de fogo. E não falta margem ao Governo para tomar medidas. O que talvez falte é vontade. Como anunciou a Comissão Europeia, o limite de 3% para o défice está suspenso. Portugal não tem de ficar amarrado aos 1,9% previstos para este ano. E ainda menos aos 1% do ano que vem. Isto significa que há uma margem de muitos milhares de milhões de euros, neste e no próximo ano. Há escolhas para fazer. Ou o PS aplica a receita da troika, e voltamos aos tempos de austeridade, ou deixa respirar os portugueses, aumentando os apoios sociais aos mais pobres e reduzindo a carga fiscal aos remediados e aos que para lá caminham. Se não o fizer, estamos tramados.
*Diretor-adjunto
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