domingo, 28 de agosto de 2022

ÁRBITROS AMEAÇADOS DE CADEIA OU FUZILAMENTO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As eleições em democracia têm normas claras e existem instituições que garantem o cumprimento escrupuloso das regras. Os partidos concorrentes são jogadores. A Comissão Nacional Eleitoral é a equipa de arbitragem. Dela fazem parte representantes de todos os jogadores. Mais democracia é impossível. Contados os votos e divulgados os resultados provisórios todos ficámos a saber quem ganhou o pleito eleitoral. Provisoriamente. Logo a seguir, um jogador, a UNITA, veio dizer que o árbitro fez batota e quem ganhou o jogo foi ele. É assim desde 1992. A falta de respeito pela democracia e as instituições democráticas vai continuar até ao dia em que os galos tiverem dentes.

Desta vez a UNITA foi ainda mais longe e exige uma “comissão internacional” para substituir a instituição nacional que, repita-se, também tem árbitros da UNITA e de outros partidos concorrentes. Savimbi, em 1992, disse com um sorriso alarve e mostrando o seu ódio à democracia: As eleições só valem se ganharmos nós. Se perdermos, é porque houve fraude. 

Adalberto da Costa Júnior é ainda mais radical. O Galo Negro ganhou em Luanda por números esmagadores. E ele diz que houve fraude! Ainda ganhámos por mais. A UNITA ganhou no círculo provincial de Cabinda. Adalberto diz que a falsificação dos resultados é abismal. A UNITA teve ainda mais votos. A UNITA ganhou no círculo provincial do Zaire. Adalberto diz que a fraude está à vista. A UNITA teve o dobro dos votos. 

Em Angola existe o Poder Legislativo. Existe o Poder Judicial. São órgãos de soberania que têm o dever de acabar com estes ataques brutais ao regime democrático. Matar é grave. Roubar é grave. Os crimes contra o património são graves. Os atentados ao Direito à Inviolabilidade Pessoal são gravíssimos porque ferem Direitos de Personalidade. Mas os crimes contra a democracia não são menos graves. E invocar sistematicamente a existência de fraude eleitoral quando um jogador perde, é um crime grave. 

A Assembleia Nacional tem o dever de legislar sobre esta matéria. Os Tribunais têm a obrigação de julgar e condenar quem comete este gravíssimo crime. Se nas próximas eleições o filme de terror se repetir, então é porque Angola tem mais inimigos da democracia do que a seita satânica chamada UNITA. 

Quem quiser concorrer a eleições tem de assumir um compromisso solene: É jogador e no final do jogo não pode usurpar o lugar do árbitro. Não pode. Imaginem que o Primeiro d’Agosto goleia o Petro por 15-3. No final do jogo, o capitão da equipa derrotada diz que ganhou e exige a presença de um árbitro internacional que corrija o resultado e lhe dê a vitória. Jogo de basquetebol. O Primeiro d’Agosto ganhou ao Petro por 51-44. Mais de três cestos de diferença. No final do jogo, o capitão do Petro diz que ganhou o jogo e exige a presença de um árbitro estrangeiro que lhe dê a vitória. E mande fuzilar o árbitro. Isto só cabe na cabeça dos seguidores de uma seita satânica. E de quem odeia a democracia com todas as suas forças.

A UNITA trouxe para Angola falsas e falsos jornalistas, feios, porcos e maus, que se comportam como ocupantes. Colonialistas à moda do antigamente. Penso que nem os nazis do partido Chega engolem um comportamento colonialista tão primário. Elas e eles passeiam-se pelas nossas ruas e instituições como se fossem pides, ximbas, bufos, polícias de pistola e porrete, racistas encartados. Apontam as câmaras e falam sem dó nem piedade. Os brancos chamam a isso, liberdade de expressão. Mas não é! A estupidez, a imbecilidade, a ignorância, a arrogância, a desonestidade intelectual, os vendedores de mentiras não têm a ver com nada. Muito menos com liberdade seja do que for. 

A Luzia Moniz está toda abespinhada com os Media públicos. O criado do Balsemão e outros tubarões, Carlos Rosado Carvalho, ataca violentamente os Media públicos. O Adalberto ataca alarvemente os Media Públicos. A sobrinha do meu saudoso amigo Manuel Pedro Pacavira andou décadas a mamar no MPLA e depois tiraram-lhe a chucha. O Adalberto prometeu-lhe um tacho numa empresa pública de comunicação social. A vitória do MPLA, com maioria absoluta, fez ruir os seus sonhos e expectativas de voltar a mamar. Tem paciência filha. Tens mesmo que trabalhar para comer. Ou então metes-te debaixo dos brancos.

O Carlos Rosado de Carvalho tem vários donos. Pelos vistos, são todos a favor da UNITA. O rapaz está desesperado. O Adalberto deve ter prometido à besta insanável um lugar no governo. Aguenta rapaz. Vais continuar como servente e já estás com muita sorte. Um retornado azedo e vingativo que agora trata os angolanos como se fossem seus escravos, não merece tantas facilidades. 

Os Media públicos cresceram à sua custa. Formaram os seus quadros, superaram mil obstáculos, quase todos insuperáveis sem gente qualificada. Estão hoje num estádio de desenvolvimento muito interessante. Parabéns a todas e todos que geriram e gerem hoje as empresas públicas de comunicação social. Fizeram o que nem eu próprio acreditava ser possível. Superaram as minhas melhores expectativas. Merecem a admiração e o respeito da comunidade jornalística. Só eu sei como foi difícil chegarem onde chegaram, pelo menos na RNA e no Jornal de Angola. Redobrados parabéns pelo desempenho durante estas eleições.

Manuel Rui Monteiro, escritor, foi até agora o mais elegante vira-casacas. Leva claramente a taça. Não fez como o Jacques dos Santos que declarou o voto na UNITA porque Adalberto da Costa Júnior, se fosse eleito, largava o lugar de presidente do partido. Numa crónica intitulada “Democracia(s)”, publicada no Jornal de Angola, escreve isto: “O presidente da República não deve ser presidente de um partido”. 

O Adalberto repetiu vezes sem conta que se fosse eleito rasgava a Constituição da República. Ele não usava a palavra “rasgar”. Mas como não podia rever, obviamente que ia rasgar. Se fosse preciso, pela força das armas do Numa, do Gato, do Manuvakola, do Apolo e outros diabos armados da seita satânica. O Manuel Rui escreve isto: “Angola é uma África diferente e mais nova, por isso, devemos fazer uma nova Constituição”. Aí está. Se um árbitro internacional mandar prender os membros da Comissão Nacional Eleitoral e der a vitória à UNITA nestas eleições, o Manuel Rui tem um lugar garantido no governo, de onde foi apeado por Agostinho Neto. Mais um ex-camarada que era mais MPLA do que o MPLA! Mudam-se os tempos e mudam-se os à-vontades. 

João Lourenço, meu camarada! Não se arranja aí um tacho para esses trânsfugas desavergonhados? Só para não cuspirem neles próprios, quando se mirarem ao espelho.

*Jornalista

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