domingo, 25 de setembro de 2022

Angola | ENTALADO ENTRE CESALTINA E O MINISTRO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O respeitinho é muito bonito por isso vou começar pelo senhor ministro da Comunicação Social. Sua excelência disse que o contraditório é o suprassumo do Jornalismo (pedra angular). Excelência, não acredite no bêbado da valeta ou no Teixeira Cândido. Porque para eles o único critério que conta é dinheiro, quanto mais sujo melhor. A verdade é outra, muito diferente.

Entre os critérios que suportam os conteúdos comunicacionais, aquele que é a marca distintiva do Jornalismo chama-se RIGOR. O Jornalismo é um exercício permanente de grande rigor e só se realiza numa lógica de contrapoder. Os outros critérios de nada valem sem este. Sem ACTUALIDADE não há notícia porque este critério é a marca distintiva das mensagens informativas. Mas pode haver jornalismo sem ele. 

Sem o critério da VERDADE DOS FACTOS pode haver Jornalismo. Desde que o jornalista prove que, em boa-fé, reputou os factos como verdadeiros quando produziu a notícia ou reportagem. Essa é uma das causas de exclusão do ilícito. A Liberdade de Imprensa é tão importante para o regime democrático que o jornalista até pode escrever mentiras, desde que tenha confirmado e reconfirmado os factos (teoria das três fontes). Foi enganado, paciência.

IMPARCIALIDADE (o tal contraditório) é o “critério flutuante”. Sem ele há Jornalismo e até pode ser de excelência. Permita-me excelência que lhe fale de mim. Uma fase da minha vida fui repórter sem patrão. Hoje é freelancer. Tinha uma combina com o director de um grande rotativo e andava cavando notícias que ao fim da tarde lhe levava. Ele escolhia o que interessava e pagava à vista. Mas tinha direito a um prémio por cada notícia ou reportagem que davam manchete ou janela de primeira página. No final do mês recebia mais em prémios do que o salário do director. Gastava a massa rapidamente nos botequins, bares e cabarés onde meninas gentis provavam à saciedade que o amor é facílimo.

Quando conseguia uma “cacha” retumbante eu geria os fragmentos de informação parcimoniosamente. Na primeira manchete revelava factos chamativos. Na segunda, factos mais interessantes. E na terceira manchete, os extraordinários. Dava espaço a todas as partes com interesses atendíveis. Mas à medida que ia revelando fragmentos de informação que os “picassem”. Quando ia ouvi-los, abriam o livro e aquilo dava makas mundiais. E eu a facturar manchetes. Claro que em todas as reportagens informava os consumidores, que estava a fazer esforços para ouvir as outras partes. Profissionalismo acima de tudo.

Aqui entra o DEVER DE CUIDADO. É uma obrigação dos jornalistas mas ao mesmo tempo um critério que suporta os conteúdos comunicacionais. Sem ele não há jornalistas nem Jornalismo. Portanto, já sabe, excelência. Isso do contraditório é lá para os Tribunais. A Imparcialidade pode e deve ser gerida pelo jornalista. Porque desde o início do século XX, a notícia é uma mercadoria, muitas vezes com usura incorporada. 

Os jornais deixaram de ser espaços de liberdade para serem meros negócios ao serviço de interesses inconfessáveis. Digo-lhe mais, excelência, o ideal é que o ramo esteja nas mãos do Estado. Assim sabemos que o negócio é controlado por quem foi eleito e não por madalenos e sobrinhos. Isto para não falar de abutres e outras aves de rapina. Coitadinhos dos marimbondos, são insignificantes comparados com esses gabirus. 

Eu sou uma vítima do imperialismo. Nessa qualidade conheci gente muito interessante, também anti-imperialista por dever de sobrevivência. Uma dessas pessoas era Cesaltina Abreu, engenheira agrónoma e minha amiga. Um dia destes surpreendeu-me com uma “acção popular” dos accionistas da Sociedade Civil em consórcio com a UNITA. Fiquei muito surpreendido mas a vida é mesmo assim. Só não mudam de campo os burros como eu, que fazem da honestidade e da coerência uma bandeira hasteada no mastro mais alto da vida.

Hoje recebi um texto da Cesaltina intitulado “Os resultados de uma equipa apresentada como vencedora”. Uma pretensa resposta à declaração de João Lourenço sobre a sua equipa ganhadora. Caríssima amiga, o presidente do nosso MPLA (ou já não és? Olha eu, burro como sou, não consigo mudar nem para o partido de Deus) falou em ganhar eleições. Estava a falar dos resultados eleitorais. E da equipa que as ganhou. Não falava dos resultados da governação na legislatura. Mas esses também não foram muito maus porque submetidos ao voto popular, o MPLA ganhou estrondosamente. Nadas de manipular para enganar e iludir.

Para provar que a equipa governamental liderada por João Lourenço coleccionou derrotas sociais e económicas, Cesaltina cita a Chatham House (antes chamava-se Royal Institute of Internacional Affairs) uma coisa sinistra ligada aos serviços secretos britânicos. Colecciona denúncias e “reflexões” sob rigoroso anonimato. Promoção dos bufos e bufas. Tem como patrocinadores o governo dos EUA, a National Endowment for Democracy (ligada à CIA e ao Pentágono) e a Open Society Foundations do George Soros, patrão de Rafael Marques e outra criadagem. Cesaltina, já vais aí? Não corras tanto que eu não aguento a passada.  

A minha amiga Cesaltina, para provar que o governo dos últimos cinco anos foi mau (também acho que foi) cita prestimosas instituições ligadas a serviços secretos ocidentais como a Feeedom House Index (quando sou confrontado com a palavra índex penso logo na Inquisição e até os testículos me temem porque sou ateu e blasfemo) e a EXX África do Bill Neukom, empregado de Bill Gates e defensor estrénuo da empresária Isabel dos Santos. Também está ligado ao World Justice Project, um instrumento da prestimosa CIA, instituição que mandou para Angola oficiais, agentes e matilhas de mercenários, em 1975, para impedir a Independência Nacional. Que lástima, Cesaltina!

Eu também acho que o primeiro governo de João Lourenço foi mau. Mas está desculpado porque ascendeu ao poder quando o Ocidente está em falência técnica e cria perturbações terríveis no planeta. A meio do mandato o mundo parou com a COVID19. No final rebentou a guerra da OTAN (ou NATO), EUA e União Europeia (coligação dos falidos) contra a Federação Russa por procuração passada à Ucrânia. Guerra, Cesaltina! 

Agora vamos ver quanto vale o governo de João Lourenço. Espero muito que tenha sucesso. O Povo Angolano merece. E como ficou demonstrado em 24 de Agosto, nem nos próximos 50 anos há alternativa ao MPLA. Tudo o que existe de positivo em Angola, deve-se ou tem a ver com o MPLA. Porque enquanto estávamos a construir um país em África, a UNITA e seus parceiros da Sociedade Civil estavam a destruir ou à boa vida. Não sabem fazer mais nada. 

*Jornalista

Sem comentários:

Mais lidas da semana