Artur Queiroz*, Luanda
A desminagem em Angola só fica concluída em 2028, informou a Agência Nacional de Acção contra Minas (ANAM). A guerra acabou em 2002 mas os engenhos explosivos continuam a guerrear contra as populações que habitam as áreas das províncias que foram campos de batalha. Por exemplo, Cuando Cubango.
No ano de 2014 fui ao Cuito
Cuanavale com o repórter fotográfico Paulino Damião “50, um dos melhores do
mundo. Fomos apanhados desprevenidos e partimos sem mala, sem roupa, sem nada.
Chegados ao objectivo, fomos informados por um coronel das FAA que os técnicos
de desminagem tinham encontrado um tanque “oliphant” abandonado pelos
sul-africanos. Vamos lá! O General Nando Cuito não autorizou a nossa ida porque
aquela colina tinha minas por todo o lado e era muito perigoso. Dei uma de
repórter sedento de acontecimentos e disse-lhe que não tinha ido ao Cuando
Cubango fazer turismo. O “
O general voltou a negar mas eu
fui convincente e ele aceitou. Mas pôs uma condição: Eu vou com os jornalistas.
E lá fomos. O técnico de desminagem ensinou-nos a regra básica: Quem vem atrás
de mim põe os pés onde eu ponho. Quem vem atrás faz o mesmo, até ao último
homem da fila. Cumprimos. Parecíamos camaleões, andando pé ante pé. Mas
chegámos à mata que se fechou à volta da máquina de guerra alemã, gentilmente
fornecida pelo governo da Alemanha ao regime racista de Pretória. O “
No meio da mata, o técnico
disse-nos que um quilómetro à frente tinham encontrado um amplo cemitério onde
foram enterrados militares da UNITA e da África do Sul falecidos
A guerra acabou em 2002, é verdade. Mas os seus efeitos ainda hoje se fazem sentir, em todos os domínios e particularmente no social e económico. Não cobrem ao Executivo o que não pode dar. Não lhe exijam que garanta o que não pode garantir. Luanda é uma cidade “minada”. A doutrina de Savimbi era esta: Vamos criar a vida impossível às populações nos kimbos. Fogem todos para as vilas. Vamos tornar a vida impossível às populações nas vilas. Fogem todos para as cidades. Vamos tornar a vida impossível às populações das cidades do interior. Fogem todos para Luanda. Depois é só esperarmos que rebente a bomba atómica social e tomamos o poder.
É preciso retiar de Luandas a população que está a mais na capital e foi empurrada, pela força das armas, pelos sicários do Galo Negro. Mas para isso é preciso criar condições nas suas terras de origem. Isso, o governador da capital não pode fazer. O Executivo, provavelmente, também não. Ainda decorre a desminagem. Ainda não foram recuperadas as infra-estruturas nas vilas e cidades do interior. E em muitas, nunca existiram. Já ouviram falar do colonialismo? Tudo precário ou inexistente no que diz respeito ao bem-estar das populações. Tudo bem organizado na repressão e na exploração da mão-de-obra escrava.
Os países que viveram guerras, mais ou menos longas, demoram anos a atingir a normalidade e o equilíbrio social. A guerra colonial, entre 1961 e 25 de Abril de 1974, devastou o tecido social português. A ditadura fascista produziu analfabetos em quantidades industriais. A economia estava de rastos. A Revolução do Movimento das Forças Armadas deu ao Povo Português um suplemento de alma. Mas Mário Soares e seus capangas, rapidamente empacotaram o processo revolucionário e o país engrenou de novona marcha-atrás. E assim está. Já volto ao tema.
A África do Sul é o país mais industrializado de África e um dos mais industrializados do mundo. A economia está de rastos. A tacha de desemprego atinge números assustadores. Só o ANC, com o seu prestígio conquistado na luta contra o apartheid, consegue impedir tremendas convulsões sociais. Mesmo assim, todos sabemos que recentemente o país registou gravíssimas revoltas populares e saques, que causaram mortos e prejuízos de biliões de rands. Para os sul-africanos, a guerra acabou com o Acordo de Nova Iorque, em 22 de Dezembro de 1988, 14 anos antes de Angola!
Regresso a Portugal. Os capangas de Mário Soares, com o pretexto do combate ao terrorismo, prenderam Otelo Saraiva de Carvalho, o comandante do 25 de Abril. Acaba de sair o livro (Âncora Editora) Otelo Saraiva de Carvalho – acusação e absolvição - O Projecto Global e as FP-25 de Abril”, de José Mouta Lis e Romeu Francês. Quando o comandante da Revolução dos Cravos faleceu, os Media portugueses, sem excepção, noticiaram que ele tinha sido condenado. Não, indultado. Não, amnistiado. Só mentiras. Nem na hora da morte lhe perdoaram ter derrubado o fascismo e o colonialismo. Leiam esta verdade, publicada no livro:
“ a) – Nenhum tribunal provou que Otelo pertencesse à organização FP-25 de Abril;
b) – Otelo nunca foi condenado em sentido absolutório, não houve Trânsito em Julgado no julgamento de Monsanto, que foi anulado e, mais tarde no Tribunal de Boa-Hora, onde foram julgados os crimes atribuídos às FP-25 Abril, Otelo e os seus companheiros da FUP foram absolvidos;
c) – Otelo não foi libertado por efeito da Amnistia ou de qualquer Indulto, mas sim em consequência da Nulidade da Pronúncia declarada pelo Tribunal Constitucional que implicou o estatuto de preventivos aos arguidos e, em consequência, a sua libertação por excesso de prisão preventiva.
A Amnistia foi aprovada mais tarde e não teve qualquer incidência na libertação de Otelo e de outros elementos da FUP. Conclusão: O terrorismo que se pretendeu associar à imagem de Otelo, não tem qualquer fundamento jurídico. Otelo nunca foi condenado em sentença absolutória em todo o processo e nunca nenhum Tribunal provou que pertencesse à FP-25 Abril”. Estes “democratas” colonialistas são perigosos!
*Jornalista
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