A irmã do antigo Presidente Kumba Ialá desconsidera todas as anteriores tentativas de governação lideradas por homens e acaba de criar o Movimento Social Democrático para dar mais poder às mulheres da Guiné-Bissau.
Dar vez e voz às mulheres, educar e instruir os jovens e as crianças são algumas das motivações que levaram Joana Kobde Nhanca, irmã do falecido ex-Presidente Kumba Ialá, a criar o seu próprio projeto político. O Movimento Social Democrático (MDS) nasce como uma alternativa no meio de cinquenta partidos existentes na Guiné-Bissau, para resgatar o país das mãos dos homens e devolver a dignidade às mulheres.
A herdeira de Kumba Ialá desconsidera todas as anteriores tentativas de governação lideradas por homens e diz que nada mudou nesses cinquenta anos de vida política do país. E afirma estar cansada de acompanhar "políticos negociantes" e aplaudir propostas infundadas.
O MSD, a voz da tabanca (comunidade), quer entrar no cenário político guineense já com uma fasquia alta: Joana Nhanca garante que o movimento está preparado para concorrer em todas as eleições, a começar pelas próximas legislativas de 18 de dezembro.
A DW África entrevistou a fundadora do novo movimento político, que manifesta interesse em candidatar-se ao cargo de chefe do executivo guineense.
DW África: O que a motivou enquanto mulher a criar o Movimento Social Democrático?
Joana Nhanca (JN): O primeiro motivo é porque os partidos políticos nunca apostam nas mulheres para cargos de liderança e nem as incentivam a participar na vida política. E o que vejo são homens que não levaram o nosso destino a nenhum lugar seguro. O nosso objetivo principal é trabalhar para ver a mulher ali no nosso congresso. A nossa proposta é ajudar aquelas mulheres que realmente que não entendem nada para que possam entender e integrar no sistema e dar o seu contributo nas tomadas de decisões.
DW África: E como poderá o MSD destacar-se entre os demais 50 partidos na Guiné Bissau, na sua maioria liderados por homens?
JN: O que eu estou a ver aqui na Guiné-Bissau para mim não serve. Os homens dominam tudo há muitos anos, e mesmo assim perderam o controle da situação. Vou confrontar esses homens porque o nosso povo está a morrer de fome. A nossa proposta é formar as mulheres e criar meios para a sua emancipação e desafiá-las a liderar. O nosso movimento vem da comunidade e quer trabalhar para a comunidade a pensar no interesse coletivo sem excluir ninguém.
DW África: Disse que o MSD já está preparado para a sua estreia, para já nas próximas legislativas. Está confiante na estratégia de mobilização das mulheres e na sua potencial candidatura ao cargo de primeira-ministra?
JN: Eu posso candidatar-me sem nenhum receio. Mesmo as mulheres que não sabem ler têm lugar neste projeto. As mulheres que estão todos os dias nas comunidades e conhecem as necessidades do povo. As chefes de família que gerem muito bem a pouca economia e estão preocupadas em colocar os filhos na escola. Só elas seriam capazes de pensar num bem comum numa Guiné Bissau onde todos tem os mesmos direitos e as mesmas oportunidades.
DW África: Não só as mulheres, mas também os jovens e as crianças serão prioridades deste partido, a começar por reformas na educação. Há muito que começou a trabalhar?
JN: Eu já fiz muitas coisas lá na tabanca. Construí uma escola e um posto sanitário em duas aldeias sem recursos do Estado. Eu estou todos os dias na comunidade, conheço as fragilidades da minoria. Estou sempre com os homens e as mulheres do campo, também com os jovens que não têm oportunidades de estudar ou de se formar enquanto o tempo passa.
DW África: Ser irmã do falecido ex-Presidente Kumba Ialá é uma vantagem ou uma responsabilidade?
JN: Eu sou a herdeira dele em tudo, na forma de ser e de pensar. Estive com ele nas comunidades e conheci os seus ideais. É por isso que a luta continua e o povo é sempre a prioridade. É uma herança que não posso negar e que me dá motivação para continuar.
Joana Nhanca avança que dentro de quinze dias o partido deverá legitimar os seus órgãos junto ao Supremo Tribunal.
Diz ainda que apesar dos poucos recursos, já está a preparar a sua participação nas próximas eleições legislativas de 18 de dezembro e vai concorrer em todos os círculos.
Ariana Miranda | Deutsche Welle
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