sábado, 15 de outubro de 2022

AUSENTES CORAJOSOS E PRESENTES PEQUENINOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução que condena os referendos da Federação Russa em várias regiões da Ucrânia e a anexação desses territórios. Votaram a favor 143 países, cinco votaram contra, 35 abstiveram-se e dez não foram votar. O documento em votação foi apresentado pela Albânia, país campeão das liberdades e da independência. Por trás, movendo os cordelinhos, esteve a União Europeia, um instrumento de guerra usado pelos EUA/NATO contra a Federação Russa. A própria ONU é hoje um instrumento dessa guerra. 

Na hora da votação já todos os estados-membros sabiam, pela palavra do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que se “a Rússia ganhar a guerra a NATO é derrotada”. Portanto, isso de Ucrânia é um eufemismo. A guerra é mesmo entre o braço armado das potências ocidentais e a Federação Russa. Pelos vistos, 143 países torcem pela vitória dos colonialistas, genocidas e ladrões de vidas e recursos alheios. O mundo está mesmo muito perigoso. Os roubados amam os ladrões. Os espoliados adoram os espoliadores. Os assassinados aplaudem os assassinos. Os escravos endeusam os amos. Condenam quem ouse libertá-los. 

Hoje Agostinho Neto de seus companheiros de luta seriam chicoteados na Mutamba por ousarem lutar pela liberdade. Por terem levantado armas contra a NATO nas matas do Leste, dos Dembos e do Maiombe. Nas aldeias, vilas e cidades angolanas. Por terem derrubado o império colonial português. Por terem conduzido o Povo Angolano à Independência Nacional. José Eduardo dos Santos ousou combater pela soberania nacional e a integridade territorial. Como morreu nestes dias, foi atirado já morto para o porão de uma aeronave e desembarcado às escuras em Luanda, não fosse alguém saudoso da luta pela liberdade, ousar render-lhe homenagem, sem ordem dos amos.

Para ninguém ter dúvidas, foi proposto que a votação fosse secreta. Nem pensar! Se assim fosse, somados os votos, nem os EUA votavam a favor! Assim, os escravos votaram como mandaram os amos. Cinco votaram contra e 35 abstiveram-se. É preciso ter muita coragem, mostrar, às claras, ante chusmas de agentes e bufos dos serviços secretos, que não aceitaram os ditames dos donos. 

Mais valor, tiveram os dez que não participaram naquele exercício de indignidade e submissão. São Tomé e Príncipe está entre esses. Para resgatar a honra perdida de Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau e Timor Leste. É mesmo verdade. Está a nascer uma noa ordem mundial.

E agora como vai ser? Não interessa. A Federação Russa vai mesmo anexar as regiões. E só pode ganhar a guerra porque as suas garras atómicas garantem esse desfecho. A NATO (ou OTAN) está a dar o último suspiro. Moçambique, apesar de lhe terem soltado os cães do terrorismo, mostrou que ainda tem uma reserva de dignidade. A política externa angolana é ditada pelo Rafael Marques que não brinca em serviço. Quando dá as suas ordens aproveita e puxa as orelhas ao chefe! Para terem feito da Pátria de Neto o que fizeram, melhor fora que a mandassem para as alminhas!

E a UNITA? A direcção do Galo Negro nem uma palavra sobre estre triste episódio ocorrido no instrumento de guerra contra a Federação Russa que é a ONU. O mundo virado ao contrário. Fácil perceber porquê.

Savimbi alugou as armas aos racistas de Pretória. Para enganar os países africanos que o apoiavam, dizia que lutava contra russos e cubanos. Ontem na ONU Angola mais 142 países votaram contra os russos. Em Luanda, Adalberto, nem uma palavra!

A guerra após as eleições de 1992 só foi possível porque os EUA, Reino Unido, França e outras potências ocidentais armaram e municiaram a UNITA por intermédio da Ucrânia. Os dez anos de combate contra os bandidos armados devem-se a essa aliança com Kiev. 

O Bailundo era uma verdadeira basse aérea militar dos ucranianos! Não contentes com isso, lançaram-se na construção de uma base de raiz no Andulo. Quando começou o descalabro, com a libertação protagonizada pelas tropas do heroico  general Simione Mukune, as Forças Armadas Angolanas encontraram a pista construída pelos ucranianos. Ali aterravam os aviões com as armas e partiam cheios de diamantes de sangue! Hoje Adalberto da Costa Júnior nem uma palavrinha de apoio aos nazis de Kiev. Mas João Lourenço fala ao telefone com Zelensky! O mundo dá muitas voltas.

Sobre a trágica votação na ONU só mais um pormenor. Dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) apenas o Brasil votou a favor dos amos de Washington. O facto de decorrer a campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais justifica este voto. 

A Guiné Equatorial, país da CPLP que já foi invadido por mercenários várias vezes para os amos roubarem livremente o petróleo, nem sequer foi votar. Não alinhou na iniquidade. Zelou pela dignidade e a honra de um estado soberano.

O embaixador de Zelensky na ONU, na hora da votação usou uns binóculos para apreciar os votantes. De facto, no momento de venderem a sua independência ficavam todos tão pequeninos que só potentes binóculos podiam mostrá-los. Pela primeira vez na sua História, Angola alinhou ao lado dos pigmeus da política e dos genocidas. Juntou a sua voz aos neocolonizados. 

Não admira. Uma propaganda do Governo de Angola ensina a agir quando se ouve o Hino Nacional. Então é assim. Toca o Hino, nós levantamo-nos e levamos a mão ao coração! Uma americanada infame. Já estão a treinar-nos para quando o governador-geral de Washington ou de Bruxelas mandar em Angola. Na ONU já somos o que se chama um pau mandado. Em casa, corremos o risco de regressar aos tempos do colonialismo puro e duro.

Grandes Povos só podem ter mesmo grandes governantes! Ou então ficamos todos pequeninos, batendo com a mão no peito. Vejam as imagens da Independência Nacional. E digam se alguém pôs a mão no peito quando subiu a Bandeira e tocou o Hino. Ninguém.

*Jornalista

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