Artur Queiroz*, Luanda
A comunicação está muito difícil. De mal a péssima. Isto só vai lá quando a comida estiver na mesa, as escolas e professores cheguem para todos, a saúde seja um direito respeitado e garantido, o trabalho com direitos e salário digno uma regra e nunca mais excepção. Façam isso e logo vão descobrir como a comunicação flui como a água que corre no Cuanza. No seu discurso final, já líder provincial do MPLA, Manuel Homem prometeu que vai fazer de Luanda novamente uma praça-forte do partido. Com que roupa?
O filho do Cacau divulgou um comunicado no qual apoia o Conselho de Administração da TAAG no conflito com o Sindicato dos Pilotos de Linha Aérea (SPLA) que se arrasta desde Julho. Um mês antes das eleições de 24 de Agosto. A maka envolve também o Sindicato do Pessoal Navegante de Cabine (SPNC). A comunicação é péssima. Aquilo é um lençol interminável e a meio já ninguém se lembra do que foi dito no início. Ainda bem, porque é um exercício acabado de cretinismo e estupidez natural. O melhor é esquecermos.
Os trabalhadores são tratados por “colaboradores” e o filho do Cacau confirma aquilo que os sindicalistas já tinham denunciado: A administração da TAAG e o Ministério dos Transportes usam e abusam da chantagem, da ameaça, do autoritarismo. Se Manuel Homem for capaz de empandeirar o ministro dos Transportes e quem mandas na companhia angolana de bandeira , talvez consiga fazer de Luanda, novamente, uma praça-eleitoral forte do MPLA. Mas não me parece que tenha poder para tanto. Este conflito laborar, que se arrasta há meses, teve influência pesada nos 55 por cento de abstenções e no elevado nível de votos brancos e nulos, no círculo eleitoral de Luanda.
Outro conflito laboral grave opõe a Angola Telecom aos trabalhadores, que estão em greve deste Junho! Os grevistas abdicam dos seus salários, durante meses, para fazerem valer os seus direitos e serem respeitados. Isto está a acontecer no país da União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (UNTA). Entre Setembro de 1974 e Setembro de 1975, os sindicalistas da central puderam-se à frente de todos os conflitos laborais. Com eles aprendi que “a luta dos trabalhadores é sempre justa e as greves são a suas armas mais eficazes”.
O filho da Cacau mais as administrações da TAAG e da Angola Telecom terão alguma vez aprendido esta lição? Divido. Eles nasceram a saber tudo quanto é banditismo político e não precisam de saber mais nada. O problema é que as praças fortes-eleitorais do MPLA vão ficando mais pequenas até serem fraquinhas. Duvido que Manel Homem seja capaz de remover esse pessoal dos tachos. Basta dizerem dia sim dia sim que graças ao Presidente João Lourenço em Angola está tudo óptimo. É o poder da palavra dita no momento certo!
O meu colega Catano Júnior publica hoje no Jornal de Angola um texto notável cuja leitura recomendo vivamente. O título é “A Prosperidade do Jornalismo”. Leiam esta parte: “Dificilmente o Jornalismo encontra brecha que o leve à prosperidade, em lugares, no Mundo, onde, por exemplo, o profissional, quando não é dispensado em nome da redução de custos, tem o salário equivalente a 50 euros por mês(…)O mais provável é o produto final do trabalho jornalístico ver florescida a ‘Verdade Alternativa’, uma profecia de Donald Trump que ameaça concretizar-se”.
Quando entrei pela segunda vez no Jornal de Angola consultei a folha salarial. Jornalistas, artistas e operários gráficos, pessoal de apoio, tinham salários rastejantes. Um dos melhores profissionais da Redacção Central ganhava pouco mais de 50 euros e era o único amparo dos seus irmãos menores. Neste quadro, a formação era uma espécie de piada de mau gosto. O director-geral (ainda não existia Conselho de Administração) a directora dos recursos humanos e o director financeiro compreenderam os meus argumentos e em poucos meses triplicaram os salários. Eram distribuídos prémios de desempenho. Foram garantidas prestações financeiras a quem vivia problemas sociais graves. Só depois partimos para a formação a sério.
O filho do- Cacau deve pensar que um piloto de linha aérea é uma espécie de candongueiro com farda, galões nos punhos do casaco e asas no peito. Angola tem muitos e bons pilotos. Teve de formá-los para participarem na guerra pela soberania nacional e a integridade territorial. Uma vez desmobilizados, foram trabalhar na TAAG e outras companhias aéreas. Se os pilotos e pessoal de voo da TAAG estão a reivindicar melhores condições, têm razão.
A sua luta é sempre justa. A greve é a arma mais importante na luta contra os patrões. A Angola do futuro quer mesmo atirar ao lixo os seus quadros para satisfazer as negociatas e os caprichos ridículos do filho do Cacau e sua tropa de choque sempre à mama? Cuidado. A praça eleitoral de Luanda pode enfraquecer ainda mais.
Um exemplo. O governo português conseguiu um acordo com as associações patronais e os “amarelos” da UGT, central sindical dos patrões e do PS mais PSD. A CGTP-Intersindical (sindicalistas a sério) recusou assinar porque seria aceitar o empobrecimento de quem trabalha. E já está marcada uma manifestação nacional de protesto.
A inflação este ano deve rondar os dez por cento. Em 2023, ninguém sabe mas os peritos na matéria dizem que nunca será inferior a 13 por cento. Os “aumentos” salariais em Janeiro são cinco por cento. A inflação acumulada atinge os 23 por cento. Isto quer dizer que não há qualquer aumento salarial. Pelo contrário. Os trabalhadores portugueses vão perder 18 por cento dos seus salários. Como os preços aumentaram brutalment6e, desde a água à electricidade, dos combustíveis ao pão, da carne ao feijão temos o quadro da tragédia desenhado por um governo socialista. Querem fazer o mesmo em Angola?
Cuidado, porque depois as praças eleitorais do MPLA passam para a abstenção ou mesmo para os bandoleiros da política, acantonados na UNITA. Não adianta repetirem que está tudo bem graças ao Presidente João Lourenço. Porque os trabalhadores da Angola Telecom e da TAAG gritam que está tudo mal.
Por dever de ofício, sou obrigado
a ver os noticiários da TPA. Hoje, o serviço noticioso das 20 horas abriu com
uma informação (eles chamam-lhe nota) bombástica. Em Benguela uns sujeitos já
morrera m porque tomaram viagra
*Jornalista
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