Como acabar com o conflito na província moçambicana de Cabo Delgado, cinco anos depois dos primeiros ataques? Investigador Borges Nhamirre diz que as tropas devem continuar no terreno, mas é preciso também dialogar.
Há precisamente cinco anos, quando os primeiros ataques de um grupo armado desconhecido tiveram como alvo três postos da polícia da vila de Mocímboa da Praia, no norte de Moçambique, começou um novo capítulo na história do país.
O norte moçambicano é uma região é rica em recursos naturais, como o gás. Mas os projetos tiveram de parar com o avanço dos terroristas. Os ataques levaram à fuga de cerca de um milhão de pessoas, segundo os dados mais recentes do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). 4.000 pessoas foram mortas.
Há mais de um ano, as forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) juntaram-se ao Exército moçambicano no combate aos terroristas e começaram a libertar territórios ocupados. Mas recentemente houve uma novaonda de ataques noutras áreas.
Em entrevista à DW, o investigador moçambicano Borges Nhamirre, do Centro de Integridade Pública (CIP), diz que é preciso continuar a apoiar as ações militares para conter a ameaça terrorista. Apela, no entanto, à abertura de um canal de diálogo com os insurgentes.
"É importante aprendermos
com a nossa história para acabar com este conflito
DW África: Após cinco anos de ataques no norte de Moçambique, como encara a ameaça terrorista no norte do país?
Borges Nhamirre (BN): A
ameaça ainda é muito grande, continua bastante presente – tanto para as forças
do Governo e aliados, que estão
DW África: O ministro da Defesa moçambicano, Cristóvão Chume, afirmou na segunda-feira, na sequência dos ataques em Nampula, que não há um alastramento do conflito no norte do país. Como entende este novo posicionamento do Executivo?
BN: Desde o início [do
conflito] que o Governo tentou nivelar por baixo os ataques
DW África: Acredita que a tentativa de suavizar essa questão tem a ver com os interesses do gás? Ou seja, o Governo tenta transmitir uma imagem de que há normalidade quando não é esse o caso?
BN: Acredito que sim, que é uma tentativa de mostrar aos investimentos que o problema não é maior [do que realmente é]. Mas não só, talvez seja sobretudo um esforço de tentar dizer que a situação é igual em toda a província de Cabo Delgado, algo que não é verdade. Neste momento, há mais ataques em zonas distantes dos projetos de gás. Os distritos de Palma e Mocímboa da Praia estão relativamente mais seguros, e isso é resultado de uma abordagem do Governo para afastar os ataques da região onde há recursos muito importantes para o desenvolvimento económico do país. Então, acredito que o Governo esteja a querer esconder essa realidade, de que há uma região mais propensa aos ataques, começando em Macomia, do que propriamente em Palma ou Mocímboa da Praia, onde a situação está mais calma.
DW África: Que avaliação faz da operação militar de combate ao terrorismo no norte de Moçambique?
BN: A intervenção das forças de outros países africanos foi importante para reduzir o número e intensidade dos ataques e para o chamado "equilíbrio de poder" entre as duas partes – antes da chegada das tropas estrangeiras, os insurgentes tinham muito poder. Mas nenhum conflito militar daquela natureza se resolve só com o poder das armas. Sendo assim, era importante que tivesse havido uma aproximação do Governo para dialogar com os atacantes, algo que não aconteceu.
DW África: Como solucionar este problema?
BN: É importante que,
enquanto se apoia as ações militares para reduzir o poder dos insurgentes, haja
também uma aproximação para o diálogo. É necessário encontrar uma saída que não
seja por vias militares. Este conflito não tem saída por vias militares. Depois
de 16 anos brutais de guerra, em que a RENAMO foi chamada de "terrorista",
só quando houve diálogo é que alcançámos a paz. É importante aprendermos com a
nossa história para acabar com este conflito
Tainã Mansani | Deutsche Welle
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