Artur Queiroz*, Luanda
O Jornalismo só se realiza numa lógica de contrapoder e tem de ser um exercício permanente de grande rigor. Fora deste quadro temos falsificações, imitações grosseiras ou mera propaganda. Quando os jornalistas vão para a cama com os detentores do poder político e económico vendem a sua honra profissional e não passam de baratas ocas à semelhança do bicharoco da Metamorfose de Kafka.
Dito isto, o Jornalismo está morto mas ninguém tem a coragem de cremar ou enterrar o cadáver, pelo que tresanda a podre, desde o Polo Norte à Terra do Fogo. Como dizia o poeta, a festa acabou, a luz apagou e o povo sumiu.
O venerando juiz conselheiro Daniel Geraldes, do Tribunal Supremo, tornou público um acórdão no qual declara estar de acordo com o Ministério Público quando propõe o arresto dos bens da empresária Isabel dos Santos no valor de mil milhões de dólares. Mas deixa uma ressalva: Se a arguida for absolvida, tem de ser tudo devolvido. Não se esqueçam! Assim seja.
Não vou pronunciar-me sobre o processo e muito menos sobre o douto acórdão. Mas tenho uma palavra a dizer sobre a forma como a TPA deu a notícia.
A bandeira do Presidente João Lourenço é o combate à corrupção. Logo, tudo o que venha da Presidência da República ou flutue no seu mastro é apresentado pelos Media públicos, na íntegra. Um erro grosseiro, porque o acórdão, sem mediação técnica de um jornalista, não passa. Ninguém ouviu aquele arrazoado ao fim de 90 segundos. Logo, a voz falou para o boneco.
O problema mais grave está na igualdade de tratamento. O Ministério Público é uma parte. O acórdão do juiz conselheiro Daniel Geraldes chancelou a posição dessa parte. Mas ainda não é o julgamento. Falta ouvir a outra parte, particularmente pela TPA como mandam as regras do bom Jornalismo.
Quando a empresária Isabel dos Santos contestar a posição do Ministério Público, os argumentos vão ser apresentados, na íntegra, pela TPA e os outros Media públicos? Uma pergunta escusada porque a resposta é não. Tenho fundadas dúvidas de que lhe seja dada publicidade nem que seja num parágrafo.
O combate à corrupção não pode ser feito corrompendo os princípios basilares do Jornalismo. Fazendo dos jornalistas meros papagaios ou amanuenses. Esse é o caninho directo para o esmagamento da Liberdade de Imprensa. E para a transformação do Jornalismo numa espécie de voz do dono, sendo que o patrão que vier daqui a cinco anos pode não estar de acordo com o assassinato do Jornalismo ao vivo e em directo.
O Estado Angolano gasta milhões por dia, para manter os Media públicos. É justo que exija, como contrapartida, um Jornalismo honrado, isento e satisfazendo os princípios éticos e deontológicos que obrigam todos os jornalistas.
O mundo está cada vez mais perigoso. De Moscovo vem um ultimato: Ou a Ucrânia desarma e desnazifica voluntariamente ou as forças armadas da Federação Russa tratam disso. Se alguém pensava que a situação naquele país era difícil, terrível, destrutiva, andava longe da realidade.
Pelos vistos o que aí vem será mil vezes pior. Mas isso que importa aos traficantes de armamento? A factura já vai em 100 mil milhões de euros! Pobre povo ucraniano que vai pagar a conta até à eternidade. E ninguém tem pena.
Ninguém quer perguntar aos generais que ganharam a guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial como resolveram a ameaça que vinha da RDC e do Ruanda naqueles anos de morte e sofrimento? O melhor é perguntarem.
As embaixadas da República
Democrática do Congo, Estados Unidos da América, França, Bélgica e Alemanha já
fecharam
Uns quantos notáveis foram chamados a pronunciar-se sobre o primeiros100 dias de mandato do Presidente João Lourenço. Gente com cabeça tronco e membros respondeu. Como se isto de governar fosse vender decisões políticas ao cento. As contas fazem-se no fim. E em quase 2000 dias, os primeiros 100 nem dão para o aquecimento. Nada de pressões ilegítimas. Até porque mesmo sem pressão, há decisões que são para esquecer ainda que haja muito tempo para corrigir o que é mal feito, mal pensado e mal decidido.
O ano está prestes a acabar. O ano de 2022 foi bom para Angola quanto mais não seja porque o MPLA ganhou as eleições com maioria absoluta. O eleitorado atirou com a “frente patriótica” da UNITA para a lixeira. Querem mais?
O ano que vai entrar dará a resposta. Mas eu respondo já. O Povo Angolano merece mais e melhor. Muito mais e muito melhor. Tem a palavra o MPLA, a sua direcção e os seus militantes.
*Jornalista
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