terça-feira, 27 de dezembro de 2022

FEDERAÇÃO RUSSA IGUAL AOS RACISTAS DE PRETÓRIA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O português é a língua oficial em Angola. A empresa Refriango apresentou hoje na TPA o projecto “Professor Pascoal” dirigido às crianças das escolas. Mas na propaganda do acontecimento está escrito Pascual com “u” bem aberto. O ministro da Cultura e do Turismo, antes de ser chamado para o Executivo, denunciou publicamente que os professores angolanos mal sabem ler e escrever. Pelos vistos, os empresários que já foram marimbondos e agora são caranguejos ou vampiros, também são analfabetos. Projectam o seu analfabetismo nas criancinhas que aprendem a ler e escrever. São os efeitos da liberdade de expressão.

Maria Eugénia Neto concedeu-me uma entrevista que, à cautela, publiquei texto e som, não fossem dizer que era invenção. Uns dias depois, o Novo Jornal publicou a peça sem o nome do autor. Sobrinhos e Madalenos devem ter ordenado aos criaditos para fingirem que eu não existo. Nem hesitaram em censurar o meu nome. O director do pasquim foi à manifestação do Sindicato dos Jornalistas exigir Liberdade de Imprensa. Só ele pode censurar e logo um camarada de profissão.

Novo Jornal e Expansão pertencem ao Grupo Nova Vaga. Consultei a ficha técnica para me informar sobre os accionistas e conselho de administração da empresa de Media. Nada. Enviei um email ao director do jornal Expansão, João Armando, para me facultar esses dados. Nem respondeu. Quem vive de cócoras ante marimbondos, caranguejos ou vampiros da grandeza de madalenos e sobrinhos, fica ridículo andar aí pelas ruas reclamando liberdade de imprensa. Estás desculpado, rapaz. 

O Novo Jornal publica hoje, na secção CULTURA, uma notícia trágica: O Chiquinho Boca Grande, que é capaz de meter na boca uma lata de gasosa da Refriango, caiu na mendicidade e está muito doente. Ele consta no Guiness como o homem com a maior boca do mundo. É isso mesmo, senhor director, ter boca grande é Cultura, Turismo e tudo o mais que vossa excelência deseje. Mais um exemplo flagrante de Liberdade de Imprensa. 

A História Contemporânea de Angola é Cultura, sim. Sua excelência o Presidente João Lourenço, numa entrevista à Voz da América, fez uma declaração histórica. O agente da secção da CIA interrogou: Angola votou a favor de uma resolução na ONU condenando a anexação de quatro províncias ucranianas. Esta condenação e estas suas visitas a Washington indicam um resfriamento da sua relação com Moscovo ou uma mudança de orientação política?

Resposta de João Manuel Gonçalves Lourenço, líder do MPLA e Presidente da República:

“É preciso que fique claro que nós somos um país soberano, e um país soberano define a sua política externa. Portanto, como país soberano, nós entendemos que devíamos condenar a anexação daquelas quatro regiões da Ucrânia, porque Angola é dos países que atravessou um período mais longo de guerra na história de todos os povos. Nós tivemos 27 anos de conflito armado, portanto nós sabemos o que é uma guerra.

Nós fomos vítimas de uma agressão externa, ou seja, de uma invasão militar, por parte do regime do apartheid. Na altura, foi a então União Soviética quem nos forneceu armamento, equipamento, artilharia, aviões, tanques, etc., que nos permitiram fazer frente ao todo poderoso exército sul-africano e pará-los ali no Cuito Cuanavale e, como se não bastasse, forçando-os a assinar os já conhecidos Acordos de Nova Iorque, que levaram à retirada deles do nosso território, a libertação de Nelson Mandela, independência da Namíbia. E digo isso por quê? Para dizer que, se nós lutamos contra os invasores, entendemos que todos os outros povos também têm o mesmo direito de o fazer. Não entendemos como é que quem nos ajudou na altura a fazer isso, tenha anexado quatro regiões do país vizinho. Nós votamos a favor dessa resolução que condena a anexação destas quatro regiões de forma consciente, de forma soberana. Não fomos forçados a fazê-lo por ninguém, por absolutamente ninguém. Entendemos que a postura mais correcta seria aquela e assim aconteceu”.

João Lourenço tem uma licenciatura em História, conferida por uma Academia Militar da Federação Russa. Eu quando estou confuso também confundo kitetas com kitatas. Mas depois recomponho-me e sou capaz de distinguir as funções de cada uma. Com o devido respeito sugiro ao historiador que tire os manuais dos caixotes e faça uma revisão da matéria dada.

A Ucrânia não é Angola. E sendo um país vizinho da Federação Russa, num passado recente fez parte da União Soviética. Nesse tempo o mundo tinha dois blocos militares, OTAN (ou NATO) e Pacto de Varsóvia. Quando foi extinta a URSS, também foi extinto o bloco militar que agrupava os países do Leste da Europa. E foi demolido o Muro de Berlim, decisão que levou à unificação da Alemanha. 

Nessa época, os líderes ocidentais deram como desculpa para não acabarem com a OTAN (ou NATO) dificuldades operacionais, já que as decisões no seio do bloco, exigem a unanimidade dos estados-membros. Mas assumiram este compromisso: “A NATO não passa um palmo para lá das fronteiras da Alemanha”. 

Como o senhor historiador João Lourenço deve saber, o bloco militar ocidental (braço armado dos EUA, Reino Unido e União Europeia) instalou bases militares na Polónia, na Roménia, na Lituânia, Estónia e Letónia, além de outros países do Leste europeu. Os países bálticos têm os canhões da NATO apontados à cabeça da Federação Russa. 

Em 2014, a Ucrânia tinha um presidente e um governo eleitos. Hordas nazis, apoiadas pela União Europeia e o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) desencadearam um sangrento golpe de estado que culminou com uma guerra civil nas chamadas repúblicas independentistas. A situação melhorou com o Acordo de Minsk mas algum tempo depois piorou. 

Hoje sabemos pela senhora Ângela Merkel que a França e a Alemanha arrastaram a Federação Russa para essa solução, porque queriam ganhar tempo para armar a Ucrânia e colocar no país mais canhões apontados ao nariz de Moscovo. Um pormenor importantíssimo: As populações do Leste da Ucrânia são russas. Falam russo. A sua cultura é russa. Quanto à Crimeia, ouso aconselhar o historiador João Lourenço a ler um livro de minha autoria no qual conto mil pormenores sobre o Príncipe Potemkine, o favorito da Czarina Catarina e que transformou um deserto na terra prometida onde corria o leite e o mel.

O actual presidente da Ucrânia, senhor Zelensky, uma vez eleito anunciou imediatamente que ia pedir a adesão à OTAN (ou NATO) e à União Europeia. De Moscovo veio um sinal de alarme: Isso é uma ameaça existencial à Federação Russa! Ignoraram os avisos. Agora está em marcha a “operação especial” que tem como objectivo desarmar e desnazificar a Ucrânia. O que tem isto a ver com a invasão das forças do regime de apartheid a Angola?

Sua excelência o Presidente João Lourenço pode esclarecer a opinião pública sobre o seguinte cenário. As autoridades da Namíbia, amanhã, começam a instalar entre Calueque e a Luiana, lançadores de mísseis balísticos, armados com ogivas nucleares. A presidência e o Governo da República Democrática do Congo iniciam a instalação, na fronteira de Cabinda, na fronteira de Kimbata e na fronteira do Dilolo rampas de lançamento de misseis com ogivas nucleares, apontados à Cidade Alta. O que vai fazer? Espero que não entregue as chaves do palácio presidencial sem luta.

O Presidente João Lourenço deu ordem aos seus ajudantes para transformarem os criminosos golpistas do 27 de Maio de 1977 em heróis e os heróis que os enfrentaram e derrotaram, em criminosos. Vou fazer uma confissão. Pensei que foi uma atitude destinada a desonerar a União Soviética da sua implicação no golpe, ao lado dos “nitistas”. Eu jamais esquecerei que Moscovo deu corda e muito gás aos golpistas.

Afinal estava enganado. O Presidente da República de Angola, o líder do MPLA, teve a ousadia, em Washington, numa conversa com a Voz da América, instrumento da CIA, de comparar a Federação Russa com o regime racista de Pretória. E justifica o seu voto na ONU com essa comparação insultuosa. 

O Savimbi alugou as armas aos racistas sul-africanos mas dizia que combatia russos e cubanos. Quais foram os negócios que João Lourenço fechou em Washington, não sei. Mas é óbvio que está pronto a combater russos e chineses, com as armas que vai comprar ao estado terrorista mais perigoso do nundo (EUA). Como eu gostava de ouvir, ver ou ler uma reacção a estes sucessos, por parte da direcção do MPLA. Face ao silêncio ensurdecedor, falo eu. Baixinho.

*Jornalista

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