Luciano Rocha* | Jornal de Angola | opinião
Provérbios há a contrariarem amiúde as regras também elas com excepções que as contradizem como aquele, entre tantos, que proclama que “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”.
A crença no adágio levou muitos amigos do que não era deles a verem, durante períodos mais ou menos prolongados, "o sol atrás das grades”, eufemismo para designar prisão sempre desigual as excepções confirmam a regra - consoante o tamanho, ou não, do surripiado.
O chavão "o sol quando nasce é para todos”, com carga ideológica acentuadíssima, também é contrariado, entre diversas conjunturas, dentro dos presídios, pois as condições dos enclausurados variam conforme o volume do roubo: quanto menos avultado, menores ou nenhumas as benesses, sentir e poder avistar o astro-rei é uma delas.
Afinal, como se comprova amiúde, quando ele nasce... e se põe, mesmo dentro de prisões, é discriminatório, revela-se mais igual para uns do que para todos os outros.
A gatunagem de "colarinho branco” tem, excepção aos que puseram a totalidade do roubo em paraísos fiscais, dinheiro a rodos, para dar, vender e... comprar. Ao contrário do pilha-galinhas, que, regra geral, rouba para matar a fome. Os primeiros, por razões óbvias, tem melhores celas e tratamento. Fora delas, então, é o que se sabe: o astro-rei é comprovadamente aconchego dos endinheirados, entre os quais se contam larápios dos dinheiros dos povos. Podem escolher aproximar-se ou afastar-se dele, a bordo de paquetes ou iates de luxo, mesmo de supersónicos aviões, dentro dos quais calor e frio são palavras sem significado. Apesar disso, há sempre modos de "aquecimentos” e "refrescamentos” em forma de bebidas espirituosas e borbulhantes.
O sol, manda a verdade escrever, também chega aos milhões incontáveis de desvalidos do Mundo inteiro, mas para os castigar por culpas que não têm. Em plenas estações quentes, quando o calor, não raro é asfixiante, independentemente da parte do Globo em que se manifeste, alveja impiedosamente telhados de zinco de casa sem janelas, paredes de tábuas e papelões apanhados nos lixos. Igualmente, em corpos de desempregados de todas as idades, idosos sem reformas, jovens com presente hipotecado, crianças guardiãs delas elas próprias a desmentirem quem afirma que o futuro lhes pertence.
Os endinheirados a maioria deles com origens modestas e governantes de países que elas servem e dos quais se servem, numa espécie de "pescadinha de rabo na boca” - são os responsáveis pelas elevadas temperaturas que assolam o Mundo, com as consequências sobejamente conhecidas e têm vindo a agravar-se, pondo em risco a sobrevivência do ser humano. Mas, também da fauna e flora, que ele destrói. Apenas por diversão e dinheiro.
O calor mata, é verdade, mas o frio também. Os mais fustigados, para não variar, são os deserdados de todas as sortes, mesmo que o saudoso Adoniran Barbosa tenha repetido, vezes sem conta, em "Saudosa Maloca”, que "Deus dá o frio conforme o cobertor”. É falácia e das grandes. NZambi, daquela vez, não foi na cantilena do sambista e, pelo menos até à hora desta estória ser escrita, não esteve para "escrever direito por linhas tortas”, o que significa que até este provérbio foi contrariado.
Os provérbios são antigos, provavelmente desde que o homem existe. Resta saber com que objectivos começaram a ser propagados. É que a matreirice também não é nova, tal como a sede de riqueza a qualquer custo, bajulação aos poderes instituídos ou egoísmo.
Os adágios têm, normalmente, origem na sabedoria popular, mas, com frequência, são aproveitados por outros, que os interpretam à maneira e interesses deles, em prejuízo dos mesmos de sempre.
* Jornalista
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