quarta-feira, 15 de março de 2023

Acordo sobre submarinos nucleares EUA, Reino Unido e Austrália irrita China e Rússia

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu o primeiro-ministro australiano Anthony Albanese e o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak em San Diego, na segunda-feira, para apresentar parte do acordo AUKUS. O pacto trilateral estabelece que a Austrália receberá submarinos movidos a energia nuclear. China e Rússia não apreciaram a medida.

O acordo AUKUS representa o primeiro projeto da aliança de segurança conjunta norte-americana, britânica e australiana, anunciada pela primeira vez em 2021. O pacto fornecerá à Austrália pelo menos três submarinos movidos a energia nuclear da classe Virginia dos EUA.O AUKUS é constituído por várias etapas. Um dos pontos fulcrais será a produção e a operação britânica e australiana de uma nova classe de submarinos.

Os submarinos de nova geração, "desenvolvidos trilateralmente", serão construídos na Grã-Bretanha e na Austrália e incluem tecnologia norte-americana "de ponta".

No discurso de Joe Biden, foi destacado o "compromisso partilhado da aliança com um Indo-Pacífico livre e aberto".

Rishi Sunak sublinhou, por sua vez, que a parceria culminará com a Marinha Real do Reino Unido a operar os mesmos submarinos da Marinha australiana, barcos que partilharão os mesmos componentes e peças da Marinha dos EUA.

O acordo prevê também uma força de submarinos dos Estados Unidos e do Reino Unido posicionados na Austrália, para ajudar a treinar as tripulações australianas e reforçar a dissuasão na região do Pacífico.

Ler em Página Global: A Austrália está "plantando uma bomba-relógio" para sua própria paz e a da região

China recorda Guerra Fria

A China já denunciou este acordo e diz-se convicta de que o AUKUS viola o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Afirma que é um "caminho errado e perigoso", com "um sério risco de proliferação nuclear"

Para Pequim, “a transferência de equipamentos de armas nucleares de um Estado com armamento nuclear para um Estado sem armas nucleares é uma violação flagrante" do espírito do pacto.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, instou: "Pedimos aos EUA, Reino Unido e Austrália que abandonem a mentalidade da Guerra Fria e os jogos de soma zero, honrem as obrigações internacionais de boa fé e façam mais coisas que conduzam à paz regional e estabilidade".

Atualmente, o Tratado de Não-Proliferação nuclear reconhece apenas cinco países como estados detentores com esse tipo de armamento – Estados Unidos, Rússia, China, Grã-Bretanha e França. Nenhum outro estado que assinou o Tratado é admitido possuir submarinos nucleares.

Durante a cerimónia em San Diego, Biden tinha esclarecido que os submarinos são "alimentados por energia nuclear, não armados com energia nuclear". "Esses barcos não terão armas nucleares de nenhum tipo", afirmou. "Não vejo o que estamos a fazer como um desafio para ninguém", concluiu o presidente norte-americano.

Rússia e o tentáculo da NATO no Pacífico

Já esta terça-feira a Rússia veio acusar os Estados Unidos, a Austrália e o Reino Unido de orquestrar "anos de confronto" na Ásia, ao lançar a aliança para a produção de submarinos nucleares, noticiou a agência France Presse.

Para Moscovo, o programa de cooperação em submarinos nucleares anunciados para Camberra pode desencadear novos conflitos na região.

"O mundo anglo-saxão está a construir estruturas de bloco como o AUKUS, colocando uma infraestrutura avançada da NATO na Ásia e apostando seriamente em longos anos de confronto", criticou o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, num discurso em Moscovo.

Por sua vez, a Agência Internacional de Energia Atómica, pela voz do diretor-geral, Rafael Grossi, já alertou que se deve garantir "que do projeto não emana nenhum risco de proliferação".

Carla Quirino - RTP

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